CPI pra quê?
A oposição só pensa em jogar pedra no governo, que só quer devolver o xingatório - e ninguém quer livrar a Petrobras dos interesses privados que a obscurecem e torná-la uma empresa pública de verdade
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2010 às 10h19.
Há pouca coisa na Petrobras, se é que existe mesmo alguma, que não pode ser investigada pelos instrumentos legais que têm entre suas atribuições a tarefa, precisamente, de apurar irregularidades na máquina do governo - tribunais de contas, Ministério Público, agências reguladoras e daí por diante. Se esses organismos não funcionam como deveriam, o problema real é fazê-los funcionar, e não recorrer ao Senado Federal ou à Câmara dos Deputados para substituí-los em sua ação. Mas quem é que está interessado no problema real? Não o governo, com certeza, pelos motivos óbvios: tudo o que seus integrantes não querem dessa vida é uma fiscalização de verdade, e sobretudo as consequências que possam vir dela. Nem a oposição, que prefere a gritaria livre das CPIs, onde ganha os seus minutos de fama, do que consertar o que está errado. É uma situação sem heróis. O PT, hoje no governo, reclama do oportunismo da oposição, que reclamava exatamente da mesma coisa quando estava do outro lado da mesa; se voltar um dia a ser oposição, vai propor CPIs desde o primeiro dia e ouvir do novo governo os discursos indignados que faz agora.
Resta o fato de que a Petrobras poderia muito bem estar livre desses incômodos - a oposição sempre tem a seu dispor uma vasta escolha de alvos, e naturalmente prefere atirar nos mais promissores - se tivesse uma conduta melhor. Não tem, porque nos últimos anos vem se tornando cada vez menos o que deveria ser e cada vez mais o que não deveria; em vez de ter o comportamento de uma empresa pública, faz o possível para agir como uma repartição do governo. Acha, embora não diga, que deve dar o mínimo de satisfação aos acionistas. Não gosta de perguntas. Tem muito pouca paciência com qualquer questionamento. É francamente hostil a críticas, sobretudo quando são feitas por meios de comunicação; nesses casos, considera que está sofrendo "ataques" e que os críticos são "inimigos". Faz um culto ao sigilo que não combina com os deveres de governança próprios a uma empresa de capital aberto. Apresenta cada bom resultado obtido como uma vitória contra "a oposição" ou contra a "falta de patriotismo". Está frequentemente imaginando conspirações. No caso da CPI, por exemplo, sua brigada de militantes diz que o objetivo real é a "privatização" da empresa - como se uma CPI, que não consegue mudar de lugar um abrigo de ônibus, tivesse força para privatizar alguma coisa.
Há pouca coisa na Petrobras, se é que existe mesmo alguma, que não pode ser investigada pelos instrumentos legais que têm entre suas atribuições a tarefa, precisamente, de apurar irregularidades na máquina do governo - tribunais de contas, Ministério Público, agências reguladoras e daí por diante. Se esses organismos não funcionam como deveriam, o problema real é fazê-los funcionar, e não recorrer ao Senado Federal ou à Câmara dos Deputados para substituí-los em sua ação. Mas quem é que está interessado no problema real? Não o governo, com certeza, pelos motivos óbvios: tudo o que seus integrantes não querem dessa vida é uma fiscalização de verdade, e sobretudo as consequências que possam vir dela. Nem a oposição, que prefere a gritaria livre das CPIs, onde ganha os seus minutos de fama, do que consertar o que está errado. É uma situação sem heróis. O PT, hoje no governo, reclama do oportunismo da oposição, que reclamava exatamente da mesma coisa quando estava do outro lado da mesa; se voltar um dia a ser oposição, vai propor CPIs desde o primeiro dia e ouvir do novo governo os discursos indignados que faz agora.
Resta o fato de que a Petrobras poderia muito bem estar livre desses incômodos - a oposição sempre tem a seu dispor uma vasta escolha de alvos, e naturalmente prefere atirar nos mais promissores - se tivesse uma conduta melhor. Não tem, porque nos últimos anos vem se tornando cada vez menos o que deveria ser e cada vez mais o que não deveria; em vez de ter o comportamento de uma empresa pública, faz o possível para agir como uma repartição do governo. Acha, embora não diga, que deve dar o mínimo de satisfação aos acionistas. Não gosta de perguntas. Tem muito pouca paciência com qualquer questionamento. É francamente hostil a críticas, sobretudo quando são feitas por meios de comunicação; nesses casos, considera que está sofrendo "ataques" e que os críticos são "inimigos". Faz um culto ao sigilo que não combina com os deveres de governança próprios a uma empresa de capital aberto. Apresenta cada bom resultado obtido como uma vitória contra "a oposição" ou contra a "falta de patriotismo". Está frequentemente imaginando conspirações. No caso da CPI, por exemplo, sua brigada de militantes diz que o objetivo real é a "privatização" da empresa - como se uma CPI, que não consegue mudar de lugar um abrigo de ônibus, tivesse força para privatizar alguma coisa.
O problema da Petrobras. não é ser privatizada. É livrar-se dos interesses privados que a escurecem - e tornar-se uma empresa pública de verdade.