Serra Gaúcha: melhor lugar para fazer espumantes

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espumante champagne taça (Getty Images/DNY59)

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Produtores apostam na "safra das safras" do espumante brasileiro em 2023

Colheita das uvas no Rio Grande do Sul surpreende e teste final será feito nos próximos meses, com a vinificação

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Produtores apostam na "safra das safras" do espumante brasileiro em 2023

Colheita das uvas no Rio Grande do Sul surpreende e teste final será feito nos próximos meses, com a vinificação

espumante champagne taça (Getty Images/DNY59)

Por Gilson Garrett Jr.

Publicado em 15/02/2023, às 12:12.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:37.

Serra Gaúcha: melhor lugar para fazer espumantes

"A Serra Gaúcha é um dos melhores lugares do mundo para fazer espumantes, ao lado de Champagne, na França". A frase é do francês Philippe Mével, enólogo-chefe da Chandon do Brasil -- pertencente ao grupo de luxo LVMH. Se vocação para produzir bebidas com alta qualidade a região já tem, 2023 promete ser a 'safra das safras' para os vinhos espumantes nacionais. Para os vinhos tintos, 2020 é o ano que detém este título.

Seja em Bento Gonçalves, Farroupilha, Pinto Bandeira ou mesmo em Garibaldi, enólogos, chefes de cave e empresários que fabricam espumantes na região dizem que o que se viu até agora impressiona: uvas com açúcar na medida (necessário para a fermentação) e levemente mais ácida, o que pode render bebidas com bom tempo de guarda. O teste final será feito nos próximos meses, com a vinificação. As primeiras garrafas chegam no segundo semestre ao consumidor.

Mesmo com desafios no ano passado, com períodos de muito frio - o que atrasou o processo de formação das plantas -, o calor e pouca umidade nos meses de dezembro e janeiro compensaram o tempo de maturação fazendo com que as uvas colhidas até agora tenham qualidade e volume superiores aos de anos anteriores.

Conta a favor da aposta da 'safra das safras' do espumante brasileiro o fato de, nos últimos seis anos, as safras também terem sido as melhores registradas na série histórica. Isso porque geralmente na 'receita' dos espumantes -- diferentemente dos vinhos tintos -- não estão uvas de uma única safra, mas sim uma mistura de vários anos. O processo é feito para garantir uma qualidade uniforme ao produto, chamado de não safrado. Dessa forma, o espumante nacional de 2023 contará com uvas de excelente qualidade -- da última safra e das de anos anteriores.

"O período de safra é muito intenso e, neste ano, não foi diferente. É sempre um momento de grande emoção para toda equipe. Certamente, teremos espumantes excepcionais produzidos em 2023”, diz Mével.

A colheita das uvas

Desde janeiro deste ano a colheita das uvas no Rio Grande do Sul está a todo vapor. O ciclo começa com as variedades tradicionais para a fabricação de espumante: as brancas Chardonnay e Riesling Itálico, e a base clássica de grandes espumantes, a Pinot Noir, que tem a casca tinta e o bagaço claro. A partir de fevereiro é a vez das uvas para base de vinhos tintos, o que se segue até março.

A expectativa do setor é de safra recorde. De acordo com dados da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, o ano de 2022 já foi histórico, com mais de 96,5 mil toneladas de uvas destinadas à produção de vinho colhidas no estado. O número foi 400 toneladas superior ao do ano anterior.

"As últimas safras foram todas acima da média em termos de qualidade. Estamos falando desde 2018. A de 2020 foi muito acima média, a 2021 não foi tão boa pra tintos, mas pra espumante foi acima da média também. A de 2023 tem potencial para ser um millesime [garrafa safrada e edição especial feita quando a qualidade da colheita de um ano é excepcional]", diz Gilberto Simonaggio, enólogo e gerente de produção Miolo.

Para se chegar a este resultado de colheitas com melhor qualidade, foram necessários anos de investimento da porteira para dentro, no processo de produção das uvas. Marcio Dallé, gerente de desenvolvido da viticultura da Chandon do Brasil, explica que um grande marco para os espumantes foi a mudança de cultivo latada (aéreo) para espaldeira (corredores laterais) em que a planta fica mais exposta ao sol, aumentando a produção.

"Nós estamos colhendo na safra de 2023 o que plantamos e desenvolvemos em 2003. Estamos fazendo novos testes, com máquinas de colheita, por exemplo, que vamos experimentar por dois anos. Se elas passarem na avaliação, aí sim implementamos em toda a produção", diz.

Uvas brancas: a colheita das uvas para espumantes já foram finalizadas. Foto: Dandy Marchetti / Divulgação.

