Economia

BC surpreende e corta 2,5 pontos percentuais na Selic

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central surpreendeu todo o mercado e decidiu nesta quarta-feira (20/8) reduzir a Selic, a taxa básica dos juros, em 2,5 pontos percentuais. Com isso, os juros passam de 24,5% para 22% ao ano. Apesar de o presidente do BC, Henrique Meirelles, ter afirmado na segunda-feira (18/8) que […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h28.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central surpreendeu todo o mercado e decidiu nesta quarta-feira (20/8) reduzir a Selic, a taxa básica dos juros, em 2,5 pontos percentuais. Com isso, os juros passam de 24,5% para 22% ao ano. Apesar de o presidente do BC, Henrique Meirelles, ter afirmado na segunda-feira (18/8) que a autoridade monetária continuaria na política do gradualismo, o corte superou todas as expectativas tecnicamente conservadoras que analistas fizeram durante a semana, de um corte de mais 1,5 ponto percentual.

O BC não adotou viés, isto é, a taxa básica só muda agora na próxima reunião do Copom, em setembro. Esta é a terceira queda consecutiva da taxa de juros e o novo patamar é o menor desde dezembro de 2002.

"Há espaço para um corte mais substancial desde a reunião do mês passado", afirmou Flávio Barros, gestor da Clickinvest. Para ele, é preciso levar em conta a expectativa inflacionária do futuro, que já está convergindo para a meta. A decisão do Copom levou a Bovespa para cima, fechando com alta de 2,18% no Ibovespa. Os juros futuros negociados na BM&F cairam de 20,6% para cerca de 20%, tanto para janeiro quanto para abril de 2004.

E é exatamente a inflação a maior preocupação ministro da Fazenda, Antônio Palocci. "A política monetária tem um gradualismo muito adequado, olhando sempre o comportamento da inflação, e as decisões do Copom têm sido fortemente embasadas na boa técnica", afirmou. Ele ressaltou que o comportamento do Copom deve ser analisado na perspectiva do conjunto de medidas adotadas nas políticas fiscal e monetária desde o início do ano para que o país se recuperasse da crise de 2002. "Elas foram feitas com muita austeridade e serenidade para que nós pudéssemos controlar um indicador que era perigosíssimo para as pessoas, principalmente as mais pobres, que era a inflação", disse.

E Palocci voltou mais uma vez a ressaltar a independência do BC. "Nós acompanhamos as atividades do Banco Central, sempre dando autonomia para o banco tomar as suas medidas. Achamos que o Copom tem condições técnicas de tomar essas decisões da melhor maneira possível e eu continuou achando que o processo de todo esse ano da politica monetária, ele foi bastante acertado. Não é apenas uma opinião, ela reflete nos fatos. Se nós olharmos o comportamento presente e futuro da inflação, nós vamos ver que felizmente o Brasil está conseguindo vencer, esse que é um dos maiores problemas da economia", disse.

Justificativa e expectativa

Segundo nota divulgada pelo BC, "dados divulgados desde a última reunião do Copom confirmam os resultados positivos obtidos pela política monetária em fazer a inflação convergir para a trajetória das metas. Diante desse quadro e dentro de uma estratégia gradualistas de flexibilização da política monetária, o Copom decidiu fixar por unanimidade a taxa Selic em 22%, sem viés". A ata da reunião do Copom será divulgada na quinta-feira (27/8) da próxima semana com as justificativas para a redução.

Durante a semana, especialistas se dividiram entre os que apontavam para o corte necessário e os que acreditavam no gradualismo do Banco Central. A maioria dos analistas fechou questão em torno do 1,5 ponto percentual, mas economistas do Citibank, Lloyds TSB, CSFB e Bradesco estimavam um corte de até 2 pontos percentuais, mas reafirmaram que o BC optaria por talvez repetir o feito do mês passado, com um corte mais gradual. O ex-diretor de política econômica do BC, Sérgio Werlang, atual diretor do Itaú e um dos criadores do sistema de metas de inflação, também acreditava que o gradualismo seria a melhor saída, mas calculou que há espaço na economia para absorver um corte de 2,5 ponto percentual. "Acredito que a taxa Selic fechará o ano em 19%", disse ele na segunda-feira (20/8).

A redução de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de juros, deve resultar em uma economia de R$ 11,1 bilhões nos próximos 12 meses ao governo, informa a consultoria econômica Global Invest. Segundo o economista-chefe Marcelo Ávila, essa economia no pagamento de juros dos títulos públicos corresponde a 22,83% do que o governo pretende deixar de gastar em 20 anos com a reforma previdenciária. "A decisão de hoje equivale a 4,5 anos do que o governo deve poupar na previdência", afirmou Ávila.

Repercussão

Mas nem todos comemoram os efeitos sobre a resolução do BC. O presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), Walter Machado de Barros, afirmou que a redução chegou com três meses de atraso, apesar de ser o que o setor produtivo esperava. O Banco Central, segundo o executivo, chegou no limite de perder o "timing" para alterar os rumos da política econômica.

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horácio Lafer Piva, afirmou que "a indústria sempre quer uma taxa mais baixa". "Mas diante da expectativa do mercado de 1 a 1,5 ponto percentual, é um bom corte. Ousadia seria se o BC cortasse 3 pontos percentuais", afirmou Piva. Ele afirmou que a entidade espera que a taxa básica de juros feche o ano em 18%.

Na avaliação do presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-SP), Milton Luiz Milione, a redução de 2,5 pontos percentuais deve ter um efeito positivo sobre a economia, mais ainda é insuficiente para a retomada plena do crescimento da atividade produtiva. "A taxa anual em 22% ainda é muito alta", afirmou.

"A decisão do Copom veio ao encontro do que o setor industrial vem defendendo. Um corte inferior a 2,5 pontos percentuais nos deixaria frustrados, pois há espaço para uma redução deste nível", afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.

O coordenador do grupo de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, considerou bastante positiva a decisão do Copom. Segundo Levy, a decisão "reflete a situação que o país vive, em que a atividade econômica se encontra retraída e há um cenário favorável de inflação". O economista do Ipea disse que há uma continuidade da política que foi iniciada no final de 2002, que pressupunha a redução da inflação por meio do aumento dos juros para, em um segundo momento, diminuir a taxa em um contexto de estabilidade que leve ao crescimento econômico.

Para a consultoria do Paraná, Global Invest, o grande ponto está no fato de a reversão do presente quadro recessivo não ser imediata à redução dos juros, "que continuam acima do patamar anterior a outubro de 2002, quando foi dado choque para contenção do câmbio". "Quanto mais gradual for a redução, mais lenta será a recuperação da economia. Quanto mais se postergar uma queda contundente nos juros, mais o país terá de esperar pelo espetáculo do crescimento."

"O empresariado desarma o gatilho das demissões em massa que se prenunciavam caso não houvesse uma redução deste nível (2,5%)", afirmou Synésio Batista da Costa, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo e da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos).

Synésio Batista da Costa espera que a taxa chegue ao final do ano em 15%. "Assim poderemos trabalhar com uma taxa de crescimento em 3% do PIB em 2004. Com 15%, ficamos um pouco mais competitivos".

*Com informações de Ana Luiza Herzog e da Agência Brasil

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