Economia

Carros argentinos já estão em falta em São Paulo

Não há mais modelos do Agile, da GM, e do Focus, da Ford, em algumas concessionárias; se as restrições às importações perdurarem, o problema poderá se agravar

O Agile, da Chevrolet, está entre os que são produzidos na Argentina (Quatro Rodas/EXAME.com)

O Agile, da Chevrolet, está entre os que são produzidos na Argentina (Quatro Rodas/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2011 às 19h56.

São Paulo - As concessionárias brasileiras já sentem o impacto da decisão do governo Dilma em dificultar a importação de veículos. Estão em falta alguns modelos de automóveis fabricados na Argentina. Em São Paulo, por exemplo, a reportagem do site de VEJA apurou que só restam unidades do Agile, da Chevrolet, na cor vermelha em algumas revendedoras.

Na capital paulista e em Campinas (SP), a versão top de linha do Ford Focus, a Titanium, é difícil de ser encontrada em algumas lojas. A alegação das concessionárias da marca é que o veículo está parado nos postos aduaneiros e não há previsão de entrega. Os interessados são orientados a fornecer seus contatos para uma lista de espera que pode durar de 90 a 120 dias.

Para contornar o problema, há revendedoras que tentam trazer o veículos de estados com estoque mais folgado, evitando realizar novos pedidos às fábricas. Em cidades de menor porte, o problema ainda não é sentido, mas pode ser apenas uma questão de tempo para que isso mude. Segundo especialistas, se persistirem as restrições ao setor automotivo argentino, o desabastecimento no país pode se agravar, acarretando alta de preço de alguns modelos e maiores dificuldades para negociar descontos.

O desabastecimento do mercado nacional é fruto do recente embate entre os governos brasileiro e argentino. Desde 2003, o país vizinho vem criando dificuldade à entrada de produtos nacionais de diferentes setores e o Palácio do Planalto finalmente decidiu contra-atracar. Para tanto, escolheu o automóvel, que é um produto estratégico no comércio bilateral – nada menos que 80% da produção argentina é destinada ao mercado brasileiro.

Na semana passada, o governo Dilma mudou a regra para importação, colocando os veículos em licença não automática. Apesar de abranger automóveis de todos os países, a medida visa, na prática, impõe dificuldade às importações argentinas. A decisão já é sentida nas concessionárias porque as grandes montadoras instaladas no Brasil, como General Motors, Volkswagen, Ford etc, produzem parte de seu portfólio em território nacional e outra parcela no país vizinho. De modo geral, a estratégia da indústria consiste em fabricar carros mais populares e em maior escala no país e veículos um pouco mais sofisticados na Argentina.


A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) reconhece que a medida introduz um entrave no setor. “É claro que a medida cria um descompasso no trânsito de produtos para o Brasil”, diz Adhemar Cantero, diretor de relações institucionais da entidade. “A partir de agora há mais burocracia e mais demora no processo de importação. Pode ser que haja uma interrupção na transição”, aponta.

Esta parada corresponde aos sessenta dias em que o governo tem para emitir a licença de importação. Questionada pela reportagem se há desabastecimento do mercado brasileiro e estoques em queda, a entidade nega o problema. Contudo, se as barreiras persistirem, a associação diz que poderá reavaliar esse posicionamento.

Estoque de argentinos é menor – O ritmo de redução dos estoques de alguns modelo na rede de distribuição e até seu desaparecimento das lojas dependem, na verdade, de uma série de fatores, como o sucesso que o modelo faz junto ao consumidor e o planejamento da concessionária. De qualquer modo, os especialistas alertam que os veículos ‘made in Argentina’ estão numa posição um pouco mais complicada.

O problema é que, dada a facilidade de trazer o veículo do país vizinho, as empresas não trabalhavam com estoques elevados. No caso dos modelos provenientes do México e do Coréia do Sul, por exemplo, as montadoras trazem unidades em quantidade suficientes para um a dois meses.

Além da ‘dor de cabeça’ de eventualmente não encontrar na concessionária o veículo desejado, o consumidor pode ser prejudicado de outras formas. A depender do produto, poderá ocorrer aumento de preço – uma conseqüência natural de uma demanda elevada e restrições na oferta. A elevação, pelo menos, não será generalizada. Segundo os especialistas, o mercado brasileiro é muito competitivo e não comportaria este fenômeno.

É muito provável também que, diante dos problemas para importar, as concessionárias aproveitem para impor obstáculos à tradicional barganha. “Acredito que as dificuldades criadas diminuam as margens para a negociação de preços”, sinaliza David Wong, diretor da consultoria Kaiser Associates Brasil. Por enquanto, a estratégia mais usada é convencer o consumidor a esperar. 


Diversas concessionárias pedem paciência e dizem que podem trazer veículos de revendedoras mais bem abastecidas. “É só você nos dar um sinal que podemos localizar no Brasil onde há o carro que o senhor deseja e pedir para trazer para cá”, afirmou um vendedor que pediu para não ser identificado.

Custo para as montadoras – As montadoras instaladas no país também sentirão o impacto. O fato é que, quando elas fecham os contratos de importação, já devem começar os pagamentos. Demoras na entrega desequilibram o fluxo de caixa. Enfim, a perspectiva não é favorável para quase ninguém, tampouco para as relações bilaterais. “Um acordo comercial (como o do Mercosul) tem regras definidas. Não pode funcionar a base de ameaças”, diz Luiz Carlos Mello, presidente do Centro de Estudos Automotivos (CEA).

Oportunidade para os asiáticos – Enquanto as relações entre Brasil e Argentina vão de mal a pior, as dificuldades no mercado podem ser transformar em vantagem para outros competidores, em especial os asiáticos. “Se a situação permanecer no longo prazo, quem ganha espaço são os mercados da Ásia”, diz Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira (Camarbra). “Estamos torcendo para que prevaleça o bom senso e que haja entendimento”.

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