Economia

Argentinos sacrificam vacas reprodutoras por crise e demanda chinesa

O abate das vacas é uma consequência do aperto na política monetária da Argentina e dos problemas do setor agrícola, com taxas de juros astronômicas

Argentina: abate de vacas pode levar o rebanho do país a ser reduzido em até 400 mil cabeças até 2020 (Marcos Brindicci/Reuters)

Argentina: abate de vacas pode levar o rebanho do país a ser reduzido em até 400 mil cabeças até 2020 (Marcos Brindicci/Reuters)

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Reuters

Publicado em 16 de julho de 2019 às 14h36.

Buenos Aires — Os famosos pecuaristas argentinos estão sacrificando suas vacas reprodutoras, no maior ritmo em 30 anos, para aproveitar a demanda chinesa e pagar as contas em meio a uma seca no acesso a crédito rural no país.

O movimento evidencia como o aperto na política monetária da Argentina tem espremido o setor agrícola com taxas de juros ao redor de astronômicos 60%, que prejudicam investimentos necessários para manter valiosos rebanhos de vacas e bezerros por vários anos até a maturidade.

"Os fazendeiros, sem fonte real de financiamento, estão procurando liquidez por meio dessas vendas de vacas", disse à Reuters o presidente da Federação Agrária Argentina, Carlos Achetoni.

A câmara argentina do setor de carnes, CICCRA, disse que no primeiro semestre de 2019 as fêmeas representaram 50,1% dos animais sacrificados, maior nível nas últimas três décadas e bem acima da taxa máxima vista como sustentável, de cerca de 43%.

 

Essa tendência pode levar o rebanho do país a ser reduzido em até 400 mil cabeças em 2020, ante um total de 53 milhões de cabeças em março.

"É uma decisão de sobrevivência", disse o presidente da CICCRA, Miguel Schiaritti.

Segundo ele, os fazendeiros estão precisando pensar no curto prazo e se desfazer de ativos porque não conseguem tomar empréstimos às atuais taxas de juros.

"Para os fazendeiros, a vaca é a máquina que produz bezerros. É como se alguém que fabrica parafusos vendesse a máquina que faz os parafusos para se financiar e pagar suas despesas."

A demanda chinesa, segundo os fazendeiros, tem sido importante para que essas vendas ao menos sejam lucrativas.

As exportações de carne bovina da Argentina para a segunda maior economia do mundo se multiplicaram, com embarques nos primeiros cinco meses do ano para os portos chineses representando 72% do total de 180.000 toneladas exportados pelo país, segundo a CICCRA.

A China demanda principalmente cortes mais baratos de carne de vacas --que se adequam melhor à culinária local, mais focada em pratos compartilhados do que em cortes de carnes nobres. Isso elevou o preço dessa categoria de carne em 88% contra um ano atrás, para média de 43 pesos (1,01 dólar) por quilo vivo nos principais mercados de gado da Argentina.

Os agricultores vendem as vacas para matadouros locais, que por sua vez enviam a carne para compradores globais, incluindo na China.

Carlos Iannizzotto, presidente da associação argentina de produtores rurais Coninagro, disse que os preços mais elevados devido à demanda da China ajudaram, embora a questão central ainda seja as finanças dos agricultores.

"As exportações para a China significam que pelo menos os produtores não precisam entregar suas vacas, eles podem obter um bom preço. Isso é uma bênção", acrescentou Schiaritti.

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