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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.
O saldo de crédito destinado ao consumo que abrange o cheque especial, crédito pessoal, cartão de crédito e financiamento de bens de consumo, entre outros pode mais do que dobrar, se mantidas as atuais condições macroeconômicas e se novos estímulos legais forem dados aos agentes financeiros. Segundo estudo da Partner Consultoria, se o país mantiver um crescimento anual de 4%, o volume de crédito ao consumidor atingirá 312 bilhões de reais em 2015, contra os 138,4 bilhões com que fechou julho deste ano.
"Isso equivale à injeção de mais de 170 bilhões de reais na economia, ou seja, é uma entrada poderosa de recursos para desenvolver o país", diz Álvaro Musa, diretor da Partner. O estudo mostra também que a expansão do crédito ocorreria com uma velocidade maior que a da própria economia. Assim, o saldo de crédito ao consumo, que em julho correspondia a 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB), poderia chegar a 12% do PIB no mesmo período.
Três fatores devem sustentar o avanço do crédito nos próximos anos. Além do próprio crescimento econômico do Brasil, a projeção conta com a progressiva redução das taxas de juros. "Há uma relação direta entre a taxa de juros e o volume de crédito", afirma Roberto Troster, economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Em 1995, por exemplo, o saldo de crédito somou apenas 31,4 bilhões de reais. Nesse mesmo ano, a taxa média de juros para o consumidor final era de 222% ao ano. Em 2000, quando os juros baixaram para os dois dígitos (74% ao ano), o volume de crédito saltou para 73,5 bilhões de reais, depois de se manter na casa dos 30 bilhões durante os cinco anos anteriores.
Cadastro positivo
O terceiro impulso para o crédito será a implantação do cadastro positivo, um sistema de classificação de risco que oferece juros menores aos bons pagadores. O projeto de regulamentação, porém, está emperrado na Câmara dos Deputados junto com outros projetos importantes (se você é assinante, leia ainda reportagem de EXAME sobre a agenda paralisada pelo escândalo político).
O projeto aguarda, neste momento, a designação de um relator na Comissão de Defesa do Consumidor. Segundo Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, os setores interessados ainda têm a esperança de ver a regulamentação aprovada neste ano ou, no mais tardar, no primeiro semestre de 2006. "Depende da nossa capacidade de articulação", afirma.
Os especialistas não duvidam, porém, de que o cadastro positivo estimulará a concessão de crédito. "Nos países em que foi introduzido, o sistema levou a uma redução da taxa média de juros e a um aumento da oferta de recursos", diz Troster, da Febraban.
Expansão recente
Entre 2001 e 2003, a carteira de crédito para consumo oscilou ao redor dos 90 bilhões de reais. A introdução do crédito consignado pelo governo Lula fez com que a cifra rompesse, pela primeira vez, a barreira dos 100 bilhões, ao somar 116,2 bilhões de reais no ano passado. O crédito pessoal, que em 2000 correspondia a 34% do volume total de crédito no país, aumentou sua participação para 41,4% em julho deste ano. O crédito consignado foi o principal responsável por esse incremento, já que atualmente responde por 34% da base de crédito pessoal.
Das outras modalidades de financiamento do consumo, os cartões de crédito foram os únicos que aumentaram sua fatia, ao lado do crédito pessoal. Juntos, os cartões com bandeira e os de marca própria (private label) subiram de 5,8% do volume de crédito, em 2000, para 7,3% em julho deste ano. No mesmo período, o número de cartões com bandeira saltou 106%, de 28 milhões para 58 milhões de unidades. Já os private label subiram de 42 milhões para 81 milhões.
O número de plásticos em circulação cresceu mais rápido que o volume movimentado por esse meio de pagamento, indicando um outro problema a ser enfrentado pelos agentes de crédito: a baixa taxa de ativação dos cartões. Segundo Desmond Rowan, presidente da Mastercard, apenas 55% dos cartões com bandeira emitidos são efetivamente usados pelos consumidores. Nos private label, a taxa é ainda menor: 10%, na média do mercado.