Economia

Campos Neto: Fiscal frágil afasta apetite por risco a países como Brasil

O presidente do Banco Central alertou que o Brasil precisa mostrar melhora na dinâmica da dívida

O presidente do Banco Central afirmou que Brasil está, junto com a África do Sul, no topo dos países mais endividados do mundo emergente (Adriano Machado/Reuters)

O presidente do Banco Central afirmou que Brasil está, junto com a África do Sul, no topo dos países mais endividados do mundo emergente (Adriano Machado/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 15 de abril de 2021 às 13h18.

Última atualização em 15 de abril de 2021 às 13h52.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou nesta quinta-feira, 15, a avaliação da fragilidade fiscal no Brasil e citou que isso causa atraso na volta do apetite por risco a países nessa situação, alertando que o Brasil precisa mostrar melhora na dinâmica da dívida.

Campos Neto afirmou que a dívida local já vinha em trajetória ruim, mas piorou durante a pandemia. O presidente do BC ressaltou que mesmo em governos com dívida alta há diferenciação na tolerância do mercado ao risco e que o fiel da balança nesse caso é o crescimento econômico.

"Se você tem uma dívida alta, mas cresce muito mais do que os juros que você paga, então a dívida se dilui. Se você tem crescimento abaixo dos juros que você paga, acontece o contrário", disse o presidente do BC em evento virtual promovido pela ABFintechs.

Exibindo uma apresentação, Campos Neto afirmou que nesse sentido o Brasil está, junto com a África do Sul, no topo dos países mais endividados do mundo emergente e que, com isso, ambos possuem as curvas de juros mais inclinadas.

"Nos países com dívida maior você teve um retorno ainda muito parcial em relação ao que existia em termos de apetite por risco. Sempre foi descolado, mas o descolamento aumentou durante essa crise", afirmou, referindo-se à diferenciação entre países altamente endividados e os demais.

As preocupações com os níveis de dívida, sobretudo de emergentes, aumentaram neste ano à medida que o "reflation trade" ganha força e eleva as taxas de juros de títulos soberanos nos países centrais, o que aumenta o peso do custo dessas obrigações em nações não desenvolvidas.

Mas Campos Neto ponderou que a narrativa do "reflation trade" não significa que haverá um "surto" de inflação no mundo.

"É só uma reprecificação de uma variável que, na cabeça dos agentes de mercado, estava morta durante muito tempo", disse, em referência à inflação. As razões para o temor de volta da inflação, segundo ele, vêm da combinação de muitos incentivos à economia, aceleração da vacinação e dúvida sobre a estratégia de saída, de forma mais organizada, dos atuais estímulos.

O "reflation trade" é um fenômeno que ocorre quando investidores adotam estratégias voltadas a ativos que tendem a se valorizar em tempos de maior inflação na esteira de recuperação de crises.

Sobre a alta de preços no Brasil, Campos Neto reiterou que a inflação de 12 meses ainda deve aumentar até meados do ano, antes de diminuir até o fim do ano, e que a decisão do Copom de elevar em março os juros em magnitude maior decorreu da contaminação da inflação de 2021 sobre as expectativas para 2022 e também 2023 e 2024.

"Entendo que, se a gente fizer mais, a gente evita de forma mais eficiente essa contaminação, que é temporária, aos outros elementos e aumenta a eficiência do ajuste (da Selic), o que requer um ajuste menor."

O presidente do BC chamou atenção ainda para, segundo ele, uma melhora das projeções do mercado para as contas externas brasileiras enquanto a taxa real de câmbio segue depreciada.

"Essa diferença começa a projetar, vamos dizer assim, o começo de uma convergência para frente", afirmou, sem dar mais detalhes.

O presidente do BC reiterou a expectativa de melhora para a economia no segundo semestre.

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