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China está disposta a negociar sobretaxas a produtos do Brasil

A liberação das sobretaxas chinesas foi um dos assuntos tratados entre o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente chinês Xi Jinping

China: embaixador chinês disse que o país pode negociar a liberação de sobretaxas (Fabrizio Bensch/Reuters)
AB

Agência Brasil

Publicado em 29 de julho de 2018 às 10h56.

As autoridades chinesas "têm toda a vontade" de buscar com as autoridades brasileiras uma solução para diminuir ou eliminar as sobretaxas a produtos brasileiros, como a carne de frango e o açúcar, informou o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, em entrevista à Agência Brasil.

"Essa é uma questão técnica. Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas para encontrar uma solução adequada", acrescentou.

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A liberação das sobretaxas chinesas foi um dos assuntos tratados entre o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente chinês Xi Jinping durante a 10ª Cúpula do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), concluída nessa sexta-feira (27) em Joanesburgo (África do Sul).

O embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, disse que o país pode negociar a liberação de sobretaxas aos produtos brasileiros - José Cruz/ Agência Brasil

Li Jinzhang disse que o Brasil fez uma parceria estratégica com a China há muitos anos e que essa união "trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados".

Veja a entrevista concedida à Agência Brasil pelo embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang:

Agência Brasil: Embaixador, com a posição norte-americana de sobretaxar a China, a soja brasileira se valorizou na Bolsa de Chicago. O Brasil exporta sobretudo soja em grão e o presidente Temer demonstrou ao presidente Xi Jinping, durante o encontro entre eles, o desejo brasileiro de vender soja processada, como óleo e farelo de soja. Ele disse que o presidente chinês recebeu bem a proposta. O senhor acha que isso poderá ocorrer logo?

Li Jinzhang: Nos últimos nove anos consecutivos, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil e o Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina. Nos últimos três anos, o comércio dos produtos agrícolas está aumentando bastante. A China já se tornou o maior destino das exportações dos produtos agropecuários brasileiros, como por exemplo, a soja. No ano passado, 50% de toda a importação de soja da China no mundo veio do Brasil. O presidente Temer fez uma proposta de exportar mais óleo de soja. Ambas as partes podem aprofundar essa discussão daqui para a frente. Vamos discutir com base nos agronegócios. Acho que esse assunto tem um grande futuro.

Agência Brasil: Analistas econômicos de todo o mundo têm dito que as relações comerciais entre China e Brasil vão se intensificar, a começar pela soja. Em quais áreas isso se daria, além da agricultura?

Li Jinzhang: Produtos pecuários, como proteínas. No ano passado, a China importou mais de 570 mil toneladas de carne bovina. Em pouco tempo, a China se tornou um dos maiores destinos da carne bovina, através desses exemplos vocês percebem que há grande potencial de comércio de produtos agrícolas e pecuários.

Agência Brasil: O presidente Michel Temer também pediu ao presidente Xi Jinping que libere as sobretaxas em relação ao frango e ao açúcar brasileiro. O senhor avalia que essas sobretaxas podem diminuir ou mesmo cair?

Li Jinzhang: A exportação do Brasil de certos produtos chegam à China com preços muito menores do que os do mercado chinês, chegando em determinados momentos a causar impacto na indústria correlacionada da China. Por causa disso, os produtores dessas indústrias solicitaram que o governo chinês, baseado em regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC), fizesse um levantamento desses produtos, de acordo com regras antidumping existentes. Com a ampliação muito rápida do nosso comércio, é normal surgirem esses problemas. É preciso que haja um processo de coordenação. É a mesma coisa de as empresas brasileiras pedirem para o governo brasileiro fazer antidumping contra alguns produtos chineses. Como países amigos e bons parceiros, e defensores do livre comércio, demonstraremos toda a vontade de sentar para negociar e procurar solução para esses problemas. Existe essa vontade amistosa, mas é uma questão técnica. Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas para encontrar uma solução adequada.

Agência Brasil: Além das trocas agrícolas, Temer relatou que também foram tratadas na reunião dos Brics questões relacionadas às concessões e privatizações no Brasil e os investimentos chineses em obras de infraestrutura nas áreas de ferrovias, portos, aeroportos, linhas de transmissão e distribuidoras de energia. Xi Jinping disse que pretende continuar a investir no Brasil. Quais serão os próximos investimentos da China no Brasil?

Li Jinzhang: Sobre investimentos, ambas as partes já definiram as áreas prioritárias: energia, telecomunicações, infraestrutura, agricultura e ciência e tecnologia. A área de infraestrutura é a área mais importante de nossa cooperação. O governo brasileiro espera que as empresas chinesas aumentem investimentos nessa área. E o governo chinês também motivará as empresas chinesas a aprofundarem a cooperação nessas áreas. Na área de portos, temos obtido muitos resultados. Haverá muitos avanços na área de ferrovias, incluindo os transportes urbanos como o VLT (veículo leve sobre trilhos) e o metrô. Em Brasília, uma empresa chinesa já levou ao governo local seu interesse no VLT.

Agência Brasil: Temer tratou ainda com Xi Jinping do estabelecimento da sede do Escritório Regional da Américas, do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, em São Paulo, com escritório em Brasília. Qual a importância disso para o comércio entre as duas nações?

Li Jinzhang: Essa é uma boa notícia. O novo Banco de Desenvolvimento dos Brics nasceu em Fortaleza. Após muitos anos de preparação e funcionamento, ele tem obtido muito sucesso. A instalação da sede em São Paulo e escritório em Brasília vai estimular maior cooperação entre os países do Brics e com os países da América do Sul. O mais importante é a cooperação na área de investimentos. Com certeza, vai estimular também a cooperação comercial.

Agência Brasil: Houve grande convergência na reunião do Brics sobre a importância de o bloco prestigiar um sistema multilateral de comércio baseado em regras, com a OMC à frente. A posição da China foi referendada pelos países que compõem o Brics. O presidente Xi Jinping pediu na abertura da cúpula que os Brics "rejeitem o unilateralismo" presente hoje no mundo. É este o caminho? Como enfrentar os acordos bilaterais anunciados entre EUA e União Europeia?

Li Jinzhang: Nessa cúpula, os países do Brics usaram voz conjunta para salvaguardar o comércio multilateral e continuar a apoiar a liberação do comércio e do investimento. Isso é muito importante em face do cenário internacional atual. Sobre o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia, esperamos que todas as medidas tomadas se baseiem no mecanismo multilateral. Sobre esse acordo, acho que estamos só no início. Precisamos ainda observar.

Agência Brasil: Qual a sua mensagem em termos da parceria da China e do Brasil no mundo?

Li Jinzhang: A China e o Brasil são os maiores países nos hemisférios Ocidental e Oriental, que há muitos anos estabeleceram parcerias estratégicas. E agora estão realizando parceria global. A cooperação amigável trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados. Ao mesmo tempo, são dois países de mercados emergentes e membros do Brics. Nos assuntos internacionais, sempre temos posições iguais ou semelhantes. Temos aspirações comuns. E somos parceiros nos assuntos internacionais. Espero que os dois países possam como sempre elevar a cooperação amistosa para um novo patamar.

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