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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h27.
Começa nesta terça-feira (16/9) a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir sobre a nova taxa básica de juros (Selic) que vai vigorar a partir desta quarta (17/9) até outubro. Nesta segunda (15/9), o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, fez um discurso duro e cobrou uma redução dos juros bancários nas mesmas proporções da queda da taxa básica de juros. Ele criticou o fato de o país ter um sistema financeiro que não financia investimento, mas vive da tesouraria. A pressão de vários segmentos ainda será forte nesta reunião do Banco Central. A maioria dos economistas espera um corte de pelo menos 2,5 pontos percentuais, deixando a taxa em 19,5% ao ano, apesar de também afirmarem que há espaço para um corte maior de até 3 pontos e esperarem um mínimo de 2 pontos percentuais.
A pesquisa semanal divulgada nesta segunda (15/9) pelo Banco Central revela que o mercado financeiro projeta a taxa básica de juros em 18% anuais até dezembro. O resultado da reunião do Copom será divulgado nesta quarta-feira (17/9), às 18 horas.
Dentre os analistas, o CSFB espera que o corte da Selic seja de 2,5 pontos para 19,5% ao ano, sem viés. "Em face de uma menor inflação, de um cenário mais benigno das contas externas e de um ritmo mais fraco da atividade econômica, entendemos que há espaço para o Copom implementar uma queda mais pronunciada da taxa básica de juros Selic no curto prazo", afirma o banco. Para os analistas do banco, a taxa básica de juros deve ficar em 17% em dezembro e em 15% ao ano em meados do primeiro semestre. Entre os fatores que justificam este corte, o CSFB aponta que pelo terceiro mês consecutivo, a inflação mensal foi inferior às expectativas de mercado (IPCA de agosto foi de 0,34%); os resultados mais positivos do balanço de pagamentos reduzem o risco de depreciação significativa da taxa de câmbio; atividade econômica mais fraca do que o esperado, sinalizando baixo risco de pressão inflacionária.
Assim como o CSFB, o Bradesco e o Conselho Regional de Economia de SP acreditam que há espaço para um corte acima dos 2 pontos percentuais. Mas que o BC tem de ser cauteloso. A Área de Estudos Econômicos do Bradesco questiona, entretanto, é se o foco do Banco Central estaria não só na atividade econômica de 2004, mas também de 2003. "Tendo em mente que a política monetária deve combater efeitos secundários e não primários, o espaço para flexibilização monetária permanece muito amplo", afirma o Bradesco. O banco acredita que o BC deve reduzir a taxa em 2 pontos percentuais. Mas afirma que há espaço para um corte de até 2,5 pontos. "Do ponto de vista do nível de atividade e da inflação haveria espaço para a redução da taxa básica de juros em 200 pontos-base. Isso não exclui a possibilidade de uma redução ainda maior, de até 250 pontos-base."
O Conselho Regional de Economia de São Paulo afirmou que o Brasil teria espaço para reduzir a Selic em até 3 pontos percentuais, mas não fará isso. "É preciso pensar nos 13º salários, nos dissídios e até nos fundos de garantia do governo Collor que estão para ser pagos", afirmou o presidente do conselho, Synésio Batista da Costa. "As pessoas estarão com muito dinheiro no bolso e é preciso ser cauteloso." Por isso, os economistas acreditam que o Copom não deverá reduzir a taxa em mais de 2,5 pontos percentuais.
Flávio Barros, gesto da Clickinvest, afirma que há espaço para um corte de 2,5 pontos percentuais. "O remédio foi muito forte no começo do ano. É preciso reverter este quadro recessivo", afirma. Para ele, há boas notícias de sobra no mercado que permitem um corte desta magnitude: dólar e petróleo estáveis, risco-país em baixa e a Bovespa, com alta consistente.
Pela linha dos dois pontos percentuais, está o Lloyds TSB, que acredita que o BC deve reduzir os juros "em pelo menos dois pontos percentuais". Para os analistas, a mediana das projeções de inflação feitas pelo mercado reafirmam a expectativa de queda dos índices de preços". O banco também analisou que a taxa de câmbio, responsável por boa parte das pressões inflacionárias recentes, tem mantido uma "exemplar" estabilidade desde maio, depois de ceder consistentemente nos primeiros meses do ano.
Outro fator decisivo para o BC, na avaliação do Lloyds, é a baixa atividade industrial, "apesar das sinalizações de que o fundo do poço já tenha sido atingido". "A evolução do PIB no segundo trimestre ficou bem aquém do que estabeleciam as estimativas do mercado e, agora, se espera expansão da ordem de 0,5% a 1% no ano contra os 1,5% a 2% anteriores", afirma o banco. "É razoável admitir que a gradual retração da inadimplência e a melhoria nos índices de confiança, possam reforçar a perspectiva de recuperação da atividade produtiva, mas os sinais são tênues e o
processo carece de novas quedas da taxa básica", afirma o Lloyds TSB. A queda de dois pontos percentuais também é apontada pela corretora Fator Dória como a mais provável.
Para o Unibanco, o corte de dois pontos já está precificado pelo mercado. "Núcleos sob controle, expectativa de inflação baixa; nível de atividade dá sinais claros de que ainda estamos em uma fase de desaquecimento, com produção industrial em queda e consumo retraído", avalia o banco em seu relatório diário.
"A previsão é de corte de 2 pontos, sem viés", afirma Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. "O BC pode continuar flexibilizando a política monetária num ritmo maior, à semelhança do ocorrido em agosto."