Antes motor para o PIB, cenário externo agora puxa projeções para baixo
Segundo economistas, há dois riscos: a elevação de juros em vários países e uma eventual desaceleração mais acentuada do crescimento econômico da China
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de outubro de 2021 às 17h46.
Última atualização em 18 de outubro de 2021 às 18h11.
Desde que a economia brasileira ensaiou uma recuperação, em meados do ano passado, a conjuntura global ajudava o país. Isso durou pelo menos até a primeira metade do ano. Nas últimas semanas, porém, ao revisar para baixo as projeções de crescimento econômico do Brasil em 2022, economistas de bancos como Itaú, Bradesco e J.P. Morgan citaram o cenário externo menos favorável entre os motivos para esperar um desempenho pior.
Segundo economistas ouvidos pelo Estadão, há dois riscos. Um é a elevação de juros em vários países, com a retirada de estímulos monetários para mitigar a crise da covid-19 e a necessidade de combater uma inflação espalhada por todo o planeta, de forma inédita. O segundo é uma eventual desaceleração mais acentuada do crescimento econômico da China, por causa dos problemas financeiros da incorporadora imobiliária Evergrande. As turbulências do exterior afetam a economia nacional por dois canais. Um é o comércio exterior, com a menor demanda por matérias-primas como soja, minério de ferro, carnes ou celulose. O outro é o setor financeiro, um canal indireto.
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Como as exportações não impulsionam toda a economia brasileira, o canal financeiro "é fundamental" e até mais importante que o comércio exterior, de acordo com José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Do início do ano para agora, mudaram as expectativas de que uma alta generalizada de juros poderia demorar, disse Senna. Os juros dos títulos públicos americanos já começaram a subir nas últimas semanas e, "agora, todos estão esperando que os bancos centrais vão antecipar o ajuste de juros [ para cima ]".
"É exatamente disso que nós não precisamos. Já temos problemas internos demais", disse o pesquisador da FGV, ex-diretor do Banco Central (BC).
Exportações
Ao revisar sua projeção de crescimento econômico de 2022 no Brasil para 1,6% — antes era 1,8% — em relatório divulgado recentemente, o Bradesco destacou o cenário externo, com a China em primeiro plano. O banco estimou o preço "justo" do minério de ferro em 120 dólares por tonelada, o que tira "bilhões de dólares da pauta de exportações" do Brasil, disse Fabiana D'Atri, coordenadora do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco.
"Para o Brasil, a China ainda é o mais importante quando olhamos para a demanda externa. É o principal destino das exportações brasileiras", disse a economista-chefe do J.P. Morgan para o Brasil Cassiana Fernandez, no mês passado, ao comentar a revisão de projeções do banco de investimentos, que agora estima avanço de apenas 0,9% no Brasil em 2022.
Economistas especializados na China descartam uma crise sistêmica no setor imobiliário local, mas destacam que a desaceleração do gigante asiático é um movimento estrutural.