Ministério da Fazenda: investidores esperam mudança (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2014 às 14h04.
Nova York e São Paulo - Independentemente de quem for o escolhido pela presidente Dilma Rousseff para administrar as finanças do governo em seu segundo mandato, uma coisa é clara: há muito trabalho a ser feito para conquistar os investidores de câmbio.
Apesar de o real ter mostrado, no dia 21 de novembro, a maior alta em relação ao dólar em mais de três semanas em meio ao otimismo com a iminente nomeação da equipe econômica, os estrangeiros apostam em mais perdas para a moeda brasileira, que tocou a mínima em nove anos neste mês.
A participação de estrangeiros em contratos futuros apostando em um real mais fraco cresceu 30 por cento desde 29 de setembro para US$ 31,3 bi, segundo a BM&FBovespa. Isso está a apenas 8,6 por cento do recorde de agosto.
Um aumento no gasto do governo, combinado com a intervenção de Dilma na maior economia da América Latina, deixou o Brasil com seu maior déficit fiscal em uma década e crescimento quase zero.
Os traders de opções estão mais baixistas em relação ao real do que em relação a qualquer um dos principais pares da moeda.
“Há uma pressão por mais depreciação”, disse Marcelo Assalin, que supervisiona US$ 7,5 bilhões em dívida de mercados emergentes na ING Investment Management Co. em Atlanta, por telefone no dia 21 de novembro.
“Os investidores e o mercado em geral estão buscando sinais de melhoria para a economia brasileira. As pessoas não querem ver mais do mesmo”.
Pior desempenho
No dia 14 de novembro, o real caiu para 2,6287 por dólar, a mínima desde abril de 2005, antes de se recuperar ao ser negociado a 2,5158 no dia 21 de novembro.
A queda de 12 por cento desde meados do ano faz do real a moeda com o pior desempenho atrás do iene entre 16 principais moedas acompanhadas pela Bloomberg.
O real perdeu 40 por cento de seu valor desde janeiro de 2011, quando Dilma tomou posse. As perdas foram exacerbadas nos últimos meses por um recuo nos preços das commodities, principal fonte de receita de exportações do Brasil.
Uma moeda mais fraca é negativa para o Brasil porque eleva o custo das importações e impulsiona a inflação, que subiu para 6,75 por cento em setembro, superando o teto de tolerância do governo.
Desde agosto de 2013 o Banco Central emitiu US$ 104,9 bilhões em swaps cambiais, equivalente a 28 por cento de suas reservas, para segurar a moeda.
Dilma tem uma chance de começar a reconquistar os investidores que se afastaram quando ela escolher seu próximo ministro da Fazenda.
Na campanha para sua vitória apertada de 26 de outubro, ela disse que substituiria Guido Mantega, o rosto público das políticas do governo que produziram a primeira recessão do Brasil em cinco anos.
Crescimento econômico
O jornal Folha de S. Paulo informou em sua edição on-line do dia 21 de novembro que Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management Ltd., substituirá Mantega. Levy foi secretário do Tesouro no governo do antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, quando o crescimento econômico brasileiro chegou a 5,7 por cento em meio a uma alta nos preços das commodities.
A assessoria de imprensa da presidente preferiu não comentar. A assessoria de imprensa do Banco Central não respondeu a um telefonema e a uma mensagem em busca de comentário. Levy não respondeu a e-mails em busca de comentário enviados ao longo do fim de semana.
A equipe econômica de Dilma para seu segundo mandato proporá ajustes que visam a garantir sustentabilidade fiscal e atrair investimentos, informou a Folha no dia 23 de novembro, citando assessores presidenciais não identificados.
Um substituto “amigável ao mercado” para Mantega, que em 2010 cunhou o termo “guerra cambial” para descrever as desvalorizações competitivas que ocorriam à época, pode levar a uma “nítida recuperação” do real, escreveram analistas do Citigroup Inc. liderados por Kenneth Lam, de Nova York, em uma nota a clientes de 20 de novembro.
Mesmo com uma equipe econômica viável o real continuará caindo porque “melhoras substanciais” na política econômica, como grandes cortes em gastos e a remoção de subsídios, não são politicamente viáveis, segundo Eamon Aghdasi, estrategista do Société Générale SA.
O real “tem tido um mau desempenho por causa da gestão econômica ruim e da falta de competitividade”, disse Viktor Szabo, que gerencia US$ 13 bilhões em dívidas de mercados emergentes na Aberdeen Asset Management Plc em Londres, por telefone, no dia 20 de novembro. “O mercado está decepcionado por ter outro mandato” de Dilma.