Candidato republicano às eleições presidenciais, Donald Trump, dia 13/06/2016 (Brian Snyder / Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de novembro de 2016 às 08h00.
Última atualização em 20 de novembro de 2016 às 08h00.
São Paulo – Poucos temas foram tão martelados por Donald Trump na campanha quanto o comércio internacional.
E deu certo: ele ganhou a eleição com uma base de perfil branco, mais velho e sem ensino superior – um grupo que não usufruiu muito os benefícios da globalização.
Um estudo recente verificou que desde 2000, a polarização política se acentuou mais justamente nas áreas americanas que mais sofreram impacto da competição internacional.
A resposta de Trump a esse cenário foi dizer que iria rejeitar a nova Parceria Transpacífica, renegociar o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) e impor pesadas condições e tarifas sobre a China.
Até que ponto ele pode fazer isso? A margem de manobra de um presidente americano é muito maior para fechar a economia do que para abrir.
“O presidente pode renegociar acordos de livre-comércio e elevar tarifas de importação sem aprovação do Congresso, mas uma política comercial agressiva deve gerar retaliação dos parceiros comerciais, mitigando os benefícios do aumento de tarifas de importação”, diz um relatório lançado na sexta-feira pelo Itaú Unibanco.
Ou seja, o TPP provavelmente será morto por inanição, mas é possível que boa parte do status quo seja mantido – tanto por pressões internas de empresas americanas que se beneficiam dele, tanto por forças pró-comércio dentro do próprio Partido Republicano.
“O que a história dos acordos comerciais até agora mostram é que os países tendem a respeitar o concordado”, disse Sandra Polónia Rios, Diretora do CINDES.
A declaração foi no Seminário de 40 anos da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), realizado na última sexta-feira em São Paulo.
Os analistas consideram que mesmo um EUA parado significa um desperdício de oportunidades, e que no mínimo medidas simbólicas devem sair do papel, como declarar oficialmente a China como manipuladora do câmbio:
“O presidente Trump terá que fazer alguma coisa em comércio porque não pode passar de forma impune por uma reversão do discurso de campanha”, diz o embaixador Carlos M. Cozendey, Subsecretário-geral de Assuntos Econômicos.
Ele espera medidas de defesa comercial mais setoriais e discricionárias, como já vem acontecendo com o aço. Nada muito além disso sobreviveria a desafios levados para a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Trump promete um crescimento de 4% enquanto vários órgãos colocam a faixa de crescimento potencial do país mais próxima dos 2%.
Para chegar lá, ele deve focar em mais estímulo fiscal por meio de um grande programa de infraestrutura e cortes de impostos, o que pode gerar pressões inflacionárias e prejudicar os emergentes.
“Ele vai realmente chutar o pau da barraca e as opiniões vão se dividir”, diz Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial.