"Bola do crescimento agora está com os empresários", diz Palocci
Quando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chegou à casa da anfitriã no Morumbi, pouco depois das 21 horas da última sexta-feira (3/10), os convidados do jantar oferecido por Milu Vilella, presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, dirigente do movimento do Voluntariado e acionista do Banco Itaú, já o aguardavam há mais […]
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2010 às 21h03.
Quando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chegou à casa da anfitriã no Morumbi, pouco depois das 21 horas da última sexta-feira (3/10), os convidados do jantar oferecido por Milu Vilella, presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, dirigente do movimento do Voluntariado e acionista do Banco Itaú, já o aguardavam há mais de uma hora. Nas pequenas rodas que se formavam na sala de jantar improvisada no jardim e coberta por um toldo, banqueiros e executivos da área financeira beliscavam bolinho de bacalhau, canapés de endívias e lichias recheadas de queijo enquanto esperavam o principal convidado da noite.
Lá estavam Roberto e Paulo Setúbal, o pai Olavo, Lázaro Brandão, Alcides Tápias, José Safra e Fernão Bracher ao lado de outros 90 convidados, entre empresários, publicitários e personalidades da televisão e do teatro. Num canto, o empresário Norberto Paschoal, da D.Paschoal, de Campinas, conversava com o ator Raul Cortez dois importantes aliados de Milu na cruzada em prol do Voluntariado. Perto dali, o economista Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central e hoje executivo do Banco Itaú, comandava outra roda. Com uma perna engessada, o presidente da TV Bandeirantes, Johnny Saad, chegou de muletas acompanhado pela mulher. A retomada do crescimento econômico mais uma esperança do que uma constatação e a nova confiança nos indicadores macroeconômicos do país eram dois dos temas que animavam as conversas no salão.
Quando finalmente chegou, Palocci passou quase despercebido ao contrário de tantos outros ministros que o antecederam na Fazenda, sempre acompanhados por um séqüito de assessores. Depois de um longo dia de trabalho em São Paulo, o terno escuro estava amarrotado. Bem-humorado, contou como, dois anos antes das eleições presidenciais, convencera Luiz Inácio Lula da Silva a recrutar os serviços do publicitário Duda Mendonça para se submeter a uma pesquisa decisiva junto ao eleitorado. Depois de três derrotas, ele estava naquela gangorra ora se animava a se candidatar, ora voltava atrás , dizia Palocci. Era preciso saber suas reais chances de ganhar. O resultado da pesquisa mostrou que Lula continuava a ter 30% das intenções dos votos. O resto é história.
Após o jantar, a menos de uma hora de completar 43 anos, Palocci ganhou de presente de Milu um bolo e um cobertor. É para ajudar o senhor a aquecer a economia , brincou a anfitriã. Falando de improviso, ele manifestou confiança no início de um ciclo de expansão da economia brasileira a partir do próximo ano. Disse acreditar que o duro ajuste das contas públicas conduzido sob sua batuta começará a dar resultados. O raciocínio é o mesmo de sempre: com o combate bem sucedido aos desajustes, a confiança retornou, abrindo espaço para a redução dos juros e a volta dos investimentos.
Como sou médico e não economista, estou sempre solicitando estudos a técnicos do governo para poder compreender melhor certas coisas , disse Palocci. Há pouco tempo, contou ele, quis conhecer os motivos por trás do extraordinário sucesso do agronegócio brasileiro. Sua intenção era verificar a possibilidade de transpor essa experiência bem sucedida no campo para outros setores da economia. Confesso, meus senhores, que gastei recursos públicos à toa. O doutor Olavo, aqui do meu lado, acaba de resumir para mim as duas principais conclusões a que o estudo chegou, O crescimento da agricultura decorre de dois fatores: estabilidade de preços e evolução da tecnologia. , disse Palocci.
Para o ministro, a bola do crescimento está agora com os empresários. Governo não faz crescimento. O máximo que pode fazer é não atrapalhar , disse. É nesse sentido que deseja ver aprovada a reforma tributária, que segundo ele não deverá penalizar mais o setor produtivo. Não dá para aumentar mais a carga tributária, que aumentou 1% do PIB ao ano na última década , afirmou. A saída para o equilíbrio das contas do governo terá de ser encontrada do lado das despesas. Ou seja, mais cortes e austeridade. Palocci rejeita o termo conservadorismo aplicado à política macroeconômica ora em vigor. A seu ver, a austeridade no trato das contas públicas denota muito mais a serenidade que deve caracterizar a condução dessa área.
Não cabe aí qualquer tipo de solução criativa. Ele contou que vivia sob pressão de líderes sindicais para estabelecer um teto para barrar o crescimento das taxas de juros. Foi durante uma conversa dessas com os sindicalistas, em que tentou mostrar que taxas de juros não se decreta, mas se trabalha para alcançar , que surgiu a idéia de os trabalhadores terem acesso a financiamento bancário com juros menores, com o pagamento descontado diretamente na folha. Eles agora estão discutindo o assunto com os bancos e deixaram de me pressionar , disse Palocci.
Foi com ironia que também mencionou as insinuações que tem ouvido desde que a Argentina conseguiu fechar um acordo com o FMI depois de decretar moratória de sua dívida. Àqueles que lhe perguntam se o Brasil também não deveria endurecer o jogo nas negociações com o fundo, Palocci responde simplesmente: O Brasil precisa crescer e não pode se dar ao luxo de ter uma perda de 18% do seu PIB, como aconteceu com a Argentina .
Sentados em suas mesas, os convidados de Milu riram da comparação e aplaudiram. Deixaram a impressão de que voltavam às suas casas convencidos de que o compromisso do ministro da Fazenda com o bom senso é para valer.