Economia

Americanos que não foram demitidos enfrentam cortes de salários

A pandemia do novo coronavírus levou o desemprego noo país ao nível mais alto desde a Grande Depressão

Pessoas circulam em Nova York durante pandemia do coronavírus (Cindy Ord / Equipe/Getty Images)

Pessoas circulam em Nova York durante pandemia do coronavírus (Cindy Ord / Equipe/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 28 de maio de 2020 às 11h07.

Última atualização em 28 de maio de 2020 às 11h39.

Empresas nos Estados Unidos têm reduzido salários em meio à batalha para sobreviver ao coronavírus, o que contradiz uma suposição fundamental da economia moderna e apresenta outro obstáculo à uma rápida recuperação.

Números concretos serão conhecidos apenas em alguns meses, mas evidências se acumulam. Em teleconferências sobre balanços, grandes empresas, como The Container Store e Lyft, citaram o que dizem ser reduções temporárias de salário. Especialistas do Federal Reserve também encontraram muitas evidências.

O nível de desemprego nos EUA provocado pela pandemia é o mais alto desde a Grande Depressão. Reduções salariais para americanos que conseguiram manter seus empregos podem dificultar o retorno à normalidade. Os cidadãos terão que usar uma parcela maior da renda para despesas fixas, como moradia e outras dívidas, deixando menos para o tipo de gasto que pode ajudar a reativar a economia.

“É uma das razões pelas quais não esperamos uma recuperação em forma de V”, disse Michael Gapen, economista-chefe para EUA do Barclays, em Nova York. Americanos com salários cortados “podem ter pouco e, em alguns casos, talvez nada, para compras discricionárias”.

O salário semanal agregado caiu 11% em abril, a maior jqueda á registrada

O salário semanal agregado caiu 11% em abril, a maior jqueda á registrada (Divulgação/Bloomberg)

Fora de “setores de alta demanda, como supermercados”, há sinais de “abrandamento salarial geral e cortes de salário” em toda a economia, de acordo com pesquisa do Fed em abril. Estudo realizado pela Thomvest Ventures, que analisou 22 empresas listadas em bolsa e privadas de tecnologia, revelou que funcionários não executivos tiveram os salários reduzidos em média de 10% a 15%.

Isso não deveria acontecer, segundo teorias que dominaram a economia por quase um século, desde que John Maynard Keynes apresentou sua famosa “Teoria Geral” durante a Grande Depressão.

Segundo a teoria, empregadores podem reduzir os salários ajustados pela inflação ao aumentar a remuneração abaixo dos preços. Mas é mais difícil reduzir os salários em termos nominais, em outras palavras, colocar um número menor nas folhas de pagamento.

Embora o Congresso tenha autorizado cerca de US $ 3 trilhões em gastos fiscais, o presidente do Fed, Jerome Powell, alertou que as medidas adotadas até o momento podem não ser suficientes para evitar falências generalizadas e prolongado desemprego.

A pandemia expõe as deficiências do modelo neokeynesiano, de acordo com J.W. Mason, professor assistente de economia na Universidade da Cidade de Nova York. A verdadeira conclusão de Keynes é que os cortes salariais apenas afastam a economia, em vez de aproximá-la, do pleno emprego.

“A fonte do desemprego em uma crise como esta é a falta de demanda agregada”, disse. “Os cortes de salários só vão piorar as coisas.”

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