Banco central australiano: Austrália cortou os juros na terça-feira, pela primeira vez em três anos; Índia deve seguir o mesmo caminho na quinta-feira (Brendon Thorne/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 9 de junho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 9 de junho de 2019 às 08h00.
Os bancos centrais estão retomando seu papel de linha de frente em meio às dificuldades da economia mundial, apesar de já não terem o mesmo poder de fogo de antes. As autoridades monetárias estão novamente buscando fortalecer o crescimento e combater a inflação baixa.
A Austrália cortou os juros na terça-feira, pela primeira vez em três anos, e a Índia deve seguir o mesmo caminho na quinta-feira. No Banco Central Europeu, os dirigentes estão preparados nesta semana para concordar, pelo menos, em termos generosos para novos empréstimos de longo prazo aos bancos.
O presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou na terça-feira uma abertura ao afrouxamento, se necessário, e ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers escreveu que o Fed deve reduzir os juros em 50 pontos base nos próximos meses, se não mais, para evitar riscos de recessão.
Os títulos soberanos seguiram disparando e o rendimento de 10 anos da Alemanha caiu para uma baixa recorde. No Japão, a aposta em mais estímulo do banco central fez o custo de empréstimo mergulhar.
A política monetária global está ficando mais frouxa apenas alguns meses depois que o Fed e vários outros BCs pareciam decididos a passar 2019 afastados dos cenários de atuação de emergência da última década.
Um índice do Conselho de Relações Exteriores mostra que a política monetária está agora mais frouxa desde 2014, enquanto o JPMorgan calcula que a taxa de juros média dos países desenvolvidos terminará este ano mais baixa do que agora, liderada por dois cortes do Fed.
Essa é a perspectiva dos ministros das finanças e dos banqueiros centrais do G-20, que se reúnem nesta semana na cidade japonesa de Fukuoka. Também nesta semana, o Banco Mundial reduziu sua previsão de crescimento de 2019, citando uma desaceleração no comércio.
"O clima em relação ao crescimento global deve ser nitidamente mais sombrio do que no último encontro do G-20", disse Matthew Goodman, ex-funcionário da Casa Branca atualmente no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Isso pode pressionar os ministérios das finanças e os bancos centrais das principais economias a injetar novos estímulos."
Os dirigentes do G-20 sabem que têm menos munição e que a política monetária não é tão potente como já foi. Desde a crise financeira de 2008, os analistas do Bank of America calculam que os bancos centrais reduziram os juros mais de 700 vezes e compraram US$ 12 trilhões em ativos financeiros.
A taxa atual estabelecida pelo Fed é de 2,25% a 2,5%, o que não deixa muito espaço, dado que foi necessários cortar 500 pontos base para combater a última recessão.
E, pelo menos, o Fed elevou os juros - o BCE e o Banco do Japão nunca conseguiram reverter a situação trazida pela crise e as taxas ainda estão no chão.
Mas, com inflação abaixo da meta e desaceleração do crescimento, os investidores estão apostando em ação, e veem dois cortes de 0,25 ponto porcentual nos EUA até o final de 2019. O JPMorgan nesta semana adiou a previsão de início de alta de juros na Europa e o ABN Amro acredita que o desaperto quantitativo deve ser retomado na zona do euro no próximo ano.
Na África do Sul, o viés de política está mudando e dois dos cinco membros do comitê votaram por um corte no mês passado.