Economia

Bolsonaro eleito será péssimo para economia, diz Gustavo Franco

"O risco de vitória desse populismo nacionalista militarista é ponderável e preocupante”, disse o ex-presidente do Banco Central em entrevista à Bloomberg

Franco deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao partido Novo (Germano Lüders/Exame)

Franco deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao partido Novo (Germano Lüders/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de abril de 2018 às 11h17.

Última atualização em 17 de abril de 2018 às 12h57.

Quando se trata das intenções liberais de Jair Bolsonaro, líder das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco tem sérias ressalvas.

Um dos esforços do capitão da reserva é conquistar o mercado: a convocação do economista Paulo Guedes para integrar sua equipe econômica foi um desses acenos a fim de se livrar do rótulo de “nacionalista”.

“É mais uma jogada oportunista, pois não creio que Bolsonaro tenha nenhuma afinidade com agendas pró-mercado”, disse Franco em entrevista à Bloomberg.

“E, a julgar pelas pesquisas de agora, o risco de vitória desse populismo nacionalista militarista é ponderável e preocupante. Acho que será péssimo para a economia”, afirmou ele.

Franco deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao partido Novo e assumir a coordenação do programa do presidenciável João Amoêdo, um banqueiro que advoga o enxugamento do Estado e mais empreendedorismo.

“Amoêdo pode ocupar espaço significativo do eleitorado interessado em reformas pró-mercado, é quem carrega essa agenda de forma mais orgânica e legítima”, disse Franco sobre o candidato.

Franco vê reforma na agenda fiscal e abertura comercial como medidas-chave para o presidente eleito em 2018.

"O primeiro conjunto conta com reformas na Previdência — transformando o FGTS em fundo de pensão em regime de capitalização — e no Estado, com vistas a novas políticas de pessoal, e a privatização", disse.

No segundo, “medidas de abertura comercial, concorrência e melhor ambiente de negócios, incluindo o aprofundamento da reforma trabalhista.”

Economia

O economista considera natural a discreta recuperação econômica, com índices de atividade menores que o esperado. Em 2017, o Brasil teve crescimento de 1% no PIB após dois anos de recessão.

“É normal diante das incertezas à frente e pela falta de convicção reformista, ou mesmo de capacidade de execução de reformas desse governo. É um governo de transição, que já fez muito em reverter tendências suicidas criadas pelo mecanismo da Nova Matriz”, disse.

Em meio à modesta retomada, nem — pelo menos até agora — os 7,75 pp. de cortes na Selic surtiram efeito. O Copom, entretanto, projeta ainda mais alívio em maio e “parada para observar” em junho.

“O BC tem trabalhado muito bem na fixação da Selic e está começando bem o trabalho no plano regulatório de reduzir o spread bancário e o custo do crédito. Mas há ainda muito a fazer”, disse Franco, presidente do BC de 1997 a 1999.

Um dos pais do Plano Real, ele pondera riscos de possível depreciação cambial e não vê razão para intervenção.

“Pode haver alguma desestabilização sim, se o mercado não gostar dos rumos das pesquisas”, disse ele. “Não vejo no horizonte nenhuma razão para qualquer ação extraordinária do BCB. Talvez o mercado não esteja enxergando bem os riscos de certas candidaturas, mas isso logo se corrige.”

Para ele, não há também nenhuma pressão inflacionária que afete o atual quadro benigno, exceto as que possam advir da complacência com a política fiscal.

"Os mercados confiam que a equipe do Ministério da Fazenda evitará uma piora dos números fiscais, mas fazer voltar o superávit parece fora do seu alcance."

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