Economia

O futuro que já está aí

The Inevitable: Understanding the 12 Technological Forces That Will Shape Our Future Autor: Kevin Kelly. Viking. 332 páginas. ——————————– David Cohen  O pior inimigo da raça humana na série de ficção científica Jornada nas Estrelas – A Próxima Geração eram os borgs. Individualmente, esses alienígenas pareciam zumbis, mas estavam assimilados a uma inteligência coletiva extraordinária, […]

ZUCKERBERG, DO FACEBOOK: a maior empresa de mídia do mundo não produz conteúdo / Stephen Lam/File Photo (Stephen Lam/File Photo)

ZUCKERBERG, DO FACEBOOK: a maior empresa de mídia do mundo não produz conteúdo / Stephen Lam/File Photo (Stephen Lam/File Photo)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2016 às 09h13.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h56.

The Inevitable: Understanding the 12 Technological
Forces That Will Shape Our Future

Autor: Kevin Kelly. Viking. 332 páginas.

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David Cohen 

O pior inimigo da raça humana na série de ficção científica Jornada nas Estrelas – A Próxima Geração eram os borgs. Individualmente, esses alienígenas pareciam zumbis, mas estavam assimilados a uma inteligência coletiva extraordinária, cuja grande missão era identificar novas espécies para incorporar à coletividade. É difícil não lembrar desses vilões da tevê do início dos anos 90 ao deparar com as previsões do novo livro do escritor Kevin Kelly, The Inevitable – Understanding the 12 Technological Forces that Will Shape Our Future (“O Inevitável – compreendendo as 12 forças tecnológicas que vão moldar nosso futuro”, numa tradução livre).

Kelly, cofundador e primeiro editor executivo da revista de tecnologia Wired, nos apresenta um mundo totalmente conectado, com vigilância total, em que todo tipo de objeto físico vai interagir conosco e enviar informações à rede coletiva, desde as embalagens do supermercado até as roupas. Desse conjunto emergirá uma espécie de inteligência que ele apelida de holos, uma combinação das mentes humanas, do comportamento de todas as máquinas, da inteligência da natureza e “do que mais emergir desse complexo todo”. A diferença é que Kelly considera este um cenário alvissareiro. Não chega a ser uma utopia, diz ele. Tampouco uma distopia. Trata-se de uma protopia. “Um estado de vir a ser, mais do que um destino”, descreve. Na protopia, ele afirma, “as coisas são melhores hoje do que ontem, embora só um pouco melhores”.

Um mundo interligado, segundo ele, permite cuidados melhores com a saúde, mais segurança, progresso ainda mais acelerado. Os temores de que a tecnologia crie um mundo em que os humanos são dispensáveis são, segundo ele, exagerados. “Esta não é uma corrida contra as máquinas. Se corrermos contra elas, vamos perder. Esta é uma corrida com as máquinas.”

Exposta assim, a visão de Kelly parece argumento de ficção científica. Mas muito do que temos hoje também parecia ficção científica poucas décadas atrás. Isso não significa, obviamente, que as previsões de Kelly sejam, como diz o título do livro, inevitáveis. Como o próprio autor admite, Kelly já cometeu erros em previsões anteriores. Em 1989, experimentou um equipamento de realidade virtual no escritório do misto de artista com cientista computacional Jason Lanier. Depois de vestir uma luva e óculos escuros conectados por vários fios a um computador e interagir com um avatar de Lanier num ambiente de desenho animado, Kelly previu a tecnologia da realidade virtual invadiria o planeta nos próximos cinco anos. Ou no máximo até o ano 2000. “Mas nenhum avanço ocorreu até 2015”, afirma. Só agora, mais de um quarto de século depois, a realidade virtual começa a se adaptar para o uso combinado com o celular.

No entanto, ele continua a fazer previsões arriscadas e associações. Para Kelly a tecnologia de fato funciona como um ser vivo (o apelido que ele dá para ela é technium). Além disso, ele é determinista: sua evolução é inexorável, previsível e caminha para um objetivo.

O leitor não precisa abraçar essa tese para se beneficiar dos insights do livro. Ele é menos um guia para o futuro do que um mapa do presente. Algumas das tendências que Kelly aponta talvez demorem mais ou não cheguem nunca. Mas a síntese que ele faz das 12 tecnologias emergentes é no mínimo informativa, e provavelmente esclarecedora.

Uma delas é chamada por Kelly pelo nome de “Acessando”. Mais importante do que ter é dispor. É o que está por trás de algumas das empresas mais valiosas hoje. O Uber, a maior companhia de táxis do mundo, não tem carros. O Facebook, o conglomerado de mídia mais popular, não cria conteúdo. O Alibaba, o comércio mais valioso, não tem inventário. O Airbnb, o maior provedor de acomodação, não tem quartos.

O futuro é cognificado

Outra das tendências apontadas por Kelly é “Cognificando”. “Três gerações atrás, muita gente ficou rica pegando produtos que existiam e lançando suas versões elétricas. Agora tudo o que foi previamente eletrificado vai ser cognificado”, escreve. Os sinais já estão por aí. O Google comprou a Nest, uma empresa com basicamente um único produto, um termostato capaz de se comunicar com a rede – que por isso pode ser controlado à distância, ou programado. Agora imagine roupas que informam à máquina de lavar em qual ciclo gostariam de ser esfregadas, ou embalagens de sabão em pó que informam quando o produto está acabando, e já colocam o item na sua lista de compras.

Esta é a tão falada “internet das coisas” é o próximo passo da vida em rede. Segundo Kelly, é o início do tal holos, a inteligência do sistema. Um exemplo de como essa inteligência sistêmica substitui o antigo conceito de inteligência individual é o supercomputador Watson, da IBM. Ele é usado em serviços diversos, existe espalhado em uma nuvem de servidores que processam várias centenas de “instâncias” da inteligência artificial ao mesmo tempo. Em vez de um único programa, ele é um agregado de diversos softwares.

Segundo Kelly, nós estamos também entrando na terceira era da computação, a da fluidez (Fluindo é outra das tendências que ele aponta no livro). É a era do streaming, da nuvem. Nós já a sentimos: quando assistimos a um filme no celular. Ele está armazenado na nuvem (uma rede de servidores em que cada um entrega alguns pedaços do conteúdo, com redundância). E o streaming está intimamente ligado à profusão de telas do mundo atual. “Hoje mais de 5 bilhões de telas iluminam nossas vidas”, diz Kelly. Essa profusão de telas, diz Kelly, vai nos transformar. Em vez de sermos a civilização do livro, seremos o povo da tela.

Mas o problema com essas escalas imaginárias é que as tendências, com frequência, param no meio do caminho. Alguns anos atrás, considerava-se que trabalhar em casa era uma tendência inexorável, assim como o esvaziamento das cidades e o escritório sem papel. Os movimentos foram revertidos.

No entanto, Kelly tem uma crença inabalável de que tudo o que for inventado será para melhor. Que, na conexão absoluta, descobriremos novas facetas do ser humano. Pode ser. Mesmo que não seja verdade, se não estivermos satisfeitos sempre podemos inventar outras coisas para mudar o rumo das coisas. Sempre podemos mudar o futuro.

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