Economia

2003 terá baixo crescimento econômico; inflação preocupa mais

Mesmo entre os economistas do Partido dos Trabalhadores há o consenso de que o ano de 2003 será difícil. Com um cenário de alta de inflação e severo ajuste das contas externas, além das pressões da economia internacional, o principal desafio do governo Lula é achar o ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade política de […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h26.

Mesmo entre os economistas do Partido dos Trabalhadores há o consenso de que o ano de 2003 será difícil. Com um cenário de alta de inflação e severo ajuste das contas externas, além das pressões da economia internacional, o principal desafio do governo Lula é achar o ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade política de seu governo com a conquista da confiança do mercado.

O resultado de uma série de fatores leva alguns analistas acreditarem que 2003 será um ano de baixo crescimento econômico. O Credit Suisse First Boston (CSFB) estima crescimento de apenas 0,9% em 2002 e 1% em 2003 - contra 1,2% e 2,5%, previstos anteriormente. Isso acarreta políticas fiscal e monetária mais apertadas e a prolongação da necessidade de crédito externo. Além disso, taxas elevadas de desemprego e inflação alta deterioram o poder de compra da população e o baixo consumo colabora para a estagnação da economia.

O CSFB, assim como outros importantes analistas do mercado, acreditam que a inflação é o principal risco de 2003. Em seu relatório sobre os próximos meses do governo Lula, a instituição faz uma prospecção econômica do primeiro ano de governo Lula e comenta alguns aspectos do período de transição. Para a análise do que será o ano que vem, o CSFB assume o pressuposto que o governo Lula será light - e ressalta que este perfil pode ser confirmado nos próximos dois meses, antes da posse em janeiro, com alguns sinais dados pelo PT.

Primeiro passo: confiança

Para que os investidores acreditem nas promessas de campanha de Lula, será preciso que ele forme um governo moderado e centrista. Se formar um governo moderado e centrista, corre o risco de decepcionar as expectativas de mudanças imediatas de boa parte de seu eleitorado. O que prejudica a sustentabilidade do governo e afeta os resultados do mercado da mesma forma. "Se não houver a ruptura drástica da atual política econômica as mudanças virão em longo prazo. É uma alternativa difícil, mas ainda assim de menor custo na busca pela retomada do crescimento sustentado", afirmam os analistas do CSFB.

Era aguardado para esta terça-feira (29/10) o primeiro destes sinais: os nomes da equipe de transição, anúncio que foi adiado para amanhã. A única informação concedida foi que Antonio Palocci será o coordenador da equipe. Palocci era um nome desconhecido fora do PT até assumir a coordenação da campanha de Lula, função que lhe deu destaque na mídia. É um nome bem aceito pelo mercado, sem dúvida, até porque Palocci é um dos "fundadores" da linha light do partido. O adiamento da divulgação do restante da equipe decepcionou o mercado, mas nada que abalasse o voto de confiança dado ao novo presidente. O único problema é que quanto mais tarde, maior a expectativa do mercado. "O PT terá de anunciar nomes do tamanho dessa expectativa", diz Otávio de Barros, economista-chefe do BBV Banco.

Outros sinais que serão mandados pelo PT no curto prazo, segundo o CSFB, são os nomes da equipe econômica, que será anunciada em novembro; a formação da base política do governo Lula no Congresso; o progresso da agenda do Congresso até o fim do ano, principalmente das votações da independência do Banco Central e do Orçamento (que inclui a pauta do reajuste do salário mínimo e do funcionalismo público); e, por fim, a posição do partido em relação à renegociação da dívida dos estados e municípios. "Quanto mais pró-mercado for a resolução de cada uma destas questões, maiores as chances de restabelecer a confiança e acalmar o mercado", diz o CSFB.

Cara-a-cara com o FMI

A reunião em novembro com o Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais uma ocasião esperada pelo mercado. Uma missão do fundo virá ao país para checar o andamento das metas acordadas para liberar mais uma parcela prevista no acordo, de 3 bilhões de dólares, em dezembro. Como houve alta da relação dívida/PIB e em expectativas de inflação, a recomendação seria apertar a política monetária e fiscal - o que significa que o principal ponto a ser discutido será a elevação da meta do superávit primário para 2003. Dos atuais 3,75% do PIB, essa meta deve passar para 4%. Antes do segundo turno, Palocci já havia declarado que, se eleito, Lula cumpriria "o superávit primário que for necessário", o que animou o mercado. De qualquer forma, o bom sinal aguardado é a ratificação do acordo com o FMI pelo PT.

Dólar e cenário externo em 2003

Assumido o perfil light da gestão Lula, o principal termômetro da aceitação pelo mercado será a taxa de câmbio. Mais tranqüilos, os investidores deixarão de pressionar de forma negativa o fluxo de capital ao país, o que levará à apreciação do real. Em outubro, o dólar chegou a valer 3,90 reais, uma desvalorização da moeda de 51% em relação aos últimos três anos. "Considerando um governo moderado, nossa previsão é que em dezembro o dólar chegue a 3,50 reais e 3,80 reais até o final de 2003 - evolução impulsionada pela inflação", afirma o CSFB. Dois obstáculos para a valorização da moeda nacional são previstos: o cenário internacional e o processo de redução do estoque de títulos e swaps cambiais, dos quais vencem 10,2 bilhões de dólares ainda este ano.

"Fatores externos serão os principais condicionantes do primeiro ano da administração Lula", afirma o CSFB. Isso porque o baixo volume do fluxo de capital externo reflete diretamente no ajuste da balança de pagamentos. Mesmo que a desvalorização do real deva baixar o déficit em conta corrente de 4,6% do PIB (23,2 bilhões de dólares) em 2001 para 2% em 2003, segundo estimativa do CSFB, o país precisará de cerca de 33,4 bilhões de dólares em financiamentos externos - o que significa ajuda do FMI para fechar a conta. É importante ressaltar que essa questão é relativa ao setor privado. E também que o ajuste no balanço dificulta qualquer relaxamento de política fiscal.

A sombra da inflação

O CSFB trabalha com uma expectativa de IPCA de 8,5% em 2002 e 11,2% em 2003. muito superiores às metas impostas. O grande desafio do Banco Central, portanto, será levar a inflação de volta para os níveis internacionais. Isso pressupõe pouco espaço para queda da taxa de juros logo no início da administração petista. Por isso, o CSFB aposta na manutenção dos atuais 21% até pelo menos o segundo trimestre de 2003 e depois numa queda para 17% até o final daquele ano.

Baixo crescimento

O resultado deste contexto é o baixo crescimento. E a estagnação pode prejudicar a sustentação política do governo petista que, além de ter de enfrentar as insatisfações de facções do próprio partido, ainda terá de lidar com uma possível cobrança do eleitorado por mudanças imediatas. Entretanto, a opinião da maior parte do mercado é a mesma que a do CSFB: é possível fazer o ajuste externo com inflação alta sem ruptura da rolagem da dívida doméstica. "Naturalmente, isso só será possível com a severidade fiscal", diz o CSFB. Antes dela, o PT precisa dar o primeiro passo: conquistar a confiança do mercado.

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