Economia

Consumo retoma fôlego no 3º tri; investimentos patinam

Indicações do meio corporativo são de perda de força dos investimentos


	Manufatura: segmento manufatureiro, após um avanço surpreendente no segundo trimestre, teve menor vigor nos últimos meses, refletindo o ajuste à demanda
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Manufatura: segmento manufatureiro, após um avanço surpreendente no segundo trimestre, teve menor vigor nos últimos meses, refletindo o ajuste à demanda (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2013 às 08h40.

São Paulo - A economia brasileira apresentou sinais erráticos no terceiro trimestre, com indicações do meio corporativo de perda de força dos investimentos e aceleração do consumo, numa provável inversão do que foi visto de abril a junho.

Setores ligados a investimentos de prazos mais longos, como indústria e construção civil, patinaram no trimestre encerrado em setembro, enquanto consumo e serviços devem ter sido destaques positivos no período.

O segmento manufatureiro, após um avanço surpreendente no segundo trimestre, teve menor vigor nos últimos meses, refletindo o ajuste à demanda abaixo das expectativas e ao ambiente de negócios visto como menos convidativo para investimentos. Tal cenário deve ser ilustrado pelos resultados de siderúrgicas e de empresas da cadeia automotiva e de máquinas e equipamentos.

A produção de veículos no país, por exemplo, caiu 2,5 por cento no terceiro trimestre em relação ao segundo, para quase 1 milhão de unidades, segundo a Anfavea, que representa as montadoras. O volume médio de aço bruto produzido em julho e agosto, dados mais recentes disponíveis, ficou em linha com o visto no trimestre até junho, de acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr).

E as vendas de máquinas e equipamentos --um indicativo sobre o nível da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida do investimento-- ficaram praticamente estáveis em julho e agosto na comparação com o bimestre anterior.

"A indústria vai ser a grande contribuição negativa para o terceiro trimestre", disse a economista e sócia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.

Depois de o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescer 1,5 por cento no segundo trimestre ante o primeiro, bastante acima do esperado, a aposta majoritária no mercado é de que fique estável ou tenha modesta retração no terceiro trimestre sobre o período anterior.

De abril a junho, o desempenho foi puxado pelos investimentos e por indústria e agropecuária. O consumo das famílias --que sustentou a atividade nos últimos anos-- deu sinais mais claros de fadiga.


Autoridades do governo têm insistido que o caminho agora para o crescimento do PIB exige necessariamente elevar os investimentos, como forma de reduzir as deficiências logísticas e de infraestrutura que são o principal gargalo do país. Ao mesmo tempo, afirmam que o consumo continuará a ser uma variável importante para a economia.

Construtoras e bancos 

Na construção civil, o desempenho frustrante da primeira metade do ano se manteve entre julho e setembro, segundo o Sinduscon-SP, sindicato do segmento no Estado de São Paulo. A percepção de empresários do setor sobre o desempenho das empresas caiu a 49,3 pontos --valores abaixo de 50 indicam expectativa não favorável.

"Até agosto, a mão de obra ficou praticamente estável. O consumo do aço caiu. O empresário está sentindo a desaceleração", disse recentemente o presidente do Sinduscon-SP, Sérgio Watanabe.

Isso mesmo com o setor de construção civil drenando boa parte do crédito dos bancos no período --o que ajudou nas vendas de imóveis, mas não o suficiente para as construtoras desovarem o excesso de estoques.

A Cyrela Brazil Realty anunciou no fim da segunda-feira que teve queda de quase 38 por cento nas vendas contratadas do terceiro trimestre sobre o período imediatamente anterior, enquanto os lançamentos tombaram 30 por cento na mesma base de comparação.

Para os bancos, com exceção dos empréstimos imobiliários, os resultados do terceiro trimestre devem trazer nova safra de expansão fraca do crédito, uma vez que as instituições, especialmente as privadas, preferiram mais uma vez reduzir os índices de inadimplência num cenário de alta de juros.


Segundo dados do Banco Central, em julho e agosto o estoque total de crédito no Brasil teve avanços de 0,6 e de 1,3 por cento, respectivamente. A inadimplência ficou controlada, com estabilidade em julho --em 5,2 por cento-- e ligeira queda em agosto, para 5,1 por cento.

"Vejo um crescimento mais modesto dos bancos privados porque eles ainda estão cautelosos", disse o analista Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings.

Varejo melhor

Já as empresas ligadas a consumo foram beneficiadas no terceiro trimestre por programas do governo federal para aquisição de eletrodomésticos pela população de baixa renda e pelo nível de emprego ainda elevado.

Em agosto, a taxa de desemprego caiu para 5,3 por cento, no melhor resultado desde dezembro, com o rendimento da população voltando a subir após cinco meses de queda.

Com esse pano de fundo, o Pão de Açúcar, maior varejista do país, viu suas vendas líquidas avançarem 5,2 por cento no terceiro trimestre contra o segundo, para 14,1 bilhões de reais. De abril a junho, as vendas ficaram estáveis sobre os primeiros três meses de 2013.

No geral, as vendas no varejo brasileiro em agosto tiveram desempenho acima do esperado ao subirem 0,9 por cento sobre julho e 6,2 por cento sobre um ano antes, divulgou na manhã desta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Houve reversão de expectativas frente ao que vinha acontecendo no primeiro semestre", avalia o presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e da rede de vestuário Riachuelo, Flavio Rocha.

Para analistas, companhias de outros setores ligados a consumo e serviços --como educação e saúde-- devem ter também se beneficiado da tendência recente de recuperação do poder de compra das famílias.

O IBGE divulgará os dados relativos ao PIB brasileiro do terceiro trimestre em 3 de dezembro.

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