(Joao Paulo Burini/Getty Images)
Publicado em 14 de março de 2024 às 14h48.
Última atualização em 14 de março de 2024 às 15h10.
O surto de dengue que atinge o Brasil nesse início de 2024 fez o preço de repelentes aumentar quase 10% em março e a demanda pelo produto explodir. Farmácias e indústria temem que falte repelentes nos próximos meses por falta de insumos.
Hoje, o Brasil tem 1.626.707 casos prováveis e 467 óbitos devido à doença. Com os números, o país tem uma média de 22 mil pessoas diagnosticadas com dengue e 6 mortes diárias. Os dados são do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde.
Algumas das principais formas de prevenção contra a doença são evitar água parada em casa e usar repelente contra mosquitos, para se proteger do Aedes aegypti, agente transmissor do vírus da dengue. Por isso, a procura e preço do preço saltaram.
Segundo o último levantamento realizado pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP), que apurou o preço médio entre os dias 1 e 8 de março, os repelentes corporais contra insetos aumentaram 9,95%.
Os especialistas do órgão apuraram também as diferenças do preço para o mesmo item, variando até 107% – enquanto em um estabelecimento online o valor era R$ 18,99, em outro o mesmo item estava à venda por R$ 39,38. Foram comparados os preços de nove tipos de repelentes corporais nos cinco sites consultados.
Não existe tabelamento de preços no país, porém o Código de Defesa do Consumidor diz que é prática abusiva elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. Dessa maneira sempre que o consumidor encontrar uma situação que possa configurar aumento indevido ele pode registrar uma reclamação no Procon da sua cidade, para que o caso seja analisado.
A Pague Menos, rede de farmácias com 1.648 lojas pelo Brasil, informou que registrou um aumento de 45% nas vendas de repelentes na comparação entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024 em todo o país. São Paulo teve a maior alta, com 74%. No Rio, o crescimento foi de 39%.
A RaiaDrogasil, com 2.100 lojas em 23 estados brasileiros, aponta que a procura cresceu 700% entre novembro e início de fevereiro. Os dados da companhia mostram o crescimento das vendas de repelentes: dezembro apresentou uma alta de 28,6% em relação a novembro, janeiro teve alta de 54,2% em comparação a dezembro, e fevereiro cresceu 246,6% em relação a janeiro.
Em nota enviada à EXAME, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) admite que a atual demanda está muito acima da prevista pelos fabricantes. Por isso, ações como aumento de turnos nas fábricas e antecipação de pedidos de insumos e matérias-primas estão sendo realizadas para normalizar o fornecimento nas próximas semanas.
"A entidade está olhando para todos os gargalos existentes para fazer com que os repelentes cheguem ao consumidor no menor prazo possível e possam seguir atuando como ferramenta estratégica para a proteção de toda a sociedade", afirma o texto.
A ABIHPEC diz ainda que o setor pediu para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acelerar a aprovação de novos repelentes.
"A atuação da ABIHPEC já surtiu resultados positivos, já que no último dia 29/02, quinta-feira, a ANVISA publicou que irá priorizar a análise das petições de registro e de mudança de registro dos produtos cosméticos do grupo "repelentes de insetos", diz a nota.
Em entrevista à EXAME, Sergio Mena Barreto, CEO da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), afirma que existe um enorme risco de faltar repelentes no Brasil pela alta demanda.
"Tem um risco enorme [de faltar repelente no Brasil]. Para ter uma ideia, no ano passado se incinerou repelente que não foi vendido no Brasil. O volume de venda é estável há muitos anos e o produto chega a vencer, mas esse ano está todo mundo atrás de repelente, por causa do surto de dengue", diz Barreto.
O presidente da Abrafarma disse ainda que a alta demanda impacta a indústria, que precisa aumentar a produção, mas depende de uma matéria prima que pode levar até 90 dias para chegar no Brasil.
"Além de não ter a quantidade necessária em todos os lugares, um dos princípios ativos do repelente é inflamável, e não pode vir por avião, só pode vir de navio e leva 60 a 90 dias para chegar. Mesmo que no mês passado uma fábrica tenha encomendado uma parte adicional de princípio ativo para repelente, vai precisar esperar março, abril e maio para a mercadoria chegar, mais o desembaraço do porto, mais a produção. Então, a probabilidade de faltar repelente, sim, é real", afirma.
Barreto explicou ainda que a alta dos preços está relacionada a questão logística para trazer o princípio ativo e a compra de produto prontos, que seriam apenas rotulados no Brasil.
"Tem umas fabricantes que estão trazendo o produto pronto, então é como se estivessem comprando o produto e só rotulando no Brasil, então também devem comprar a um custo mais alto. O problema é que realmente nós estamos com a demanda muito acima do que a capacidade instalada e do que temos estoques", conclui.