Câmbio não se discute, diz embaixador chinês
O embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, vê grandes perspectivas de troca entre os países, mas garante que Pequim não cede a pressões externas quando o assunto é câmbio
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2010 às 11h12.
Brasília Depois da 2ª Cúpula do Bric, o embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, vê grandes perspectivas da cooperação entre os dois países. E enfatiza que a questão do câmbio chinês é assunto que diz só respeito à China. A China já é o segundo país do mundo com quem o Brasil tem mais relações comerciais. Para a China, as trocas com o Brasil correspondem a um terço da relação do país asiático com a América Latina.
Exame - A 2ª Cúpula do Bric já reflete algum impacto na corrente comercial de Brasil e China?
Qiu Xiaoqi - Depois da cúpula, as nossas perspectivas são mais brilhantes. As trocas comerciais entre Brasil e China já correspondem a um terço das trocas entre China e América Latina. Apesar disso, ainda não temos explorado todas as possibilidades. Podemos buscar resultados mais amplos e mais importantes.
Exame - A revista inglesa The Economist publicou na semana passada um artigo dizendo que os países do Bric não poderiam promover grandes mudanças na economia mundial por não conseguirem deixar de lado interesses individuais. O que o senhor acha desta afirmação?
Qiu Xiaoqi - Os quatro países se desenvolvem em cooperação, prezando a igualdade e o benefício mútuo. A cooperação precisa ser de benefício mútuo, ou ela não faz sentido. Seguimos com esforços para manter a segurança econômica mundial. Somos os países emergentes mais importantes do mundo, temos um papel fundamental no processo de recuperação da economia global. Juntos, os Brics representam 15% do mundo todo, e isso mostra o impacto que temos na economia global. Mas não estamos contra ninguém.
Exame - Durante a cúpula, as taxas de câmbio da moeda chinesa foram discutidas?
Qiu Xiaoqi - Este problema não se discute. Nós temos uma política responsável sobre esse problema. Qualquer decisão nesse aspecto deve ser uma decisão própria da China e não aceitamos pressões externas. O processo não pode ser desordenado, é necessário termos controle da situação, ou poderia ser uma catástrofe para China e para o mundo inteiro. O processo tem que ser processo paulatino e gradual, passo a passo. Temos feito muitos esforços para aperfeiçoar mecanismos de formação da taxa de câmbio da moeda chinesa para manter a taxa em um nível racional e equilibrado.
Exame - E como anda a questão da importação de carne brasileira o mercado chinês?
Qiu Xiaoqi - Acabamos de firmar um acordo. O mercado da China é muito grande e o povo chinês precisa cada dia mais de carne. É claro que produzimos muita carne, mas aceitamos também o produto vindo de outros países. Por um lado o mercado está aberto, por outro, quem quer exportar precisa fortalecer sua competitividade tanto de qualidade quanto de preço. Acredito que os empresários e produtores brasileiros são bastante competentes nesse sentido. Não duvido que eles possam fazer um trabalho muito bom nesse aspecto.
Exame - Quais setores brasileiros despertam maior interesse para cooperação?
Qiu Xiaoqi - As Olimpíadas de 2014 e Copa do Mundo de 2016 representam oportunidades importantes para aumentar a cooperação Brasil-China. O Brasil precisa melhorar muito a infraestrutura de muitas cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Os estádios, o transporte público, as estradas... A China pode oferecer uma cooperação de alto nível para o Brasil nesse setor.
Exame - Já existem propostas concretas nesse sentido?
Qiu Xiaoqi - Já estamos participando com muita força nisso. Acabamos de inaugurar o gasoduto do Gasene (Gasoduto da Integração Sudeste Nordeste). Este projeto mostrou a grande capacidade que a China de construir e de melhorar a infraestrutura com uma rapidez incrível. O gasoduto foi construído em menos de 4 anos e vai oferecer facilidades de energia para muitas regiões importantes do país.