Economia

BC prevê primeiro superávit nas contas externas em 14 anos em 2021

Instituição também reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto este ano para 3,6%, ante alta de 3,8% projetada em dezembro

 (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 25 de março de 2021 às 11h01.

O Banco Central passou a projetar uma superávit nas transações correntes do país em 2021 de 2 bilhões de dólares, o equivalente a 0,2% do PIB, no que seria o primeiro resultado positivo das contas externas desde 2007, mostrou Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira.

A projeção anterior, de dezembro, era de um déficit de 19 bilhões de dólares e a revisão refletiu uma melhora na estimativa para a balança comercial.

A expectativa do BC é que a balança comercial feche este ano com superávit de 70 bilhões de dólares, ante 53 bilhões de dólares estimados antes, com as exportações chegando a 256 bilhões de dólares, valor que se equipara ao recorde da série histórica registrado em 2011.

"Apesar de terem começado o ano em nível deprimido, espera-se que as exportações aumentem a partir de março, impulsionadas pelo escoamento da boa safra de soja, pelo patamar elevado para preços de commodities e pela recuperação da demanda internacional", diz o documento do BC.

A projeção para o investimento estrangeiro direto no país foi mantida em 60 bilhões de dólares para o ano. Segundo o BC, as surpresas positivas nas entradas de empréstimos intercompanhia no início do ano compensam a perspectiva de recuperação mais lenta da conta de participação de capital.

PIB

O Banco Central reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto este ano para 3,6%, ante alta de 3,8% projetada em dezembro.

No documento, o BC disse que a estimativa reflete, de um lado, o carregamento estatístico para o PIB anual maior do que o esperado, após surpresa positiva com o dado do quarto trimestre, e a manutenção da atividade econômica em nível elevado no início deste ano e, de outro, o recrudescimento recente da pandemia.

"Em termos de trajetória, a projeção para o PIB é de recuo moderado ao longo do primeiro semestre, seguido de recuperação relevante nos últimos dois trimestres do ano, decorrente da redução esperada na taxa de letalidade da Covid-19 e no número de internações, com o avanço da vacinação", diz o relatório.

A estimativa do BC considera a manutenção do regime fiscal no país, uma nova rodada de auxílio emergencial de cerca de 44 bilhões de reais --conforme já previsto por medida provisória do governo-- e a perspectiva de que o cronograma de vacinação contra a Covid-19 siga sem desvios importantes.

Apesar de a projeção para a alta do PIB não ter sofrido mudança significativa, o BC alterou o prognóstico para sua composição, e previu um desempenho melhor da indústria, com alta de 6,4% (5,1% antes) e pior dos serviços, com crescimento de 2,8% (3,8% antes).

No caso de serviços, a revisão refletiu a intensificação da pandemia, que deve prejudicar a normalização de segmentos como transportes, armazenagem, alojamento e alimentação fora de casa, disse o BC.

INFLAÇÃO

Em relação à inflação, o BC repetiu as projeções divulgadas na semana passada para seu cenário básico, que apontam para um IPCA em torno de 5% para este ano e de 3,5% para 2022, mas detalhou também alguns cenários alternativos em que considera a possibilidade de condições mais adversas.

Um dos cenários incorpora uma "significativa deterioração" da percepção sobre a situação fiscal do país, outro considera um agravamento adicional da pandemia da Covid-19 e o terceiro cenário leva em conta uma combinação parcial dos dois primeiros.

O cenário de deterioração fiscal, que considerou alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas, foi o que gerou o maior impacto inflacionário. A projeção é que, nessas condições, o país terminaria este ano com inflação de 5,7%, escalando para 5,9% em 2022. Ambos os números estariam bem acima dos tetos das respectivas metas de inflação para o período --5,25% e 5%, respectivamente.

"Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de aumentar a incerteza econômica, os prêmios de risco e a taxa de juros estrutural da economia e depreciar a taxa de câmbio", diz o documento.

No que diz respeito à política monetária, o documento repetiu diagnóstico feito na ata do Comitê de Política Monetária, divulgada na terça-feira.

Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros pela primeira vez desde 2015, em 0,75 ponto percentual, e indicou que deve promover nova alta desse mesmo valor em maio, ressaltando preocupações com a piora das projeções para a inflação.

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