Economia

Corte de 1 ponto na Selic é conservador, dizem economistas

Os 38 economistas consultados na semana passada esperam que o Banco Central reduza a taxa Selic em um ponto percentual para 11,25%

Banco Central: a inflação caiu de mais de 10% em 2016 para 4,57% no mês passado, mas o Banco Central não acompanhou o ritmo, disseram alguns economistas (Gustavo Gomes/Bloomberg)

Banco Central: a inflação caiu de mais de 10% em 2016 para 4,57% no mês passado, mas o Banco Central não acompanhou o ritmo, disseram alguns economistas (Gustavo Gomes/Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 11 de abril de 2017 às 17h11.

Brasília - Não é todo dia que um Banco Central é chamado de conservador por reduzir a taxa de juros em 1 ponto percentual.

Entretanto, é assim que muitos economistas, líderes empresariais e políticos esperam a decisão desta quarta-feira da taxa de juros no Brasil.

Os 38 economistas consultados pela Reuters na semana passada esperam que o Banco Central reduza a taxa Selic em um ponto percentual para 11,25 por cento. Se confirmado, será o maior corte desde 2009.

Contudo, com a inflação caindo mais rapidamente do que o esperado, críticos dizem que o BC deveria estar agindo mais rápido para levar os juros para abaixo de 10 por cento e assim tirar a maior economia da América Latina da pior recessão em décadas.

A inflação caiu de mais de 10 por cento em 2016 para 4,57 por cento no mês passado, mas o Banco Central não acompanhou o ritmo, disseram alguns economistas.

A taxa de juros ficou em 12,25 por cento, queda de apenas dois pontos percentuais após quatro cortes consecutivos, e ainda está entre as mais altas de qualquer das economias do G20.

"Esses cortes são muito pequenos para o tamanho do rombo", disse Maria Cristina Zanella, gerente do Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Quanto mais rápido chegarmos a 8, 8,5 por cento, melhor".

O debate se concentra na taxa de juros real - o que um investidor paga ou recebe depois de descontada a inflação. As chamadas taxas reais ex-post subiram para a máxima de uma década a 8,8 por cento, de acordo com cálculos do BC.

O banco, entretanto, prefere calcular a taxa de juros real com base nas expectativas de inflação e na taxa de juros futura, porque esse é o parâmetro utilizado por consumidores e empresas para decidir investimentos.

Essa taxa, chamada de ex-ante, caiu para 4,7 por cento porque os mercados futuros estão precificando uma longa sequência de cortes. Isso sugere que a política monetária não é mais apertada como antes e deve estimular o crescimento nos próximos meses.

O mercado espera que ambas as taxas se estabilizem em cerca de 5 por cento até o final do ano, de acordo com o último relatório de inflação trimestral do BC.

O Banco Central diz que essa diferença é normal em episódios de rápida desinflação. No entanto, alguns economistas argumentam que o BC deveria fechar essa lacuna de forma mais rápida.

Chamada para cortes

"Dado que o Brasil enfrenta uma crise de balanço, com as empresas e famílias observando um nível inicial de endividamento excessivo e passando por um processo de desalavancagem, as taxas ex-post também são motivo de preocupação", escreveu Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

O Banco Central também enfrenta pressão política. Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, maior partido do Brasil, disse após a reunião do BC de fevereiro que as taxas de juros eram "imorais" e que deveriam cair de forma mais rápida.

Ainda assim, nem todos os líderes empresariais estão frustrados com os cortes.

Os indicadores de confiança no varejo e na indústria estão em seus níveis mais altos desde 2014. Algumas empresas já viram benefícios da recente flexibilização. Executivos da construtora de imóveis BR Properties e da varejista GPA SA prevêem economias de 30 a 40 milhões de reais a cada corte de 100 pontos.

A economia brasileira deverá crescer 0,5 por cento este ano, encerrando uma recessão de dois anos.

O Banco Central disse que a política monetária contribuirá para um crescimento mais rápido, mas sinalizou que não está disposto a mover-se rapidamente devido à incerteza sobre o nível em que a taxa de juros começa a alimentar a inflação.

"Apesar de haver ótimos motivos para se cortarem os juros mais rapidamente seria sábio não ceder aos apelos do mercado de imediato", disse Andre Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Se acontecer algo seria mais barato para o BC recolocar a bola no chão."

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