(Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Bloomberg
Publicado em 24 de agosto de 2021 às 13h16.
Última atualização em 24 de agosto de 2021 às 13h18.
Por Martha Beck, Daniel Carvalho e Simone Iglesias, da Bloomberg
O presidente Jair Bolsonaro se mostra a cada dia mais preocupado com a disparada de preços no país em meio à proximidade das eleições de 2022, mas suas reclamações sobre inflação e atuação do Banco Central não significam que tenha a intenção de interferir na autoridade monetária, segundo cinco pessoas próximas a ele, três delas integrantes de seu gabinete.
Ao contrário, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, continua em alta conta dentro do governo e também tem o apoio de aliados importantes no Congresso, incluindo o presidente da Câmara, Arthur Lira, disseram as pessoas, que pediram anonimato para falar sobre assuntos privados do governo.
A Associated Press, na última sexta-feira, publicou que Bolsonaro teria se arrependido de ter aprovado a legislação que deu autonomia formal ao Banco Central, citando uma autoridade de alto escalão do governo sem identificá-la. Separadamente, um ministro - também não identificado pela agência de notícias - disse que o presidente expressou mais de uma vez o desejo de interferir no BC.
Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil e um dos líderes do centrão, negou a informação da reportagem em uma série de tweets, nos quais qualificou o episódio de “fogueira imaginária”.
Bolsonaro tem demonstrado publicamente preocupação com o aumento dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, que está afetando sua popularidade entre os caminhoneiros e a população mais pobre do país. Quando um de seus seguidores nas redes sociais reclamou do preço da gasolina no fim de semana, o próprio presidente perguntou se a pessoa sabia quanto os governadores impõem de impostos sobre os combustíveis.
A portas fechadas, o descontentamento de Bolsonaro vai um pouco mais longe. Ele ficou especialmente irritado com comentários feitos por Campos Neto durante um evento do Conselho das Américas, no qual atribuiu o aumento das expectativas de inflação ao ruído político no país, de acordo com uma das fontes.
No entanto, essas queixas são parte da personalidade inconstante de Bolsonaro e não mostram uma real intenção de intervir na forma como o Banco Central funciona, nem de fazer mudanças na equipe econômica no momento, disseram as pessoas.
O Palácio não respondeu imediatamente a pedido de comentário. O Banco Central não quis comentar.
Campos Neto está sob pressão para atuar pela contenção da alta dos preços. Quatro aumentos agressivos nas taxas de juros e a sinalização de outra alta para setembro pouco fizeram para trazer a expectativa inflacionária de volta à meta de 3,5% prevista para o ano que vem.
Mas mesmo que Bolsonaro quisesse demitir o presidente do Banco Central, ele teria de encontrar uma maneira de contornar a lei que deu à autoridade monetária a tão desejada autonomia formal. Pela nova regra, Campos Neto não pode ser destituído antes que termine seu mandato em 31 de dezembro de 2024.
Essa regra pode mudar dependendo de uma decisão que o Supremo Tribunal Federal deverá tomar na quarta-feira. Está na pauta de julgamento uma ação que questiona a constitucionalidade da lei que concedeu autonomia ao BC. A expectativa na véspera da votação no plenário do STF é de que a maioria dos ministros tende a confirmar o alinhamento da lei à Constituição, disse uma pessoa com conhecimento do assunto.