Edifício sede do Banco Central: membros do Copom mandaram recado mais duro para o governo sobre riscos com mudança da meta (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 7 de novembro de 2023 às 09h31.
Após divulgar um comunicado brando quando reduziu os juros para 12,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) mandou um recado claro para o governo sobre o aumento da incerteza fiscal com o debate sobre a mudança da meta de zerar o déficit público. Os diretores do Banco Central (BC) afirmaram que o objetivo a ser perseguido pelo Ministério da Fazenda é importante para ancoragem das expectativas de inflação é para a queda de juros.
"O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", informou o BC, na ata.
Na prática, o BC sinalizou que a mudança da meta fiscal, somada a incerteza no mercado internacional, pode frear a queda de juros.
"O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade", reforçou o BC.
O Copom voltou a sinalizar na ata que continuará a cortar a Selic em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões. A dúvida entre os analistas -- e de todos que acompanham no detalhe a política monetária e econômica -- é como a autoridade monetária se comportará a partir de 2024, quando terá mais dois membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No mercado, as apostas migraram para que o corte dos juros termine 2023 em 11,75% ao ano, com mais três cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual. Um debate incipiente considerou uma aceleração do ritmo para 0,75 ponto percentual, mas perdeu força. Entretanto, para 2024, ainda não há clareza sobre como o BC se comportará.