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Como investir em créditos de carbono

Os créditos costumam ter valorização com a expansão da produção industrial global; bancos já oferecem fundos de investimento

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2009 às 09h59.

Às vésperas da nova conferência sobre a mudança climática que as Nações Unidas (ONU) vão fazer em Copenhague, no mês de dezembro, grandes bancos como Itaú Unibanco e Bradesco já deram o pontapé inicial para que créditos de carbono estejam entre as opções de investimento oferecidas aos clientes. Embora os fundos com essa característica ainda exijam um investimento mínimo alto, a expectativa é de que no máximo em até dois anos esse tipo de aplicação esteja disponível para todo o varejo. Isso quer dizer que, além de grandes empresas, investidores dos mais diferentes perfis vão poder lucrar com um ativo cujo principal ganhador era até agora o meio ambiente.

Na última semana de novembro, o Itaú Unibanco lançou um fundo de investimento multimercado de capital protegido ligado ao mercado de créditos de carbono. O produto tem como referência a variação do Barclays Capital Global Carbon Index Excess Return Euro (BGCI) indicador que monitora a performance de créditos de carbono via contratos futuros negociados no mercado europeu. O produto é voltado a investidores de alta renda e tem aplicação mínima de 30.000 reais. A expectativa da instituição é captar pelo menos 100 milhões de reais com o fundo.

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"Fundos com esse perfil constituem um segmento novo. Seu surgimento está ligado ao desenvolvimento do mercado futuro e de opções para créditos de carbono, que só aconteceu a partir de 2007. Por enquanto, vamos limitar nossa oferta ao segmento de alta renda, mas acredito que nos próximos dois anos poderemos já ter algo voltado ao varejo", afirma o diretor de gestão de recursos do banco, Paulo Corchaki.

Segundo o superintendente executivo do departamento de Empréstimos e Financiamento do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, a área de administração de recursos do banco já iniciou estudos para o lançamento de novos produtos ligados a créditos de carbono, o que inclui fundos na esfera do varejo. A estreia do Bradesco no segmento de "ativos verdes" aconteceu no segundo semestre de 2007 por meio de um fundo de private equity voltado à compra de participações minoritárias de empresas envolvidas com atividades sustentáveis, como Empresa de Investimento em Energias Renováveis (Ersa), que investe em fontes de energia menos poluentes. A participação nesse fundo também é restrita a grandes investidores. (continua)


Fôlego novo

Embora ainda limitados a um grupo restrito, os fundos trazem um novo fôlego à consolidação do crédito de carbono como um ativo financeiro no mercado brasileiro. Inicialmente a atuação dos bancos nesse mercado restringia-se ao fomento de projetos ou a destinação de parte do percentual da taxa de administração de fundos tradicionais a esse tipo de iniciativa.

Embora o Brasil ocupe posição de destaque no ranking mundial de países que oferecem projetos verdes, atrás apenas de China e Índia, ele não dispõe de uma bolsa para comercializar os créditos de carbono. O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), lançado em 2004 na BM&F para comercializar contratos a termo, na prática não decolou. A ideia era gerar a negociação diária de créditos de carbono, mas, até agora, só foram realizados dois leilões, um em 2007 e outro em 2008. Nesses leilões, foram vendidos créditos de carbono da Prefeitura de São Paulo - e não de empresas privadas.

O que parece ter influenciado os bancos brasileiros a reavaliar sua estratégia para o segmento foi a própria popularização do mercado mundial. Segundo avaliação do Itaú Unibanco, a recente criação do mercado de opções no exterior, o aumento da liquidez, a transparência e padronização dos contratos e o maior volume de fundos de investimentos dedicados à atividade tendem a gerar um ambiente mais propício para negócios, uma vez que fatores como esses diminuem prêmios de risco e geram valorização dos contratos.

O banco também aposta na valorização dos créditos de carbono com a adesão de novos setores da economia - como empresas de aviação, por exemplo - e de países que ainda estão de fora - como Estados Unidos e Austrália. Diante da crise, a atividade industrial desacelerou, levando a quedas nas cotações dos créditos de carbono. As projeções feitas pelo Itaú Unibanco, no entanto, apontam para uma recuperação semelhante à das bolsas e das commodities nos próximos meses.(continua)


Como funciona

O mercado de carbono é a forma popular utilizada para os sistemas de negociação de unidades de redução de emissões dos gases causadores do efeito estufa. Os créditos são gerados com reduções de emissões ou projetos de seqüestro de carbono. O Protocolo de Kyoto - assinado em 1997, mas que só entrou em vigor em 2005 - definiu metas quantitativas de limitação de emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros cinco gases, provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis e da destruição dos ambientes naturais. A regra prevê que os países desenvolvidos reduzam em pelo menos 5% a emissão de gases em relação aos níveis registrados em 1990 entre 2008 e 2012. Quanto maior a produção industrial, mais as empresas precisam de créditos para atingir essas metas. Para o segundo período, ainda não foram estabelecidas metas de redução de emissões.

Os mecanismos de adequação previstos são: comércio de emissões (realizado entre os países desenvolvidos de maneira que aquele que tenha diminuído suas emissões abaixo da meta prevista possa transferir o excesso de suas reduções para outro que não tenha alcançado tal condição); mecanismo de desenvolvimento limpo (utilização das reduções atingidas pelos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, pelos desenvolvidos para o cumprimento das metas obrigatórias) e implementação conjunta (implantação de projetos de redução de emissões de gases em países que apresentam metas no âmbito do protocolo).

Os negócios ocorrem em dois tipos de mercado: o regulado - que segue as regras do Protocolo de Kyoto - e o voluntário - composto por empresas sem cotas de reduções obrigatórias, mas comprometidas com responsabilidade socioambiental. As operações são feitas tanto à vista entre empresas quanto no mercado futuro por meio das bolsas.

Segundo dados do Banco Mundial, em 2008 o mercado de créditos de carbono como um todo movimentou 126,3 bilhões de dólares. A maior parte desses recursos (110 bilhões de dólares) ocorre no mercado regulado representado por projetos de não-emissão negociados no Comércio de Emissões Europeu (EU-ETS) e por créditos negociados na Bolsa Europeia do Clima (European Climate Exchange - ECX). Atualmente, os preços variam de 15 a 18 dólares por tonelada de carbono. O mercado voluntário responde por 705 milhões de dólares, sendo 56% dos negócios realizados via bolsa (a líder é a de Chicago, CCX) e 44% entre os países. Hoje, o preço médio da tonelada de carbono é de 3,50 dólares a tonelada de carbono.


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