(Germano Lüders/Exame)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 24 de novembro de 2021 às 07h01.
A Black Friday deste ano promete bater recordes. Segundo levantamento da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico, somente nas vendas online a expectativa é movimentar 6,4 bilhões de reais em 24 horas na próxima sexta-feira, 26, um crescimento de 25% em relação a 2020. Apesar do volume recorde de faturamento, 86% dos brasileiros acham que os preços estão mais caros em 2021 que no ano passado - e a culpa é da inflação.
O dado é da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. A sondagem ouviu 1.277 pessoas entre os dias 18 e 22 de novembro. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler o relatório completo.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, está em 10,67% no acumulado dos últimos 12 meses até outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Somente no mês passado, houve uma alta de 1,25% em relação a setembro, a maior variação para o mês desde 2002.
A inflação deixa uma margem menor de dinheiro para que os mais pobres consigam comprar durante a Black Friday. Entre os entrevistados, 66% das classes A e B pretendem adquirir algum produto durante o dia de descontos. Já entre as classes D e E este número cai para 26%. O dado geral mostra que 57% pretendem fazer alguma compra.
Maurício Moura, fundador do IDEIA, sinaliza que a sondagem traz uma correlação entre a inflação e o desejo de consumo dos brasileiros. “Essa pesquisa traz um elemento importante: as pessoas já estão refletindo na Black Friday a percepção de inflação. Isso se mostra tanto naqueles que querem aproveitar ofertas como nos que vão antecipar compras. Em ambos casos, há a expectativa de que os preços vão aumentar”, diz.
Neste sentimento de aproveitar a época para garantir bons descontos, 75% dizem que vão usar a Black Friday para adiantar presentes de Natal. Entre os produtos que os brasileiros acham que mais aumentaram de preço neste ano, os alimentos aparecem com 60% das menções, seguido de eletrodomésticos (29%) e celulares (24%).
A percepção de aumento no preço dos alimentos já havia sido capturada pela pesquisa EXAME/IDEIA. Em pesquisa realizada no fim de outubro, a inflação foi mais sentida pelos brasileiros nos combustíveis (43%) e nos alimentos e bebidas (40%). Mas quando se coloca uma lupa por classe social, as proporções mudam. Nas classes D e E, a subida dos alimentos foi mais sentida por 56%, enquanto que para 48% das classes A e B, foram os combustíveis que tiveram a maior alta.
No ano, os alimentos acumulam alta de 12,47%, segundo o IBGE. Nos acumulado dos últimos 12 meses, até setembro, alguns produtos da cesta básica subiram acima da inflação geral. Só o arroz teve um aumento de 30%, e a carne vermelha 17%, de acordo com o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).