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Auxílio emergencial reduziu a pobreza em 23%, aponta FGV

Segundo Marcelo Neri, apesar de o país ainda registrar 50 milhões de pobres após esta queda, esse é o nível mais baixo de toda a série estatística

Auxílio emergencial: FGV afirmou que 15 milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza (Nacho Doce/Reuters)
AB

Agência Brasil

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 14h31.

Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 21h17.

Em meio à pandemia de covid-19, o auxílio emergencial contribuiu para a queda temporária da pobreza no Brasil. Segundo o estudo Covid, Classes Econômicas e o Caminho do Meio: Crônica da Crise até Agosto de 2020, divulgado hoje, 9, pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas ( FGV Social), 15 milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza até agosto de 2020, uma queda de 23,7%. A comparação é feita com os dados fechados de 2019.

De acordo com a definição usada pela FGV, a pobreza é caracterizada pela renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo (522,50 reais).

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Segundo o coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, apesar de o país ainda registrar 50 milhões de pobres após esta queda, este é o nível mais baixo de toda a série estatística.

“De maneira geral, a gente observou um boom social inédito, mesmo comparando com períodos pós-estabilização, que foram períodos de boom social. Em toda a série estatística a pobreza nunca esteve num nível tão baixo, são 50 milhões de brasileiros. A queda foi realmente inédita, de acordo com as séries estatísticas”.

A redução da pobreza chegou a 30,4% na Região Nordeste e a 27,5% no Norte do país. No Sul, a redução foi de 13,9%; no Sudeste de 14,2% e no Centro-Oeste a queda na pobreza chegou a 21,7%.

Segundo a FGV Social, essas regiões têm maiores parcelas do público-alvo do auxílio emergencial. “O Brasil, nos nove meses do auxílio emergencial, até o final do ano, pretende gastar 322 bilhões de reais, cerca de nove meses são nove anos de Bolsa Família, uma injeção de recursos bastante substantivo”, destaca o pesquisador.

Mercado de trabalho

Por outro lado, Neri disse que as camadas com renda acima de dois salários mínimos per capita perderam 4,8 milhões de pessoas na pandemia e os dados do mercado de trabalho demonstram forte retração.

“Houve uma queda de renda de 20%. O índice de Gini teve um aumento muito forte, que é o índice de desigualdade. A renda do trabalho da metade mais pobre caiu 28%. Então guarda um certo paradoxo na pesquisa. As rendas de todas as fontes tiveram um aumento espetacular, principalmente na base da distribuição, enquanto a renda do trabalho, que deveria ser a principal renda das pessoas, teve uma queda igualmente espetacular, especialmente também na base da distribuição. O que explica esse paradoxo é a atuação do auxílio emergencial, que atingiu no seu pico com 67 milhões de brasileiros”.

Com a queda no topo e a subida na base das classes de renda, as camadas intermediárias tiveram um aumento de 21,4 milhões de pessoas, o que equivale a quase metade da população da Argentina. Neri lembra que a diminuição na pobreza é temporária e tende a ser totalmente revertida após o fim do auxílio emergencial.

“O boom social ocorrido em plena pandemia é surpreendente, mas enseja uma preocupação porque sua principal causa, que é o auxílio emergencial, generoso, que foi concedido, ele cai à metade agora em outubro, e depois é totalmente extinto em 31 dezembro. Então, nossa estimativa é que esses 15 milhões que saíram da pobreza vão voltar à velha pobreza de maneira relativamente rápida. Isso equivale a cerca de meia Venezuela em termos populacionais”, disse o pesquisador.

A pesquisa aponta também que ainda não foram definidos novos programas sociais para contornar a crise atual, bem como há “cicatrizes trabalhistas de natureza mais permanente abertas pela crise”.

Além disso, a questão sanitária preocupa, já que o segmento mais pobre, público alvo do auxílio emergencial, tem taxas mais baixas de isolamento social, o que indica o impedimento das pessoas mais pobres em conseguirem exercer “ações mais ajustadas às necessidades impostas pela pandemia”.

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