Brasileiro só recuperará riqueza perdida com recessão em 10 anos
Na projeção de economistas, o pico do Produto Interno Bruto (PIB) per capita alcançado em 2013 só será superado no início da próxima década
Reuters
Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 14h54.
São Paulo - Os efeitos da crise prolongada e da expectativa de lenta retomada da economia do Brasil vão fazer com que a riqueza do brasileiro demore dez anos para se recuperar do estrago causado pela recessão.
Na projeção de economistas, o pico do Produto Interno Bruto (PIB) per capita alcançado em 2013 só será superado no início da próxima década, entre 2022 e 2023.
"Em 2022, o PIB per capita deve alcançar 31 mil reais (em números deflacionados) e aí supera o patamar de 2013, quando estava em 30,8 mil reais. É praticamente uma década perdida", diz o economista e sócio da consultoria 4E, Bruno Lavieri.
A recessão enfrentada pela economia brasileira nos últimos anos fez com que o PIB per capita do Brasil acumulasse forte queda desde 2014, devolvendo os ganhos obtidos no período de forte crescimento da economia. Segundo Lavieri, esse indicador fechará 2017 a 27,8 mil reais, voltando a crescer gradualmente apenas a partir de 2018.
A assistente administrativa Andréia Zanetti, de 34 anos, é um exemplo de como o brasileiro sente os efeitos dessa diminuição da riqueza. Desempregada por sete meses, ela até conseguiu nova colocação em novembro passado, mas o salário atual equivale à metade do que recebia no trabalho anterior.
Com isso, precisou reduzir consumo e readequar o orçamento doméstico à nova realidade. "Troquei as lojas em que comprava roupa, deixei de jantar e almoçar fora e cortei o telefone fixo de casa", diz Andréia. "Mudei até a marca do leite que comprava para o meu filho."
A economia brasileira vem sofrendo com a forte recessão e, segundo cálculos de especialistas, deve ter encolhido mais de 9 por cento desde o início da crise, acertando em cheio a riqueza da população.
"No acumulado desde 2014 até agora, houve queda de 9,6 por cento no PIB per capita. É uma redução do padrão de vida bastante expressiva", afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Julio Mereb.
Lenta recuperação
A projeção de lenta recuperação da riqueza do brasileiro é explicada pela expectativa de baixo crescimento econômico nos próximos anos diante da queda do PIB potencial do país.
"A economia deve avançar no máximo em linha com o crescimento potencial, ao redor de 2,5 por cento, nos próximos anos", afirmou a economista da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, para quem o PIB per capita do país só vai superar o resultado de 2013 em 2023.
O PIB potencial do Brasil perdeu fôlego na crise atual sobretudo por causa da forte queda do investimento e pelo lento crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), cujo avanço mais forte em anos passados também ajudava a elevar a capacidade de crescimento do Brasil.
A PEA chegou a aumentar 2 por cento ao ano, mas deve crescer a uma taxa inferior a 1 por cento nos próximos anos por causa do envelhecimento da população.
Também fundamental para o enriquecimento do país, o desempenho da produtividade --que está estagnada nas últimas décadas-- depende de mudanças estruturais na economia, que envolvam reformas para aumentar o investimento, desburocratizar e melhorar o ambiente de negócios da economia brasileira.
"As reformas dão previsibilidade para a economia e puxam o ciclo virtuoso ao tornar o ambiente mais propício para negócios e trazer ganhos de produtividade", afirmou o economista do Itaú Rodrigo Miyamoto.
Atraso
O estrago da recessão no padrão de vida do brasileiro também fica evidente quando se compara o PIB per capita do Brasil medido em dólar com o de outras economias.
Os últimos números do Fundo Monetário Internacional (FMI), que retiram os efeitos cambias e de inflação, mostram que o PIB per capita do Brasil deve encerrar este ano em 15,5 mil dólares, bastante distante de economias parecidas como a do Chile (24,7 mil dólares) e a do México (19,5 mil dólares).
O caso mais emblemático de comparação é o da Coreia do Sul, cujo PIB per capita era bastante parecido com o do Brasil na década de 1980. Hoje, no entanto, a riqueza média dos sul-coreanos é de 39,7 mil dólares.
"Foi um país que fez um investimento muito grande em educação e liberou a importação de tecnologia para diversos setores da economia, o que ajudou de alguma maneira a qualificar a mão de obra", explicou o professor de economia do Insper Otto Nogami.