Economia

Corte de previsões de lucro agrava temor com economia chinesa

Mais de 1.800 empresas apresentaram dados preliminares, com as piores situações aparecendo nos setores de tecnologia, telecomunicação e finanças

Decorações do Ano Novo Lunar chinês em 28/01 em Xangai (Qilai Shen/Bloomberg)

Decorações do Ano Novo Lunar chinês em 28/01 em Xangai (Qilai Shen/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 3 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Executivos chineses estão soando o alerta sobre o estado da segunda maior economia do planeta.

Na noite de terça-feira, pelo menos 20 empresas — incluindo China Life Insurance e Chongqing Changan Automobile — avisaram investidores que o lucro anual ficaria abaixo da expectativa.

Entre as razões citadas estão a desaceleração econômica, mudanças recentes nas regras contábeis e o tombo do mercado acionário no ano passado, que eliminou US$ 2,3 trilhões no que foi a maior perda de valor de mercado no mundo.

Na quinta-feira, vence o prazo para comunicação de mudanças substanciais nos resultados financeiros. Mais de 1.800 empresas apresentaram dados preliminares, com as piores situações aparecendo nos setores de tecnologia, telecomunicação e finanças.

“Companhias privadas estão particularmente vulneráveis à virada da economia”, disse Lv Changshun, gestor de recursos da Beijing Dajun Zhimeng Investment Management. “A campanha de desalavancagem e a deterioração da saúde corporativa são normais em qualquer economia que esteja trocando de marcha e se desacelerando.”

A Changan, principal parceira da Ford Motor no país, avisou que o lucro de 2018 provavelmente caiu 93 por cento. A China Life, líder no mercado local de seguro de vida, alertou que o lucro líquido pode ter diminuído 70 por cento. Os números detalhados saem até o fim de março.

Beijing HualuBaina Film & TV, a operadora de sistemas de armazenamento em nuvem Gosun Holding e First Tractor informaram que esperam bilhões de yuans em prejuízo em 2018, após registrarem lucros em 2017.

Anhui Shengyun Environment Protection Group e a fabricante de ônibus e autopeças Anhui Ankai Automobile preveem pelo menos o dobro das perdas apuradas em 2017.

A ação da fabricante de geladeiras Guangdong Homa Appliances caiu até o limite diário de 10 por cento para a menor cotação desde junho de 2014. A empresa comunicou que teria prejuízo em 2018, meses depois de prever lucro.

De acordo com um índice da Bloomberg Economics que agrega indicadores de condições de negócios e confiança, a economia chinesa perdeu velocidade pelo oitavo mês seguido em janeiro, abalada pelo enfraquecimento da demanda global e pela menor inflação dos preços nas fábricas.

Os dados sugerem que os esforços do governo ainda não se traduziram em aceleração da atividade empresarial no primeiro trimestre.

Paralelamente, o maior rigor das autoridades reguladoras em relação à contabilidade forçou companhias a diminuir o valor do goodwill (patrimônio de marca) em seus balanços patrimoniais, após aquisições caras se provarem menos vantajosas que o esperado.

Em novembro, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China exigiu que empresas listadas avaliassem a perda do valor recuperável de goodwill todo final de ano, de modo que essas baixas possivelmente afetarão os lucros por vários anos.

Baixas contábeis

Em vez de registrar anos de prejuízo, algumas empresas escolheram contabilizar tudo de uma vez para apresentar números melhores no futuro.

“Companhias com ações já massacradas não têm nada a perder se reduzirem as previsões de lucro ou realizarem enormes baixas contábeis em 2018”, disse Qi He, gestor de fundos da Huatai Pinebridge Fund Management, em Xangai. “Muitas dessas companhias estão se limpando para começar do zero em 2019.”

Os investidores do mercado acionário chinês não tinham para onde correr no ano passado, atingidos pela desaceleração econômica, inadimplência recorde e piora do relacionamento com os EUA.

A isso se somou um escândalo nacional envolvendo vacinas, a queda do gasto do consumidor, os ataques do governo americano ao setor de tecnologia chinês e o maior rigor das autoridades chinesas com educação, jogos e narcóticos.

Nenhum setor saiu ileso a um dos maiores movimentos de perda nos preços de ativos desde a crise financeira global.

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