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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h41.
A crise política praticamente paralisou o Congresso, em um ano em que as aprovações de projetos já estavam abaixo da média. Absorvidos pelas três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que investigam denúncias de corrupção envolvendo governo, empresas públicas e privadas a dos Correios, a do Mensalão e a dos Bingos deputados e senadores têm dispensado apenas a mínima atenção necessária à pauta do plenário. O resultado é que, desde a eclosão da crise, em maio, apenas dois temas de repercussão nacional foram aprovados, no início de julho: o referendo que decidirá sobre a venda de armas, marcado para outubro, e a projeto da Previdência Social, no Senado.
Entre os dias 1º de maio e 05 de agosto, a Câmara dos Deputados realizou um total de 112 sessões. Mas em apenas 54 nas 22 sessões ordinárias e nas 32 extraordinárias houve votação. Nos demais casos, os parlamentares dedicaram-se a atos solenes (30 sessões), e debates (28 sessões). Nas últimas dez sessões, a mesa diretora pautou 132 propostas para votação, mas apenas 50 foram aprovadas. A maior parte das matérias aprovadas desde o início da crise política refere-se a assuntos de pouco interesse para empresários e para o próprio governo, como a dispensa de visto para turistas de determinados países e regulamentações sobre o funcionalismo público.
"O Congresso está virtualmente paralisado pelas CPIs", afirma o analista político Rogério Schmitt, da consultoria Tendências. Assuntos importantes, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que deveria ser aprovada até julho, ainda esperam a avaliação dos parlamentares. As reformas política, sindical e tributária, que dariam maior transparência ao trato da coisa pública e mais dinamismo à economia também foram abandonadas (veja quadro abaixo).
Desarticulação
De acordo com analistas, o número de projetos de interesse do governo, aprovados pelo Congresso, já havia caído bastante desde o início do ano, quando o deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito presidente da Câmara. "Entre janeiro e maio, a única votação importante foi a da Lei de Biossegurança, aprovada em março", diz Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.
A própria eleição de Cavalcanti já foi um sinal de racha da base aliada, que favoreceu a ascensão de um parlamentar não alinhado a Lula, capaz de derrubar propostas caras ao governo, como a MP 232, que aumentava a carga tributária para os prestadores de serviço.
Para os analistas, a diferença é que a crise política consumou a desintegração da base aliada. Os próprios representantes do governo o ministro da Coordenação Política, Jacques Wagner, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff não encontram mais interlocutores para discutir projetos e encaminhar votações dentro do Congresso. "Não há com quem negociar. Todos os partidos da base estão empenhados em provar que não recebiam dinheiro do governo", diz Ribeiro, da MCM.
A falta de canais com o Congresso também reduz muito as chances de que uma agenda mínima seja encaminhada a exemplo da proposta entregue a Lula por federações de indústrias e pela Confederação Nacional das Indústrias na semana passada. "A agenda mínima exige muita negociação e, no curto prazo, não há como reverter a paralisia", afirma Schmitt, da Tendências.
Somente se as CPIs acelerarem o passo e punirem rapidamente os culpados, Senado e Câmara recobrarão as condições mínimas para votações importantes. Mesmo assim, os analistas são céticos quanto ao futuro. "Dos temas importantes, apenas a reforma tributária e a processual têm chances de ser aprovadas neste ano", diz Schmitt.
Na fila do Congresso |
Conheça os principais projetos de lei que aguardam votação no Legislativo |
Reforma Política Trata da reforma no código eleitoral brasileiro. O assunto vem sendo discutido há 10 anos no Congresso e, com a crise atual, tornou-se uma prioridade para o governo. Entre os principais assuntos do projeto estão a fidelidade partidária e o financiamento de campanhas. É considerado o único projeto com chances de entrar em votação ainda este ano. |
Reforma Sindical Até a instalação da crise política, havia grande expectativa de que o projeto entrasse em votação ainda este ano, mas agora dificilmente sairá da gaveta. O texto, entregue à Câmara há quase quatro meses, prevê o fim do imposto sindical e a regulamentação do direito de greve para os setores público e privado, entre outros pontos. |
Reforma Tributária O objetivo é desatar o nó tributário que atrapalha a vida das empresas. Uma das sugestões é harmonizar o valor do ICMS em todo o Brasil. O principal obstáculo é a briga entre as três esferas de governo (federal, estadual e municipal): ninguém quer perder receita. |
Trabalho Escravo Torna mais clara a definição de trabaho escravo. Além disso, aumenta de oito para dez anos a pena máxima para quem praticar o crime. |
Nepotismo A proposta proíbe a contratação para os cargos em comissão ou de confiança de parentes até o segundo grau, além de cônjuges ou companheiros. A regra é válida para as três esferas de governo e para os três poderes. Aprovada pelo Senado, precisa ser analisada por uma comissão especial na Câmara, que ainda não foi criada. |
Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas O anteprojeto foi entregue no início de junho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre outros objetivos, a lei pretende reduzir a tributação sobre empresas de pequeno porte, simplificar a abertura e fechamento dos negócios e integrar a documentação em um cadastro único. |
Regulamentação dos serviços de saneamento básico Polêmico, o assunto divide o Congresso desde o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O projeto de lei regulamenta o setor, mas esbarra em fortes conflitos de interesse, o que opõe os defensores da titularidade do Estado sobre o saneamento e os que afirmam que o poder concedente deve ser o município. O texto também estabelece regras para a atuação da iniciativa privada no setor. |
Reformas processuais Compostas por conjunto de mais de 20 projetos de lei, essas reformas visam simplificar a tramitação de processos na Justiça. Servem, por isso, de complemento à reforma do Judiciário. |
Fonte: MCM Consultores e Tendências Consultoria Integrada |