Economia

China diminui distância dos EUA na corrida tecnológica

Com investimento em pesquisa e a expansão no ensino superior, China está reduzindo rapidamente a distância em relação aos EUA em propriedade intelectual

China e EUA: segundo especialistas, ameaça de tarifas punitivas do presidente norte-americano sobre às importações de alta tecnologia do gigante asiático possa desacelerar o ímpeto de Pequim (Feng Li/Reuters)

China e EUA: segundo especialistas, ameaça de tarifas punitivas do presidente norte-americano sobre às importações de alta tecnologia do gigante asiático possa desacelerar o ímpeto de Pequim (Feng Li/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 13 de abril de 2018 às 20h01.

Hong Kong - Com crescente investimento em pesquisa e a expansão no ensino superior, a China está reduzindo rapidamente a distância em relação aos Estados Unidos em propriedade intelectual, na luta para ser a maior potência tecnológica do mundo, disseram especialistas em patentes.

Embora a ameaça de tarifas punitivas do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre às importações de alta tecnologia da China possa desacelerar o ímpeto de Pequim, isso não vai reverter a maré, dizem eles. A alegação de Washington de que a China se envolveu com roubo de propriedade intelectual durante muitos anos - o que é negado por Pequim - é uma razão central para o agravamento do conflito comercial entre os EUA e a China.

As previsões de quanto tempo levará para que Pequim fechar o hiato tecnológico variam, embora vários especialistas em patentes afirmem que isso pode acontecer na próxima década. E a China já está avançando em algumas áreas.

"Com o número de cientistas que a China está treinando a cada ano, eventualmente, alcançará, independentemente do que os EUA fizerem", disse David Shen, diretor de propriedade intelectual na China da firma de advocacia Allen & Overy.

De fato, os advogados de patentes veem a promessa do presidente Xi Jinping no início desta semana de proteger os direitos de propriedade intelectual de estrangeiros como uma projeção da confiança na posição chinesa como líder inovadora em setores como telecomunicações e pagamentos online, bem como sua capacidade de recuperar terreno em outras áreas.

No ano passado, a China superou o Japão como segundo colocado no mundo em patentes, com crescimento anual de 13,4 por cento, de acordo com a World Intellectual Property Organization. Se mantido, o ritmo levará a China a superar os EUA em pouco mais de um ano, um forte indício de suas ambições.

Esse progresso foi construído em fundações que provavelmente se fortalecerão ainda mais.

A China gasta hoje 2,1 por cento de seu Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento, ainda atrás dos 2,75 por cento dos EUA, mas um aumento notável ante apenas 0,7 por cento nos anos 1990 e se aproximando da média de 2,35 por cento entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Dados do Banco Mundial mostram que a China agora produz 1.177 pesquisadores por cada milhão de habitantes, três vezes o nível dos anos 1990 e em linha com a média mundial. Os EUA produzem muito mais pesquisadores por milhão - 4.321 -, mas isso é mais do que compensado pela população da China, cerca de quatro vezes maior.

E o número de pesquisadores chineses só vai aumentar.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a China agora tem mais de 40 por cento de seus alunos matriculados em cursos técnicos e superiores, metade da percentagem dos EUA, mas um aumento impressionante de 0,1 por cento na década de 1970.

"Se você olhar para 5-10 anos, verá um campo de atuação muito mais nivelado em termos de inovação, especialmente em plataformas online, inovação digital, aprendizado de máquina e inteligência artificial", disse Richard Titherington, diretor de investimentos para mercados emergentes asiáticos do JP Morgan Asset Management, que administra 80 bilhões de dólares.

Titherington disse que os pagamentos online são o exemplo mais claro de que a China ultrapassou os EUA, com os telefones celulares substituindo cartões de crédito quase inteiramente como forma de pagamento nas principais cidades chinesas, enquanto "muitos norte-americanos ainda usam cheques".

Ele disse que os mercados de ações fornecem um sinal do progresso chinês - pelo menos aos olhos dos investidores. O retorno total com as ações do Facebook desde sua listagem em bolsa em 2012 foi de 373 por cento, contra 883 por cento de seu concorrente chinês na mídia social Tencent. A ação do Twitter caiu 28 por cento desde a sua listagem em 2014, enquanto o Weibo ganhou 656 por cento.

Especialistas em propriedade intelectual, no entanto, dizem que a China ainda está atrasada em áreas como semicondutores, robótica e biotecnologia.

Questão de qualidade

Os números patentes não contam toda a história. Há uma lacuna percebida na qualidade, o que sugere que a China levará mais tempo para recuperar o atraso.

A fabricante de smartphones Huawei HWT.UL] é a única chinesa que chegou à lista dos 100 principais inovadores da Clarivate Analytics em 2017, ranking baseado não apenas em volumes de patentes, mas também na influência em outras organizações.

Em 2016, a China produziu quase 500 mil artigos científicos de acordo com dados da empresa global de análise de informações Elsevier, ocupando o segundo lugar globalmente e se aproximando dos 600 mil dos EUA. A lacuna caiu pela metade em cinco anos.

Mas em média um artigo chinês recebe 0,93 citação, contra 1,23 para documentos dos EUA. Citações são uma indicação de quão valioso o trabalho de um pesquisador é visto por seus pares.

Nessa métrica, a China está 11 lugares atrás dos EUA em 33º, em um ranking com apenas países que publicaram mais de 10 mil artigos. Gabriela Kennedy, chefe do propriedade intelectual da Ásia na firma de advocacia Mayer Brown JSM, diz que isso pode medir a qualidade do trabalho de pesquisa de cada país.

"(Os chineses) são muito bem-sucedidos no que estão fazendo em algumas grandes empresas, mas se olhar além disso, eles não são particularmente inovadores", disse Kennedy. "Mas eu não acho que isso vai durar muito tempo."

Se Washington quiser desacelerar o avanço tecnológico da China, poderá considerar medidas que restrinjam ainda mais os produtos que as empresas norte-americanas licenciam para empresas chinesas e ampliem as definições de segredos comerciais, dizem os advogados.

Mas eles também alertam que regras mais duras podem ser contraproducentes, já que as empresas podem encontrar formas de contorná-las, incluindo a criação de entidades em jurisdições fora dos EUA para manter o acesso ao vasto mercado chinês.

Vontade política

Xi prometeu na terça-feira que a China protegerá a propriedade intelectual de empresas estrangeiras, dizendo que espera que países estrangeiros façam o mesmo.

Os advogados dizem que as leis chinesas de proteção de patentes são comparáveis ​​às normas legais dos EUA e da Europa. O problema está na implementação, com altos níveis de burocracia, decisões judiciais regionais, e não nacionais, e juízes geralmente com diferentes interpretações das leis.

A recente criação de um Escritório Estatal de Propriedade Intelectual, no entanto, mostra intenção política e deve levar a uma aplicação mais uniforme, disse Loke-Khoon Tan, chefe de IP Practice Group em Hong Kong e China da Baker McKenzie e autor do livro "Pirates in the Middle Kingdom: A arte da Guerra das Marcas Registradas ".

Acompanhe tudo sobre:ChinaDonald Trumpempresas-de-tecnologiaEstados Unidos (EUA)

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto