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Brasil continua endereço atraente para investimentos estrangeiros

"A turbulência é muito mais no mercado financeiro do que no setor produtivo", afirma Clementino Fraga, vice-presidente da Investe Brasil, uma agência de promoção de investimento externo

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.

Que país é o Brasil para o investidor estrangeiro? Um lugar perigoso ou um território seguro e promissor para se fazer bons negócios? Pelo nervosismo do mercado -com a disparada do dólar, a queda dos papéis brasileiros lá fora e a alta na taxa do risco Brasil-- a resposta mais óbvia seria a de que, na visão dos investidores, a credibilidade do país anda muitíssimo em baixa.

Essa imagem, contudo, se inverte completamente quando se analisam os dados do Banco Central de entrada de capital externo para investimento nas empresas. Por esses números, a conclusão a que é de que, mesmo com toda a incerteza do quadro eleitoral que, por sinal, não surgiu de repente no calendário-- o país continua sendo um dos destinos preferidos das companhias estrangeiras na hora de investir.

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Até maio deste ano, já haviam ingressado 7,3 bilhões de dólares destinados a investimentos nas empresas. No ano passado, de acordo com os registros do Banco Central, o Brasil, mesmo com as privatizações paralisadas, recebeu 23 bilhões de dólares. Foi o país que mais atraiu recursos depois da China e do México.

Esses números reforçam uma pesquisa feita com 129 companhias multinacionais pela Unctad -- órgão das Nações Unidas para a área de comércio e desenvolvimento --, no final do ano passado. Na pesquisa, Brasil, China e México, aparecem, nos planos das empresas, como os países em desenvolvimento que mais receberão recursos externos nos próximos anos.

Para 2002, a previsão do Banco Central é de uma entrada de 18 bilhões de dólares. A queda em relação ao ano passado deve-se muito mais a desaceleração do crescimento da economia mundial do que a uma desconfiança com o desempenho da economia brasileira. Mas o fluxo de dinheiro, de acordo com as projeções da Unctad, deve normalizar-se. A tendência é de que, entre 2002 e 2006, os investimentos mundiais cresçam em torno de 94 bilhões de dólares ao ano. E, o Brasil, mantida a disposição das empresas, deverá se apropriar de parte desse ganho.

Esse interesse no Brasil acaba por expor a enorme contradição entre as expectativas do mercado especulativo e as das companhias estrangeiras interessadas em fazer negócios aqui. Enquanto o capital especulativo aponta para a argentinização do país, as companhias, que atuam no mundo real da economia, parecem acreditar num futuro menos sombrio.

"A turbulência é muito mais no mercado financeiro do que no setor produtivo", afirma Clementino Fraga, vice-presidente da Investe Brasil, uma agência de promoção de investimento externo --formada por empresas em parceria com os governos Federal e estaduais-- com sede no Rio de Janeiro.

Fraga apresenta alguns indicadores que sustentam essa tese. Entre eles, uma análise comparativa do Brasil, China e Índia alguns dos nossos maiores competidores na disputa pelo capital internacional -- feita pela consultoria americana A.T. Kearney junto a companhias multinacionais. D

Dos três países, o Brasil é o que possui, na visão dos investidores, as melhores condições de atração de capital. Numa lista de oito atributos básicos para se investir em um país, o Brasil aparece na frente em seis: transparência no processo de investimento, facilidade de implantação do projeto, qualidade do ambiente regulatório e disponibilidade de parceiros locais, existência de alvos para fusões e acesso a mercado regionais.

Mas o que faz o país parecer tão vulnerável para o mercado financeiro, e, ao mesmo tempo, um lugar atraente para as empresas? A explicação do BNDES para esse aparente paradoxo é que a companhia que decide investir no país não está preocupada apenas com os solavancos do curto prazo. "Ao decidir por um investimento, a companhia faz várias análises das perspectivas futuras do país", afirma Ana Cláudia Além, gerente da área de Planejamento do BNDES, especializada na análise de investimentos externos. "Esse tipo de investidor pensa no longo prazo".

Prova disso foi o comportamento dos investidores em 1997 e 1998, quando o Brasil foi fortemente afetado pelas crises da Ásia e da Rússia. Em 1997, os investimentos estrangeiros somaram 15,3 bilhões de dólares, saltando para 23,2 bilhões de dólares em 1998 em plena crise das economias emergentes. Também em 1999, quando o real sofreu uma forte desvalorização, levando alguns analistas a prever o caos, os investidores aplicaram aqui 27,5 bilhões de dólares.

É claro que ninguém pensa em investir num país cuja economia esteja claudicante ou não ofereça perspectivas de retorno razoável. É evidente também que transtornos no curto prazo sempre atrapalham os negócios. Mas, segundo Ana Cláudia Além, os investidores trabalham muito de olho nos fundamentos econômicos. E o Brasil, embora sofra com a vulnerabilidade nas suas contas externas e na dívida interna, avançou em alguns indicadores vitais para a estabilidade como controle da inflação, responsabilidade fiscal, e regras claras para o capital estrangeiro.

O comportamento do capital externo no primeiro trimestre desse ano é um bom termômetro das expectativas em relação ao futuro da economia. Um dos sinais de que a economia brasileira continua atraente é a mudança no perfil dos investimentos. Os recursos que antes iam quase que exclusivamente para o setor de serviços -- por causa das privatizações das empresas de energia e de telecomunicações -- agora estão espalhados por todos os setores.

Ironicamente, os bancos estrangeiros, os primeiros a disparar sinais negativos sobre o país, continuam investindo no país. Mas quem mais vem ganhando espaço nesse terreno são as empresas industriais: nos três primeiros meses deste ano, 42,3% dos recursos externos foram destinados ao setor. Em 2000, a indústria havia ficado com apenas 17% do capital total que entrou no país. Com as privatizações, o Brasil ganhou um grau de exposição muito grande , diz o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Depois disso, o investidor externo acabou descobrindo uma série de outros nichos que antes nem pensava em investir .

Na lista dos receptores preferenciais estão a indústria eletro-eletrônica, a automobilística, a de informática, papel e celulose. As razões dos investidores de voltar-se para esses setores ainda não foram totalmente decifradas. A explicação mais plausível, segundo Fernando Ribeiro, economista da Sociedade Brasileira de Estudos Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), é de que, com a desvalorização cambial, ficou muito caro para as multinacionais desses ramos importar peças e componentes para suas fábricas no Brasil.

"A saída parece estar sendo produzir aqui", diz. Ribeiro lembra também que boa parte dos recursos externos estão destinados às empresas voltadas para exportação. "Com o câmbio favorável, essas empresas tendem a aumentar suas vendas externas", afirma. "Isso é um sinal positivo de que se pode esperar dias melhores na balança comercial".

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