China está "otimista" em negociações com os EUA
Apesar das novas tarifas americanas, a China concordou em fazer novas negociações com os Estados Unidos em Pequim
Reuters
Publicado em 11 de maio de 2019 às 15h37.
Washington - China e Estados Unidos concordaram em realizar mais reuniões sobre comércio em Pequim, disse o vice-premier Liu He, enquanto o presidente americano Donald Trump ordenou o começo do processo de impor tarifas a todas as importações restantes da China.
Liu expressou otimismo calculado sobre a possibilidade de chegar a um acordo, mas disse que havia "problemas de princípio" nos quais a China não recuaria.
"As negociações não foram interrompidas", disse Liu, principal negociador da China nessas discussões, em Washington, na sexta-feira, de acordo com a televisão estatal, neste sábado. "Pelo contrário, eu acho que pequenos obstáculos são normais e inevitáveis durante negociações entre dois países. Olhando para a frente, ainda estamos cautelosamente otimistas", disse Liu.
Mas o otimismo de Liu foi fragilizado pelo secretário de Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, que disse à CNBC na sexta-feira que não haveria mais conversas planejadas com a China "por enquanto".
E no sábado, Trump publicou no Twitter: "Uma maneira fácil de evitar tarifas? Faça seus bens e produtos no bom e velho Estados Unidos. É muito simples!".
Os Estados Unidos subiram o tom na escalada da guerra de tarifas com a China na sexta-feira ao elevar a tributação em US$ 200 bilhões dos produtos chineses em meio a conversas de última hora para resgatar um acordo comercial. Trump havia adiado o início das novas tarifas, enquanto as negociações entre Washington e Pequim progrediam.
Na sexta-feira, Trump emitiu ordens para aumentar as tarifas, dizendo que a China "quebrou o acordo" ao recuar em compromissos que havia prometido durante meses de negociações.
A China se opõe com veemência às últimas elevações de tarifas dos EUA e, como nação, precisa responder a isso, disse Liu a um pequeno grupo de repórteres chineses em um vídeo.
"No momento, os dois lados chegaram a um entendimento mútuo em muitas coisas, mas, francamente, também há diferenças. Acreditamos que essas diferenças são problemas significativos de princípio", disse Liu. "Nós absolutamente não podemos fazer concessões em questões de princípio".
Ele acrescentou que as discussões continuariam em Pequim, mas não deu detalhes. Mas, sublinhando a falta de progresso nas conversas, Trump ordenou a elevação de tarifas.
As medidas de Trump colocariam aproximadamente US$ 300 bilhões de importações chinesas sujeitas a tarifas punitivas, disse o representante comercial americano Robert Lightizer, em um comunicado na sexta-feira. Lightizer disse que uma decisão final não foi tomada sobre novas obrigações, que viriam depois de um aumento de tarifas no começo da sexta-feira, de 10% a 25%, em US$ 200 bilhões de importações chinesas.
Detalhes das diferenças com a China
Três diferenças permanecem entre os dois países, de acordo com a versão da China sobre as últimas conversas.
Uma é sobre tarifas, disse Liu, de acordo com a transcrição de uma entrevista publicada pelo Phoenix, uma emissora de televisão de Hong Kong próxima a Pequim. A China acredita que as tarifas foram a gênese da disputa comercial, e que, se os dois lados quiserem chegar a um acordo, todas as tarifas têm que ser eliminadas, disse Liu.
A segunda é sobre aprovisionamento, em que houve um consenso inicial entre os líderes dos dois países na Argentina, ano passado. Os dois lados agora têm visões diferentes em relação ao volume, disse Liu. O terceiro é sobre o quão equilibrado o texto do rascunho do acordo entre eles tem que ser, disse.
"Toda nação tem sua dignidade, então o texto precisa ser equilibrado", disse Liu.
Fontes afirmaram à Reuters, esta semana, que a China apagou seus comprometimentos no rascunho do acordo que dizia que mudaria suas leis para resolver problemas essenciais dos Estados Unidos: roubo de propriedade intelectual dos EUA e segredos comerciais; transferências forçadas de tecnologia; políticas de concorrência; acesso a serviços financeiros; e manipulação de moeda.
Liu negou as acusações de que a China teria recuado nas promessas, dizendo que o país pensar ser normal fazer mudanças antes de um acordo final. Os dois lados têm visões diferentes sobre a maneira de articulá-lo, disse.
Liu afirmou que espera que esse problema seja resolvido, então seria desnecessário "exagerar" nesse ponto. Parecido com Liu, a imprensa estatal chinesa afirmou que o país não recuaria em seus interesses essenciais.
"A China claramente exige que os números do acordo comercial sejam realistas; o texto precisa ser equilibrado e expressar em termos que são aceitáveis para o povo chinês e não prejudiquem a soberania e a dignidade do país", disse o jornal oficial do Partido Comunista, Diário do Povo, em um comentário, no sábado.
A guerra comercial tem sido um fardo para a economia chinesa.