Economia

Brasil tem "folga" de energia pelo menos até 2024

Capacidade instalada de produção de energia no país subiu 22%, de 134 gigawatts (GW) para 172 GW, nos últimos quatro anos

Turbinas eólicas. (Paulo Whitaker/Reuters)

Turbinas eólicas. (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de fevereiro de 2020 às 14h09.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2020 às 14h20.

São Paulo — A melhora nas projeções para o crescimento econômico não levanta preocupações sobre a capacidade do setor elétrico de absorver investimentos. Para especialistas, a expansão do parque gerador nos últimos anos garante uma folga pelo menos até 2024, e não há qualquer risco de desabastecimento.

Após três anos de avanço próximo de 1%, a expectativa de crescimento do PIB em 2020 até vem caindo, mas está em 2,23%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.

Nos quatro anos anteriores, o consumo de energia subiu cerca de 5%, de 64 mil megawatts médios (MWm) em 2015 para 67 mil MWm em 2019. No mesmo período, a capacidade instalada subiu 22%, de 134 gigawatts (GW) para 172 GW.

Foi ao longo desse período que entraram em operação as hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau, Belo Monte, eólicas e solares. Esses empreendimentos foram planejados com anos de antecedência, com base em projetos de alta do PIB e do consumo bem maiores do que os concretizados, explica Cristopher Vlavianos, presidente de uma das maiores comercializadoras do País, a Comerc. "Temos uma folga estrutural, pois tivemos um aumento de capacidade instalada sem a contrapartida de aumento de consumo", diz.

Outros 23 GW devem entrar até 2024, afirma Rodrigo Limp, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Temos segurança de que o setor elétrico brasileiro está preparado para atender o consumo de energia, mesmo que haja um crescimento mais robusto da economia nos próximos anos."

O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, ressalta que o país conta com parque de termoelétricas que pode ser acionado caso haja qualquer tipo de pressão. "Não vemos nenhum problema no cenário de curto e médio prazos. O preço pode até subir, mas teremos energia", afirma. "Diferentemente do restante da economia, o setor elétrico continua bem. A política energética, o planejamento e a regulação têm garantido a expansão da capacidade instalada."

Sob o ponto de vista de atendimento ao mercado, a preocupação é zero até 2024, diz o presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel. "Nosso receio é sempre com o preço que vamos enfrentar", diz.

Segundo ele, com a melhora no cenário econômico e para evitar os preços mais altos, vários associados da Abiape - que reúne empresas como Honda, Braskem e Votorantim - estudam retomar investimentos em usinas próprias.

Se no passado as hidrelétricas eram a preferência dos autoprodutores, hoje o setor investe em eólicas, cujo licenciamento ambiental é mais simples, e avalia com atenção o setor de gás - de olho no "choque da energia barata" prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Na modalidade de autoprodução, os investidores não pagam encargos técnicos, nem o encargo que banca os subsídios - que, neste ano, somarão R$ 22 bilhões, valor que será rateado entre todos os consumidores.

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