Brasil tem primeira Denominação de Origem de espumantes

E como resultado desse investimento em qualidade e produção, o Brasil ganhou a primeira Denominação de Origem exclusiva para espumantes do Novo Mundo, recorte que exclui apenas os espumantes feitos na Europa.

A D.O. Altos de Pinto Bandeira fica no Rio Grande do Sul, e abrange 65 km² de área contínua, sendo 76% localizada no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4% em Bento Gonçalves. Dentro da região estão grandes vinícolas como Don Giovanni, Geisse e a Valmarino, que já produzem espumantes sob a nova regra.

O processo para a obtenção da Denominação de Origem levou cerca de uma década e foi conferido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI.

"O que se vê em Champagne, na França, é o que a gente observa aqui. O papel mais importante de uma Denominação de Origem é o norteamento de uma região. Quando um investidor chega na região, ele tem os rumos que deve tomar. Ou seja, o investimento fica mais atrativo", diz Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).

Para o consumidor, o benefício é que ele sabe exatamente que tipo de produto está comprando, e que segue parâmetros específicos de produção e qualidade. Entre as regras que precisam ser cumpridas na D.O. Altos de Pinto Bandeira está a produção de espumantes com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. O sistema de condução precisa ser pelo método espaldeira e a segunda fermentação deve ser feita em garrafa, método chamado de champenoise.

Toda a criação da D.O. Altos de Pinto Bandeira foi feita em conjunto com a Embrapa, Universidade de Caxias do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sebrae, Sicredi e prefeitura de Pinto Bandeira. Para ter o selo no rótulo, os espumantes devem ser aprovados anualmente por um conselho regulador. Os rótulos são degustados às cegas para garantir a isonomia do processo.

No Brasil, existem mais de 30 denominações de origem. Ela se refere a uma localidade específica em que é elaborado um produto, com características encontradas apenas ali e em nenhum outro lugar do mundo. A produção também segue regras muito detalhadas. Além do vinho, o país também tem D.O. de queijo e de café.

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Consumo nacional de vinho aumentou após a pandemia

O confinamento obrigatório por conta da pandemia de covid-19 fez o consumidor brasileiro tomar mais vinho, saindo de 1,8 litro per capito por ano em 2019, para 2,7 em 2022, segundo dados da Uvibra. E quem se beneficiou com este aumento foram justamente os produtores brasileiros.

A venda de vinhos finos (brancos, tintos e rosés) produzidos no Rio Grande do Sul saiu de 22,5 milhões de litros em 2019 para 30 milhões em 2021. Daniel Panizzi, presidente da Uvibra, acredita que a tendência de aumento captada nos últimos anos seja freada daqui para frente com a volta das atividades e da economia.

No entanto, Panizzi afirma que o consumo deve ficar estacionado neste patamar mais elevado ou talvez ter uma leve retração. "Não devemos voltar a números antes de 2020", diz.

Gringos também querem vinhos brasileiros

Não foi só o consumo interno de vinhos (brancos, tintos e rosés) que aumentou nos últimos três anos. As exportações das garrafas produzidas no Rio Grande do Sul chegaram a 53 países e dobraram de volume em 2021, com 8,1 milhões de litros. Em 2022 houve uma queda, para 7,1 milhões.

Já os espumantes brasileiros não perderam a tração e continuam com crescimento nas exportações, com quase 5 milhões de litros vendidos ao exterior no ano passado.

Na avaliação de Daniel Panizzi, da Uvibra, o vinho brasileiro está cada vez mais conhecido internacionalmente por um esforço dos produtores em fazer bebidas de qualidade. Resultado disso foi o recorde de premiações que as garrafas produzidas aqui conquistaram.

Em 2021, foram 414 medalhas, 29% a mais que em 2020, com medalhas em 18 concursos realizados na Argentina, Canadá, Chile, Espanha, França, Grécia, Hungria, Inglaterra, Luxemburgo e Portugal.

O esforço de décadas do setor que está em uma das melhores regiões do mundo para fazer espumantes, ao lado de Champagne, colhe os bons frutos agora em 2023. Na edição de março da Revista EXAME você pode acompanhar mais sobre o assunto no especial CASUAL com as tendências do mercado de vinhos. Assine.

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Créditos

Gilson Garrett Jr.

Gilson Garrett Jr.

Repórter de Casual

Formado pela PUCPR, com especializações em Relações Internacionais, Modelo de Negócios e Mercado de Capitais. Por 9 anos escreveu sobre enogastronomia, cultura e turismo na Gazeta do Povo. Desde 2020 na EXAME, cobre lifestyle.

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