Economia

Choque do petróleo chega em mau momento para economia global

Embora a gravidade do impacto dependa de quanto tempo durar a alta das cotações, ocorrido pode abalar ainda mais confiança de empresas e consumidores

Drone atinge instalação de petróleo na Arábia Saudita (REUTERS/Reuters)

Drone atinge instalação de petróleo na Arábia Saudita (REUTERS/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de setembro de 2019 às 17h08.

Última atualização em 16 de setembro de 2019 às 17h13.

O salto recorde do preço do petróleo após o ataque de drones a uma instalação de petróleo da Arábia Saudita não poderia ter chegado em pior momento para a economia global, já atingida por uma profunda desaceleração.

Embora a gravidade do impacto dependa de quanto tempo durar a alta das cotações, o ocorrido pode abalar ainda mais a confiança de empresas e consumidores, já frágil devido à disputa comercial EUA-China e à desaceleração da demanda global.

Além disso, o desaquecimento da atividade manufatureira em todo o mundo afeta o crescimento de potências de exportação, como China e Alemanha.

"Um choque negativo de oferta como este, quando o crescimento global está em desaceleração sincronizada, com muitos pontos geopolíticos fervendo, é exatamente o que não precisamos", disse Rob Subbaraman, chefe de pesquisa macro global da Nomura Holdings, em Cingapura.

O choque do petróleo ocorre em meio a uma enxurrada de sinais de alerta para a economia global. Dados divulgados na segunda-feira mostraram que a China registrou o pior desempenho mensal da produção industrial desde 2002.

Em julho, o Fundo Monetário Internacional havia reduzido sua projeção de crescimento global - que já era a mais baixa desde a crise financeira - para 3,2% este ano e 3,5% no próximo; uma taxa de expansão de 3,3% ou menos seria a mais fraca desde 2009.

Impacto variável

O impacto do petróleo mais caro deve variar em todo o mundo.

Economias emergentes com déficits em conta corrente e fiscais - como Índia, África do Sul, entre outras - correm o risco de sofrer grandes fugas de capital e desvalorização das moedas.

Mercados exportadores poderiam registrar um aumento nas receitas corporativas e dos governos, enquanto países consumidores arcariam com os custos nos postos de gasolina, potencialmente acelerando a inflação e esfriando a demanda. Como maior importador mundial de petróleo, a China é vulnerável à valorização das cotações, além de muitos países da Europa, que também dependem de energia importada.

Mas, como a inflação não é uma preocupação imediata na economia global, o maior receio é o efeito que um choque de preços teria sobre a demanda global, que já está fraca.

"A inflação não é realmente um problema no momento", disse Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia da Oxford Economics, em Hong Kong. "Mas a escassez de produção e aumento de preços vão sufocar o poder de compra e, assim, pesar nos gastos em um momento precário para a economia global."

Resposta dovish?

Uma análise do FMI em 2017 constatou que um choque de desvio-padrão por um ano na oferta de petróleo - no qual a cotação salta mais de 10% - reduziria o PIB global em cerca de 0,1% por dois anos.

As notícias da Arábia Saudita aumentam a chance de um apoio adicional da política monetária de bancos centrais, antecipando custos mais altos de energia, que são efetivamente um imposto para os consumidores, disse David Mann, economista-chefe do Standard Chartered em Cingapura, em entrevista à Bloomberg Television.

"Argumentaríamos que isso se soma às razões pelas quais veremos mais surpresas dovish dos bancos centrais nas próximas semanas", disse Mann.

O Federal Reserve dos EUA deve cortar as taxas de juros pela segunda vez seguida esta semana, segundo projeções. A reunião do Fed será seguida pela decisão do Banco do Japão, que está sob pressão de investidores para afrouxar ainda mais a política monetária. Os bancos centrais do Brasil, África do Sul, Noruega, Suíça e Reino Unido também decidem o rumo dos juros esta semana.

O presidente dos EUA, Donald Trump, aproveitou a ocasião para novamente atacar o Fed e pedir um corte maior dos juros. "Os Estados Unidos, por causa do Federal Reserve, estão pagando uma taxa de juros MUITO mais alta do que outros países concorrentes", tuitou Trump na segunda-feira.

Uma pista sobre como autoridades de política monetária poderiam reagir: o presidente do banco central das Filipinas, Benjamin Diokno, disse que o choque de preços será incorporado nas discussões da reunião para decidir as taxas de juros na semana que vem. O Banco da Indonésia tem reunião de política monetária marcada para quinta-feira. A maioria dos economistas pesquisados antes do ataque na Arábia Saudita previa um corte na taxa de 25 pontos-base.

Acompanhe tudo sobre:Arábia SauditaBloombergPetróleo

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor