São Paulo - Começou nesta semana em Davos, na Suíça, a reunião anual do Fórum Econômico Mundial com a nata da elite política e financeira mundial.
Dê uma olhada em uma pequena seleção dos participantes: Mauricio Macri (presidente da Argentina), Nelson Barbosa (ministro da Fazenda brasileiro), Nouriel Roubini, Leonardo DiCaprio e Kevin Spacey.
O tema oficial do ano é "a quarta revolução industrial", mas tudo acaba entrando na pauta: da desigualdade de renda à regulação financeira, passando pela ameaça terrorista e a crise dos refugiados.
Nos últimos dias, alguns nomes importantes destacaram alguns traços preocupantes na economia global. Veja três deles:
Ray Dalio, fundador do Bridgewater Associates, maior fundo de hedge do mundo: não temos mais uma locomotiva
"Tradicionalmente, os Estados Unidos eram a locomotiva mundial. Em outras palavras: quando começavam a crescer, isso ajudava a criar exportações em outros países. Desde 2008, a China representou um terço do crescimento mundial, não só internamente mas através de importações - outros países se beneficiavam desde crescimento e é isso que eu chamo de locomotiva. E agora o mundo não tem uma locomotiva, não tem um país que está conduzindo o crescimento econômico global", disse Dalio em entrevista para o Business Insider.
A ascensão da China foi uma experiência histórica inédita: em poucas décadas, o país se transformou no maior ator comercial, maior consumidor de commodities e segundo maior PIB do mundo.
Mas eventualmente o modelo chinês começou a se esgotar, e os números de 2015 divulgados nesta semana mostram uma clara desaceleração sem sinais claros de que isso esteja tornando a economia pelo menos mais equilibrada.
O medo de que a China faça o chamado "pouso forçado" e de que suas autoridades errem na reação são um dos principais fatores por trás do aumento da volatilidade dos mercados neste início de 2016.
William White, presidente do Comitê de Avaliação da OCDE e ex-economista chefe do BIS (Banco de Compensações Internacionais): acabou a munição
"A situação é pior do que em 2007. Nossa munição macroeconômica para lutar contra baixas está essencialmente esgotada (...) Continuamos empilhando dívidas nos últimos 8 anos e elas chegaram em tais níveis em toda parte do mundo que se tornaram uma causa potente de maquinações. Ficará óbvio na próxima recessão que muitas dessas dívidas nunca serão mantidas ou pagas, e isso será desconfortável para muita gente que pensa que seus ativos valem alguma coisa", disse para o Telegraph.
Quando White fala, o mundo ouve: ele foi um dos poucos que alertaram a partir de 2005 sobre o risco que o mundo desenvolvido corria de estar caminhando para uma crise de grandes proporções.
Sua preocupação também tem base estatística: desde 2007, a dívida pública e privada subiu 35 pontos percentuais em relação ao PIB tanto nos países emergentes (onde está hoje em 185%) quando nas economias da OCDE (onde chega a 265%).
Os bancos centrais já não tem como estender ainda mais estas garantias para estimular a economia - e além do mais, estes títulos estão espalhados de forma perigosa:
"É preciso desendividar o sistema financeiro. Atualmente ainda há entre US$ 40 e 80 trilhões em derivativos, similares aos que levaram o mundo à beira da quebra em 2008", alertou em um dos debates o investidor americano Paul Singer, da Elliott Management.
Zhu Min, diretor adjunto do FMI (Fundo Monetário Internacional): a liquidez pode evaporar
O Federal Reserve começou no ano passado a aumentar seus juros pela primeira vez desde 2006 - na prática, enxugando dinheiro do mercado e revertendo a política monetária extremamente generosa do pós-crise.
O problema é que os investidores estavam concentrados em certas posições de mercado e quando o clima muda, todo mundo quer vender ao mesmo tempo. É uma receita para crises.
"A questão chave é que a liquidez pode cair dramaticamente e isso assusta todo mundo. Todos estão se movendo juntos então não há nenhuma liquidez. Precisamos estar preparados para agir muito rapidamente", disse Min em um dos painéis.
-
1. Alerta
zoom_out_map
1/7 (Albert Gea/Reuters)
São Paulo - Começa na semana que vem em
Davos, na
Suíça, o tradicional encontro do Fórum Econômico Mundial. Como prévia, a organização lançou ontem um relatório com os maiores riscos enfrentados pela economia global, definidos com base nas respostas de 750 membros do Fórum. Em termos de probabilidade, os 5 maiores riscos são, em ordem: migração involuntária de grande escala, eventos climáticos extremos, o fracasso da adaptação e mitigação das mudanças climáticas, conflitos entre estados com consequências regionais e grandes catástrofes naturais. Em termos de impacto, os 5 maiores são, em ordem: o fracasso da adaptação e mitigação das mudanças climáticas, armas de destruição em massa, crise da água, migração involuntária de grande escala e choques do preço de energia. Só este último é propriamente de natureza econômica, mas outros aparecem no ranking completo. Dois em específico (
desemprego/subemprego e choques de preços de energia) são mencionados como riscos da mais alta preocupação para fazer negócios em 140 economias. Veja quais são os 5 riscos econômicos que entraram no top 10 do Fórum - ou entre os mais prováveis, ou entre os de maior impacto.
-
2. Desemprego ou subemprego
zoom_out_map
2/7 (REUTERS/Paulo Whitaker)
A ameaça do desemprego e do subemprego é vista como o maior risco para os negócios em 41 países e está no top 5 em 92 países. O problema aumentou em todas as grandes economias desde a crise de 2007 e além de prejudicar o crescimento e a estabilidade social, deixa marcas perenes nos afetados. O desemprego na Europa, que chega a chocantes 50% entre a juventude grega, "ameaça tirar as habilidades de toda uma geração, agravando ainda mais a busca dos negócios por trabalhadores com o tipo correto de competências para competir na acelerada economia global atual", diz o Fórum. Com as mudanças tecnológicas, ninguém pode dizer com segurança qual é sua tendência de longo prazo e reformas profundas no sistema de educação se tornaram urgentes.
-
3. Comércio ilegal
zoom_out_map
3/7 (Michael Nagle/Bloomberg News)
O comércio ilegal era considerado parte do risco de "governança nacional" e só agora é tratado como algo separado - e importante. "Atividades de larga escala fora de parâmetros legais como fluxo financeiro ilícito, evasão fiscal, tráfico de pessoas, falsificação e crime organizado minam as interações sociais, a colaboração regional e internacional e o crescimento global", diz o relatório do Fórum. Um estudo recente de Euromonitor aponta que o valor do comércio ilegal
representa de 8% a 15% do PIB global. A estimativa mais alta bate nos US$ 12 trilhões em 2014, mesmo tamanho do PIB da China, a segunda maior economia do mundo.
-
4. Choque dos preços de energia
zoom_out_map
4/7 (ThinkStock/Thinkstock)
Quando o Fórum fala em choques de preços de energia, pode ser uma alta ou uma queda inesperada. Naturalmente, isso importa bastante para países exportadores de commodities como o Brasil e o Canadá (neste, é a preocupação número 01). Na Europa, a energia mais barata alimentou a deflação (o que é ruim) mas liberou recursos para o consumo (o que é bom). Já para os países do Oriente Médio, o tombo do petróleo de 70% só nos últimos 18 meses gerou uma crise que
pede por medidas ousadas. "Os preços baixos estão levando a uma queda de exportações e receita, prejudicando as finanças públicas, minando o planejamento financeiro e ameaçando expor uma economia com diversificação frequentemente insuficiente", diz o Fórum. Em nenhum lugar
isso é tão claro quanto na Arábia Saudita.
-
5. Crises fiscais
zoom_out_map
5/7 (Getty Images)
As crises fiscais chegaram a ser o risco de principal impacto para o mundo nos relatórios de 2011 e 2014. Apesar de terem perdido importância relativa, continuam preocupando: "A consolidação fiscal está começando a dar resultado, mas a dívida do governo em economias avançadas ainda está projetada para chegar a 104,2% do PIB em 2016, muito maior do que o nível pré-crise de 71,6% em 2007", diz o relatório. Em economias emergentes, há alguns pontos de atenção
como o Brasil, onde o setor público registrou déficit primário de R$ 39,5 bilhões de janeiro a novembro de 2015 (ou 0,73% do PIB), enquanto o déficit nominal, que também inclui o pagamento de juros, foi de R$ 549 bilhões nos 12 meses até novembro (ou impressionantes 9,3% do PIB).
-
6. Bolhas de ativos
zoom_out_map
6/7 (Brocken Inaglory/Wikimedia)
O risco de bolhas de ativos ficou em primeiro lugar nas preocupações de 11 economias, principalmente da Europa e Ásia, e no top 5 em 40 países que representam mais de metade do PIB mundial. "Longe de afetar apenas especuladores, o estouro de bolhas de ativos afeta negócios ao longo de toda a economia - particularmente onde a alavancagem induz o contágio através do sistema bancário. Na medida em que cai a confiança dos negócios, o mesmo acontece com o consumo, a renda e o investimento, o que pode levar a uma recessão prolongada", diz o Fórum. Esse risco aumentou na medida em que a política monetária expansiva do pós-crise, combinada com juros baixos, levou a um ambiente de busca de retorno em determinados tipos de ativos que subiram muito de preço. São bolhas? Só o tempo dirá.
-
zoom_out_map
7/7 (Wikimedia/Domínio Público)
-
1. Sob a sombra da dívida
zoom_out_map
1/22 (Yuya Shino/Reuters)
São Paulo - Europa,
Ásia e América do Norte.
Países ricos, pobres e de renda média. Economias estagnadas ou com crescimento saudável. Todos marcam presença na lista dos países com maior endividamento público em relação ao PIB. Em 17 dos 20, a
dívida é maior do que a própria economia. Isso não significa que eles tem a pior situação financeira do mundo ou o maior risco de calote, fatores que dependem mais do perfil da dívida e da disposição do mercado em financiar seu rolamento do que de seu tamanho em si. No caso brasileiro, por exemplo, a preocupação é com a trajetória. Em termos líquidos, a dívida foi de 46% do PIB em 2000 para 34% em 2014. Em termos brutos, ela chegou a 78% em 2002 e caiu para 61% em 2008, mas já voltou para 65%, com um ganho de 3 pontos percentuais só no último ano. Veja a seguir quais são os 20 países com maior endividamento em relação ao PIB, com dados em 3 momentos dos últimos 20 anos. A dívida líquida desconta do valor total os ativos que o país tem disponíveis para pagamento (como as reservas internacionais). O resultado primário é, a grosso modo, o balanço (positivo ou negativo) das receitas menos despesas.
-
2. 1. Japão
zoom_out_map
2/22 (Adam Pretty/Staff)
-
3. 2. Grécia
zoom_out_map
3/22 (Angelos Tzortzinis/Bloomberg)
-
4. 3. Itália
zoom_out_map
4/22 (Moyan Brenn/Flickr/Creative Commons)
-
5. 4. Jamaica
zoom_out_map
5/22 (Divulgação)
-
6. 5. Líbano
zoom_out_map
6/22 (WAEL LADKI / Bloomberg)
-
7. 6. Eritreia
zoom_out_map
7/22 (Wikimedia Commons)
-
8. 7. Portugal
zoom_out_map
8/22 (Wikimedia Commons)
-
9. 8. Cabo Verde
zoom_out_map
9/22 (Wikimedia Commons)
-
10. 9. Butão
zoom_out_map
10/22 (Thinkstock)
-
11. 10. Irlanda
zoom_out_map
11/22 (Thinkstock)
-
12. 11. Granada
zoom_out_map
12/22 (Set1536/EXAME.com)
-
13. 12. Antígua e Barbuda
zoom_out_map
13/22 (Getty Images)
-
14. 13. Bélgica
zoom_out_map
14/22 (Ssolbergj/Wikimedia Commons)
-
15. 14. Chipre
zoom_out_map
15/22 (EUCyprus/Wikimedia Commons)
-
16. 15. Estados Unidos
zoom_out_map
16/22 (City Climate Leadership)
-
17. 16. Barbados
zoom_out_map
17/22 (Wikimedia Commons / Postdlf)
-
18. 17. Gâmbia
zoom_out_map
18/22 (wikimedia commons)
-
19. 18. Espanha
zoom_out_map
19/22 (Matt Trommer/Shutterstock.com/Kayak)
-
20. 19. Singapura
zoom_out_map
20/22 (Mike Behnken/Flickr/Creative Commons)
-
21. 20. França
zoom_out_map
21/22 (Siraanamwong / ThinkStock)
-
zoom_out_map
22/22 (Getty Images)