Economia

Com queda do desemprego, Fed procura medida certa para corte de juros

A resposta dependerá em grande parte de como a inflação se comporta à medida que o desemprego cai

FED: estudos sugerem que os preços podem subir mais rápido, mas não muito (Mandel Ngan/AFP)

FED: estudos sugerem que os preços podem subir mais rápido, mas não muito (Mandel Ngan/AFP)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de julho de 2018 às 13h29.

Nova York - A maioria das autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) concorda com a trajetória da taxa de juros a ser percorrida ao longo do próximo ano: aumentos graduais, até que o custo dos empréstimos atinja um nível que não desacelere nem estimule o crescimento.

A grande questão, no entanto, é o que fazer depois de chegar ao chamado cenário neutro. A resposta dependerá em grande parte de como a inflação se comporta à medida que o desemprego cai, e as autoridades estão se debruçando sobre pesquisas recentes em busca de pistas.

Estudos sugerem que os preços podem subir mais rápido, mas não muito, se o desemprego cair um pouco mais. E a inflação pode se tornar preocupante se o desemprego cair muito mais.

É provável que os formuladores deixem a taxa de referência inalterada quando a reunião de dois dias terminar, na próxima quarta-feira, e esperem até setembro para o próximo aumento. Eles aumentaram a taxa duas vezes este ano, mais recentemente em junho, para um intervalo entre 1,75% e 2%, e indicaram mais dois movimentos este ano.

"A economia se mostra tão forte que parece natural que empresas e consumidores possam viver com taxas de juros mais neutras", disse o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, em recente entrevista. "Então torna-se mais importante fazer um balanço de... quantas pressões inflacionárias veremos, se houver."

As autoridades do Fed querem aumentar as taxas o suficiente para evitar o superaquecimento da economia em rápida expansão, mas não tanto que sufoquem prematuramente o crescimento saudável. Até agora, estão conseguindo. O banco central está mais perto de cumprir seus dois mandatos do Congresso para maximizar o emprego e manter preços estáveis do que em qualquer outro momento da última década.

O desemprego subiu para 4% em junho, de 3,8% em maio, por boas razões: um grande salto no número de americanos procurando emprego. Excluindo as categorias voláteis de alimentos e energia, a inflação subiu 2% em maio em relação ao ano anterior. Foi a primeira vez em seis anos que o chamado núcleo de inflação, indicador preferido do Fed, alcançou a meta do banco central.

Agora, o presidente do Fed, Jerome Powell, está observando sinais de que a economia poderia ir em uma de duas direções: em um cenário, a inflação se acelera quando o desemprego cai para níveis muito baixos, exigindo aumentos de taxa mais agressivos para manter as pressões de preços sob controle; no outro, um período de baixa taxa de desemprego atrai mais trabalhadores para a força de trabalho, enquanto as pressões inflacionárias permanecem sob controle.

Pesquisadores do Fed examinaram recentemente as duas possibilidades. Um estudo analisou dados das áreas metropolitanas dos EUA para ver o que acontece com a inflação quando o desemprego é muito baixo. Há muito tempo os economistas sustentam que a inflação aumenta com a queda do desemprego e vice-versa. Mas a relação, chamada de curva de Phillips, pareceu muito fraca nas últimas décadas. A inflação permaneceu branda mesmo quando a taxa de desemprego caiu de 10% em 2009 para 4% em junho. Os economistas do Fed descobriram, no entanto, que a inflação aumentou mais rapidamente quando a taxa de desemprego caiu abaixo de 3,75%.

Um dos pesquisadores, Alan Detmeister, que agora trabalha no UBS Group AG, disse que quando o Fed começou o estudo, em 2016, ele considerou "altamente improvável" que a taxa de desemprego dos EUA chegasse a 3,75% e minimizou os resultados. "Agora estamos meio que nesse ponto."

No final dos anos 1960, a última vez que o desemprego caiu abaixo de 4% por um período sustentado, a inflação acelerou-se constantemente. Na década de 1970, se a inflação subisse um ano, os consumidores esperavam que aumentasse na mesma proporção no ano seguinte, e assim ocorreu. As autoridades do Fed acreditam que as expectativas de inflação futura podem ser autorrealizáveis, uma vez que os trabalhadores exigem aumentos salariais e as empresas aumentam os preços em antecipação.

Uma pesquisa separada do Fed publicada em 2016 utilizou dados da década de 1960 para medir o nível em que as pressões inflacionárias começam a prejudicar a economia. Os pesquisadores concluíram que isso acontece quando os preços ao consumidor subiram em 3% de forma sustentada, de acordo com o indicador preferido pelo Fed.

Economistas dizem que a inflação acelera quando o desemprego cai abaixo do chamado nível natural, que as autoridades do Fed estimam em 4,1% a 4,7%. Segundo Jeremy Nalewaik, autor do estudo, que agora trabalha no Morgan Stanley, o "ponto em que pode obter um grande aumento da inflação" se aproximando de 3% é quando a taxa de desemprego cai 1,5 ponto porcentual abaixo do nível natural, disse.

As autoridades do Fed também estão ansiosas para saber quanto os trabalhadores podem se beneficiar quando o desemprego está muito baixo. Os formuladores de políticas se perguntam se as pessoas à margem do mercado de trabalho poderiam encontrar mais facilmente empregos, adquirir habilidades e se tornar mais produtivas, melhorando permanentemente suas chances de emprego. Isso reduziria a taxa de desemprego natural e reduziria a perspectiva de superaquecimento da economia.

Pesquisadores do Fed de Cleveland, usando dados em nível estadual, procuraram sinais de que os períodos de baixa taxa de desemprego geravam benefícios duradouros para os homens com menor escolaridade e em idade de trabalhar. A conclusão foi a de que "uma vez que o mercado de trabalho retorna a uma espécie de estado normal, os benefícios de um mercado trabalho apertado para esses grupos desfavorecidos não duram muito", disse Bruce Fallick, co-autor do estudo.

Powell sinalizou que está analisando cuidadosamente os dados econômicos atuais para discernir qual dos dois cenários parece mais provável. Uma dificuldade que ele observa é que duas das variáveis cruciais só podem ser estimadas, em vez de observadas: a taxa de juros neutra e o nível natural de desemprego. "É difícil prever a economia e esses conceitos que temos", disse Powell em uma entrevista em julho. "Não é como o fato de a água ferver a 100 graus. A economia não ferve com 4% de desemprego."

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