Aeroporto internacional de Hong Kong, China. 6 de fevereiro de 2020. Foto: Ivan Abreu/Bloomberg (Ivan Abreu/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2020 às 06h00.
A China estuda medidas como fusões e injeção direta de capital para socorrer o setor aéreo, abalado pelo surto de coronavírus. A informação é de pessoas a par do assunto.
Uma das propostas é permitir que algumas das maiores empresas aéreas do país — que são estatais — absorvam concorrentes menores que sofrem mais com o colapso do fluxo de viajantes, revelaram as fontes. Outra opção é o governo injetar bilhões de dólares para salvar o setor, segundo as pessoas, que pediram anonimato porque as medidas não foram discutidas publicamente. As discussões estão em andamento e nenhuma decisão foi tomada a respeito da estrutura final do pacote de resgate, acrescentaram.
O setor aéreo, particularmente na China, foi assolado pela epidemia após a identificação do vírus na cidade de Wuhan. Em uma decisão sem precedentes, companhias aéreas do exterior suspenderam aproximadamente 80% dos voos na China e empresas locais paralisaram aviões que transportariam 10,4 milhões de passageiros. Os problemas deixaram o mercado de aviação da China do tamanho do mercado de Portugal, segundo a firma de pesquisas OAG Aviation Worldwide.
As medidas em estudo pelo governo incluem isenções na amortização de empréstimos e condições de leasing mais favoráveis para aeronaves, segundo as fontes.
Na semana passada, a agência de aviação civil da China informou que o governo apoiaria medidas para ajudar na recuperação do setor, incluindo fusões, mas não forneceu detalhes. O governo já anunciou planos para diminuir impostos e taxas para as companhias aéreas e agora se movimenta de uma forma mais ampla para proteger empregos, renunciando temporariamente aos pagamentos da previdência social em diferentes setores.
A assessoria de imprensa da Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais, responsável também pelas principais companhias aéreas, informou não ter conhecimento sobre esses planos de resgate. A agência reguladora do setor aéreo não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O mercado de aviação da China atualmente é o 25º do mundo, mas ultrapassará o dos EUA e se tornará o maior de todos ainda nesta década, segundo a OAG. A China Southern cancelou cerca de 45% dos voos no final de janeiro e início de fevereiro, a maior parcela entre as principais operadoras do país, de acordo com pesquisa do Citigroup.
O estrago chegou à Cathay Pacific Airways, que tem sede em Hong Kong. Na segunda-feira, a companhia alertou que os resultados financeiros do primeiro semestre serão “significativamente menores” do que um ano antes. Hong Kong e China representaram cerca de metade da receita total da companhia.
O setor privado também se mobiliza. Três das maiores empresas globais de leasing — AerCap Holdings, Air Lease e Avolon Holdings — informaram na semana passada que consideram medidas como renunciar a pagamentos de leasing e oferecer estruturas de venda e devolução a longo prazo de aeronaves (o chamado sale-leaseback), o que injetaria dinheiro nas operadoras mais atingidas.
A Avolon oferecerá até US$ 6 bilhões em financiamento para ajudar as companhias aéreas atingidas pelo vírus, disse o presidente Domhnal Slattery em entrevista realizada em 12 de fevereiro. A empresa sediada em Dublin vai focar em transações de sale-leaseback na China e arredores.
A Air Lease está em negociações para retirar da China aviões de fuselagem estreita e redirecionar essas aeronaves para mais de uma dezena de companhias aéreas europeias atingidas por atrasos nas entregas de jatos 737 Max, da Boeing, e SE A320, da Airbus. A AerCap pretende atender ao pedido do governo chinês de ajuda para as companhias chinesas enfrentarem a crise.
“Essas companhias aéreas são nossas parceiras há décadas e continuarão sendo nossas parceiras nas próximas décadas”, disse o presidente da AerCap, Aengus Kelly, em uma teleconferência em 13 de fevereiro.