Economia

Crise de 2012 será pior que a de 2008, diz Jim Rogers

Investidor fala com entusiasmo sobre a Ásia, mas espera uma crise pior para os Estados Unidos e a Europa

Jim Rogers (Wikimedia Commons/Gage Skidmore)

Jim Rogers (Wikimedia Commons/Gage Skidmore)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2013 às 08h28.

Nova York - O entusiasmo que o investidor americano Jim Rogers demonstra sempre que fala da Ásia é inversamente proporcional ao seu crescente ceticismo em relação aos Estados Unidos e Europa. "Vamos ter outra crise. Teremos mais problemas em 2012, 2013", disse, em entrevista por telefone de Cingapura. Segundo ele, a próxima crise será pior. "Será muito, muito pior porque os déficits continuam subindo cada vez mais. A América não será capaz de gastar tanto dinheiro, imprimir tanto dinheiro em 2012 e 2013 como fez em 2008 e 2009."

Para Rogers, a revisão de rating de bancos no mundo todo, anunciada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, é nada perto do que está por vir. Para ele, a situação é preocupante e a segurança, se é que é possível encontrá-la em momentos de crise, ainda está do outro lado do mundo, bem onde ele está.

Rogers, que é figura constante nos noticiários econômicos das TVs dos EUA justamente por não dourar a pílula ao fazer seus comentários e por já ter acertado por diversas vezes, ficou conhecido nos anos 70 ao fundar, com o então amigo George Soros, o Quantum Fund. Após dez anos no negócio, quando o portfólio do fundo já tinha valorizado mais de 4.000%, Rogers resolveu dar a volta ao mundo de moto e por duas vezes entrou para o Guinness World Records com suas viagens. Desde 2002, vive com a família em Cingapura. Abaixo, a entrevista:

Pergunta - Essa revisão dos ratings dos bancos pela S&P colabora para deteriorar ainda mais a confiança dos mercados?

Resposta - A S&P só está tentando alcançar a realidade. Eles têm estado tão errados sobre tantas coisas nos últimos 10 ou 15 anos! Não há dúvida de que os bancos na China estão em muito melhor forma do que os bancos nos Estados Unidos. Os bancos nos Estados Unidos têm problemas sérios olhando para frente e é hora de alguém, além da comunidade investidora, reconhecer isso.

P - Mesmo que não seja surpresa, não é uma boa notícia e as bolsas da Ásia estão reagindo mal nesta quarta-feira.

R - Se alguém nos mercados ficar surpreso com isso serão aqueles que não sabem nada sobre investir. Quem entende de investimentos sabe que os bancos americanos estão com problemas, eles sabem sobre os bancos europeus e sabem o que está havendo no mundo. Então, isso pode ser uma surpresa para algumas pessoas, mas para esses digo que nem deviam estar investindo.

P - Essa revisão mostra que o risco de outra crise financeira nos EUA e na Europa está maior?

R - Não por causa disso (da S&P) porque é totalmente insignificante no que se refere a termos ou não outra crise. Vamos ter outra crise. Aliás, a primeira crise nem terminou para muitas partes do mundo. Teremos mais problemas em 2012, 2013. Em 2002, tivemos uma desaceleração econômica. Em 2008, foi bem pior. A de 2012, 2013 será muito, muito pior porque os déficits continuam subindo cada vez mais. A América não será capaz de gastar tanto dinheiro, imprimir tanto dinheiro em 2012 e 2013 como fez em 2008 e 2009. O mercado não deixará.

P - Isso quer dizer que poderemos ver outro grande banco, como o Lehman Brothers, falir?

R - Claro que podemos. Não sei se será como o Lehman Brothers, mas veremos mais falências, falências graves. Já estamos vendo o colapso de governos, países, bancos, e veremos mais disso tudo.

P - O fato de a China ter bancos hoje com notas maiores do que a maioria dos seus rivais nos EUA significa que a confiança na China e Ásia de um modo geral tende a aumentar?


R - Claro que sim. Os maiores credores do mundo estão na Ásia atualmente: China, Coreia, Japão, Taiwan, Hong Kong e Cingapura. São nesses lugares que os ativos estão, é onde o dinheiro está. Mas não me entenda mal. A Ásia vai sofrer se os Estados Unidos e a Europa sofrerem. Se eles tiverem problemas, todos no mundo terão problemas. Mas é melhor estar em países credores do que em países com dívidas imensas.

P - O Federal Reserve vai pedir mais testes de estresse para os bancos americanos. Isso ajuda de algum modo, aumenta a transparência? O timing também está adequado?

R - A Europa teve dois testes de estresse no passado. O primeiro com todos os bancos europeus e eles saíram dizendo que está tudo bem. Foi um absurdo completo porque os bancos europeus tinham problemas sérios e uma hora todos se deram conta disso. E então eles fizeram outro teste de estresse. De novo, ao final, disseram que quase todos estavam bem. Até agora os testes de estresse na Europa não foram nada mais do que relações públicas. Presumo que será um pouco disso que veremos nos EUA. Eles farão os testes de estresse, quase todos vão se sair bem e então dirão que está OK. Mas não tem nada OK. O Federal Reserve tem estado errado em quase tudo que fez nos últimos 15 anos, senão mais tempo que isso. Esses caras não sabem o que estão fazendo.

P - O senhor falou da China. E vê as perspectivas para o Brasil?

R - O Brasil tem uma economia voltada para os recursos naturais. Enquanto o mercado de commodities estiver em alta, o Brasil vai estar cada vez melhor, como sempre ocorre em períodos assim. Então, quando o período de baixa chega, seus políticos provavelmente vão começar a cometer erros de novo. Na verdade, seus políticos já andaram fazendo coisas estranhas, cometendo erros graves, como tentar controlar o câmbio. E o mercado altista para commodities não acabou ainda. Mas, enquanto o mercado estiver altista para commodities, o Brasil estará melhor do que já esteve no passado.

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