Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do Banco Central (Raphael Ribeiro/ BC/ Flickr/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 14h05.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reiterou nesta sexta-feira, 23, o compromisso da autoridade monetária em levar a inflação para o centro da meta, de 3%. Ele notou que as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do relatório Focus continuam desancoradas, em torno de 0,5 ponto porcentual acima do alvo.
"A meta é 3%, então a gente vai continuar, claro, sempre perseguindo a inflação de 3%, que é o mandato do Banco Central", disse Guillen, durante uma palestra em evento organizado pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), com transmissão online.
Segundo o diretor, o leve aumento da mediana do relatório Focus para o IPCA de 2025 não levanta maiores preocupações. Depois de 28 semanas de estabilidade, a expectativa passou de 3,50% para 3 51% na segunda edição do boletim de fevereiro, publicada no último dia 15. No Focus mais recente, divulgado na quinta-feira, 22, subiu mais 0,01 ponto porcentual, a 3,52%.
"Passou de 3,50% para 3,52%, mas com muito pouca mudança na distribuição", disse Guillen. "Acho que tem tido mais uma concentração sobre esse 3,50%."
O diretor do BC disse ainda que a inflação de serviços tem ficado entre 5,5% e 6% no acumulado de 12 meses e que há um debate sobre a direção dessa taxa este ano. Ele destacou que esse grupo surpreendeu para cima nas últimas divulgações do IPCA.
Guillen ressaltou que os serviços mais sensíveis à demanda agregada - ou seja, os ligados à atividade econômica e os intensivos em trabalho - tiveram um repique nas últimas divulgações. Em contrapartida, os serviços sensíveis à inércia tiveram alívio, respondendo ao processo de desinflação do IPCA cheio.
"Você observa que houve um repique na ponta, nos três meses anualizados, dos serviços sensíveis à atividade, a uma atividade mais forte. Esses são os que reajustam mais fortemente, o mesmo valendo para os serviços intensivos em trabalho", disse o diretor.
Guillen afirmou que a inflação dos bens industriais já caiu e que, agora, há um debate sobre quanto esse grupo ainda pode ceder.
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse também que o processo de desinflação global não está sincronizado no tempo, mas nos temas em diversos países. "São temas muito semelhantes", comentou Guillen, que enumerou questões como mercado de trabalho, desinflação de bens industriais, preços relativos, inflação de serviços e expectativas de inflação "na cabeça" de autoridades em diversas localidades.
Ao comentar o processo de desinflação atual, o diretor do BC retomou a ideia de um movimento em duas etapas e disse que a expectativa é de desinflação em 2024 e 2025 na maior parte das economias.
Guillen frisou ainda que a queda dos núcleos de inflação está mais aparente nas emergentes do que nas avançadas.
O diretor do BC também comentou sobre o processo de corte dos juros no mundo. "Vários países já iniciaram o processo e espera-se que continuem. Alguns ainda não começaram, mas estão indicando que estão próximos, que o próximo movimento é de corte e que é um ciclo."
Guillen reiterou que a condução da política monetária brasileira não tem relação mecânica com os juros norte-americanos. "A gente tem enfatizado que não tem relação mecânica na condução de juros ou seja, Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e Banco Central não têm relação mecânica nessa condução", afirmou o diretor.
Ele acrescentou que há uma certa preocupação com a rolagem da dívida de empresas que tomaram recursos lá fora com os juros americanos muito baixos, ainda durante a pandemia de covid-19, devido ao aperto monetário que foi conduzido nos Estados Unidos.
"À medida que você começa a rolar essa dívida mais lá da pandemia, a gente vai vendo esse impacto persistir. Vai ser um processo longo de condições financeiras, em função do juro mais baixo durante a pandemia", afirmou Guillen.
O diretor do BC disse ainda que há uma dificuldade em entender no Brasil hoje, com as surpresas para baixo na taxa de desemprego, qual o tamanho do hiato do mercado de trabalho, quão apertado ele está.
Ele citou que chama atenção, além das quedas registradas pela taxa de desocupação desde 2020, o movimento de redução nas expectativas para a taxa no futuro registradas pelo Boletim Focus, o que pode sugerir que o movimento reflete uma questão estrutural.
Entre as dúvidas sobre o mercado de trabalho hoje, Guillen listou que há uma discussão grande sobre qual a atual taxa Nairu (taxa de desemprego de equilíbrio). "Tem um pouco desse debate também lá fora, mas no Brasil tivemos a reforma trabalhista que dificulta a comparação com o passado", frisou.
Diante desse cenário de incertezas, os salários, afirmou, são uma ferramenta para verificar o grau de pressão sobre o mercado de trabalho.
Guillen destacou os aumentos dos rendimentos habitual e efetivo registrados pela Pnad e a ligeira alta do salário formal no Caged. "As negociações salariais têm tido aumento real pela desinflação, ficando próximo de 5,0%", acrescentou.
O diretor do BC defendeu que, por ora, os dados não indicam pressão sobre o mercado de trabalho, mas que é preciso olhar com cuidado para o movimento dos salários, tendo em vista a possibilidade de pressão sobre a inflação de serviços.