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Brexit Latino? O que aconteceria se o Brasil decidisse sair do Mercosul

Brasil teria que abrir mão da tarifa externa comum e até de benefícios como viajar sem visto e passaporte nos vizinhos, além das perdas econômicas

Mercosul (mtcurado/Getty Images)

Mercosul (mtcurado/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 19h11.

Última atualização em 17 de setembro de 2019 às 19h14.

O presidente Jair Bolsonaro ameaça sair do Mercosul se houver uma guinada no eixo político do país vizinho com a possível eleição de Alberto Fernandez à presidência da Argentina. Entretanto, o preço a ser pago pelo Brasil para deixar o bloco pode ser alto comercial e politicamente.

Abandonar o Mercosul não é simples: o Congresso precisa aprovar a medida, o Brasil teria que abrir mão da tarifa externa comum e até de benefícios triviais, como isenção de visto e de passaporte para circular entre os quatro países.

Se o governo brasileiro continuar o caminho de ruptura do bloco, uma das maiores perdas será o recente acordo comercial assinado com a União Europeia, que vinha sendo negociado há 20 anos.

Uma eventual saída do Mercosul seria um sinal de “pouca seriedade” e afetaria a relação do Brasil com o resto do mundo, diz o ex-ministro de Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira. Para ele, a medida teria um forte impacto na indústria nacional: “A indústria chinesa vai aplaudir nossa saída do Mercosul de pé”.

Nos últimos dez anos, o Brasil acumulou superávit comercial de U$ 87 bilhões com os outros três países do Mercosul, mais do que o obtido com a China ou a União Europeia no mesmo período.

Só com a Argentina, o superávit é de U$ 8,5 bilhões ao ano. Cerca de metade das exportações do Brasil ao país vizinho vem do setor automotivo ou de produtos manufaturados. Ou seja, é um dos países que mais importam produtos de valor agregado do Brasil e não apenas commodities. A Argentina fica atrás apenas dos EUA na compra de calçados brasileiros.

Por outro lado, a economia brasileira depende em boa parte do trigo argentino. Metade do produto em grão consumido no Brasil é proveniente da Argentina, isento de impostos e taxas de exportação.

Na avaliação do ex-secretário de comércio exterior do extinto Ministério da Indústria e Comércio, Welber Barral, uma eventual saída do Mercosul tem potencial de grande perda econômica. Para ele, a alternativa de flexibilizar o bloco é melhor do que abandoná-lo. “Teremos o mesmo problema que o Reino Unido tem hoje com o Brexit, porque perderíamos os acordos comerciais.”

Em razão da complexidade para deixar completamente o bloco, integrantes da equipe econômica do governo preferem falar em deixá-lo mais flexível e permitir acordos tarifários bilaterais e negociações independentes. A medida dependeria, porém, de aprovação unânime dos quatro países.

Em entrevista recente, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, adotou tom mais cauteloso sobre a saída do Mercosul. “Talvez precisemos pensar em uma saída”, disse, acrescentando que o governo teria que pesar pontos de vista políticos mais amplos para decidir o que fazer. “O Mercosul é uma realidade que faz parte do plano para o nosso país, parte da nossa recuperação econômica.”

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