Economia

Crédito fica mais caro com a alta dos juros

A esperança de um Natal gordo, com aquecimento das vendas, torna-se a cada dia mais difícil de se realizar. Isto porque o dinheiro que vai financiar os presentes do fim de ano passará a custar mais caro depois das últimas decisões do Banco Central, que subiu as alíquotas de depósito compulsório e elevou a taxa […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h43.

A esperança de um Natal gordo, com aquecimento das vendas, torna-se a cada dia mais difícil de se realizar. Isto porque o dinheiro que vai financiar os presentes do fim de ano passará a custar mais caro depois das últimas decisões do Banco Central, que subiu as alíquotas de depósito compulsório e elevou a taxa básica de juro de 18% para 21%, decisão não esperada para um período eleitoral e que lançou uma série de dúvidas para o mercado financeiro.

Toda essa incerteza vai pesar no bolso de quem conta com crédito do cheque especial, cartão, empréstimo pessoal, financiamentos em geral do comércio e de automóveis neste fim de ano. "As medidas do Banco Central, com aumento dos juros básicos e aperto de liquidez, devem elevar consideravelmente as taxas de juros na ponta do consumo", diz Antônio Carlos Borges, diretor-executivo da Federação do Comércio de São Paulo. "Estimar o quanto vai aumentar, no entanto, é praticamente impossível."

Para o economista, o crédito mais caro para o consumidor reflete, na verdade, o clima de desconfiança, tanto interno quanto externo, sobre a economia brasileira. As perguntas sobre câmbio e metas inflacionárias que agitam o mercado financeiro, e as preocupações nacionais e de Wall Street em relação à política econômica do novo presidente, seja ele Lula ou Serra, tornam os credores mais cautelosos, cobrando mais por cada centavo emprestado. "Eles querem mais garantias. Na medida que cresce o risco da economia, o spread para financiar esse risco também cresce", diz Borges. "É imprevisível o impacto desses três pontos percentuais da Selic para a ponta de consumo".

Segundo o Procon-SP, a taxa de juros cobrada sobre o uso do cheque especial manteve-se na média de 8,76% ao mês, em 13 bancos pesquisados pela Fundação Procon de São Paulo, nos últimos dias 7 e 8 de outubro. Esta taxa é a mesma que vinha sendo constatada desde maio deste ano. Já no índice de correção sobre o empréstimo pessoal houve um acréscimo médio de 0,05%, passando de 5,63% para 5,68% ao mês. A maior taxa mensal incidente sobre o cheque especial alcançou 9,50% (praticada pelo BCN) e a menor, 7,95%, constatada na Nossa Caixa.

Já em relação ao empréstimo pessoal, o custo do dinheiro foi maior nas tomadas feitas junto ao Itaú, na ordem de 6,95%, e a menor, de 3,95%, na Nossa Caixa. As comparações foram feitas com base nos empréstimos com 12 meses para pagamento, já que as taxas podem variar de acordo com o prazo previsto no contrato. Os técnicos do Procon alertam o consumidor para ficar atento para avaliar a sua real capacidade de honrar os compromissos, observando que as altas taxas praticadas pelo mercado não favorecem a tomada dos empréstimos nas duas modalidades. Além disso, alertam sobre os efeitos da desvalorização cambial sobre os preços.

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, não há dúvidas de que as medidas do Banco Central vão inibir o consumo nos meses do ano em que o comércio mais vende, a época do Natal. "O crédito para o consumidor final ficará mais caro. Nós do comércio e serviços estamos extremamente preocupados com as conseqüências dessas medidas", diz Burti.

Na opinião do presidente da Fenabrave (Federação Nacional dos Revendedores de Veículos), Hugo Maia, o aumento das alíquotas dos depósitos compulsórios, mais do que a elevação da taxa Selic, irá inibir o crédito e pode comprometer as vendas do setor. "O que o Banco Central fez foi diminuir a capacidade de crédito, torná-lo mais restrito. Com isso, é preciso aumentar os valores de entrada e reduzir o parcelamento", afirma Maia.

"Essas medidas deixam as mensalidades mais caras, muitas vezes não condizentes com o orçamento de quem pensa em comprar um carro zero agora". Segundo ele, ainda não é possível saber o tamanho do impacto das decisões no BC no comércio de automóveis zero quilômetro. "Ainda é cedo. Precisamos de mais uns 10 dias para descobrir se as vendas vão realmente cair", diz.

Flávio Croppo, presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas Financiadoras), entidade que reúne as financeiras de montadoras de veículos, acredita que as taxas de juros praticadas nas concessionárias não devem subir antes de 10 dias. "Três pontos percentuais de alta no curto prazo não compromete nossas taxas de financiamento, já que trabalhamos no longo prazo com parcelamentos de até 48 meses", diz Croppo. "O problema é que essa decisão do Banco Central pode sinalizar uma nova realidade para o país com juros de novo acima de 20%". Isto é, se o governo mostrar um novo rumo para a política monetária, os juros para financiamento para automóveis sobem inevitavelmente.

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