Refinaria e tanques de petróleo da Marathon em Wilmington, na Califórnia | Foto: Bing Guan/Bloomberg (Bing Guan/Bloomberg)
Agência de notícias
Publicado em 3 de julho de 2023 às 09h11.
A Arábia Saudita vai prolongar em um mês seu corte unilateral da produção de petróleo, limitando a oferta em meio a temores persistentes sobre a economia global. A Rússia, aliada na Opep+, também anunciou novas restrições às exportações.
O reino planeja manter a redução de 1 milhão de barris por dia — lançada este mês, além dos cortes existentes acordados com a Opep+ — até agosto e poderá estendê-la ainda mais, de acordo com comunicado publicado pela estatal Saudi Press Agency. O país vai bombear cerca de 9 milhões de barris diários, o menor volume dos últimos anos. Por enquanto, a medida sacrifica os volumes de vendas em troca de uma recompensa mínima em termos de preços mais altos.
A iniciativa saudita será auxiliada pela Rússia, que reduzirá as exportações de petróleo em 500 mil barris por dia em agosto, disse o vice-primeiro-ministro Alexander Novak em comentários publicados por sua assessoria de imprensa. Posteriormente, Novak acrescentou que o país também pretende cortar a produção na mesma quantidade.
Neste ano, o governo de Moscou tem adiado os cortes acordados com a Opep+, enquanto enfrenta pressão para manter o fluxo de fundos para sua guerra contra a Ucrânia.
A aliança de 23 nações da Opep+ visa alcançar o equilíbrio nos mercados globais de petróleo e evitar o acúmulo de estoques, disse o ministro de Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail Al Mazrouei, à agência de notícias estatal WAM. Os Emirados são os principais membros da coalizão.
“Diante da pouca confiança dos investidores e de um intervalo de negociação muito estreito, a Arábia Saudita praticamente não teve outra opção a não ser estender o corte de produção”, disse Viktor Katona, analista-chefe de petróleo da empresa de inteligência de mercado Kpler.
A demanda fraca na China tem mantido o petróleo perto de US$ 76 o barril, abaixo do nível que o Fundo Monetário Internacional acredita ser necessário para que a Arábia Saudita cubra o orçamento. Neste cenário, a extensão dos cortes do reino não surpreendeu: quase todos os traders e analistas consultados pela Bloomberg previam essa decisão.
A expectativa da maioria era de que os preços do petróleo subiriam este ano, mas as cotações caíram cerca de 11% devido a temores sobre a força da economia diante das crescentes taxas de juros. Analistas de Wall Street, incluindo as equipes do Goldman Sachs e do Morgan Stanley, descartaram projeções que colocavam o petróleo novamente em US$ 100 o barril.
Em teoria, os cortes prolongados de oferta não seriam necessários, já que os mercados globais de petróleo tendem a encolher no segundo semestre. O departamento de pesquisa da Opep, com sede em Viena, projeta que os estoques mundiais de petróleo já estão a caminho de se esgotar, em um ritmo acelerado de cerca de 2 milhões de barris por dia.
No entanto, as medidas reveladas pelos governos de Riad e Moscou nesta segunda-feira sugerem que os países estão cautelosos em relação à narrativa de um mercado cada vez mais apertado. Quando anunciou pela primeira vez os cortes extras da produção no mês passado, o ministro de Energia saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, disse a repórteres que “fará o que for necessário para trazer estabilidade a este mercado”.
Nações consumidoras como os Estados Unidos protestaram contra a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados por sua política de restrição de suprimentos, acusando o cartel de exacerbar a inflação e colocar em risco uma frágil recuperação econômica. A Agência Internacional de Energia condenou o grupo por “sitiar” consumidores vulneráveis.
Os sauditas indicaram em seu comunicado que novas prorrogações são possíveis, e o príncipe Abdulaziz — que vai discursar em uma conferência de energia organizada pela Opep em Viena na quarta-feira — prometeu manter traders em “suspense” sobre seus planos.
“Há pouco agora para posições vendidas especulativas que justifiquem a posição extremamente negativa que assumiram, então as medidas sauditas devem ajudar a normalizar o posicionamento no mercado”, disse Paul Horsnell, chefe de pesquisa de commodities do Standard Chartered.