A corrida de São Paulo e as redes sociais
Bruno Covas deve enfrentar Celso Russomanno no segundo turno, mas o atual prefeito pode ser beneficiado na reta final por causa da polarização poítica
Publicado em 17 de outubro de 2020 às, 10h51.
Se tudo ficar como está, teremos o prefeito Bruno Covas contra Celso Russomanno no segundo turno. Nesse cenário, a vantagem é de Covas, que conseguiria a maior parte do voto de centro e esquerda.
Nas últimas duas eleições em São Paulo, Russomanno largou na frente nas pesquisas e esvaziou de tal maneira que nem chegou no segundo turno. Em 2012, o que o afundou foi a ideia estapafúrdia de fazer o transporte público mais caro para quem viaja distâncias maiores; justamente a parte mais pobre da população. Hoje, ele deve tentar ficar o mais calado e vago possível: fala apenas de sua relação com Bolsonaro e de como tem empatia com o cidadão. O apoio de Bolsonaro, somado ao fato de que a população nem percebeu direito que estamos já perto das eleições, ajudam-no a manter-se resiliente.
O primeiro debate dos candidatos foi uma chatice insuportável. Talvez por isso mesmo, os debates seguintes em outras emissoras foram cancelados. O debate não muda nada em si. Mas, em alguns casos, pode ser usado para virar o jogo posteriormente com trechos editados e divulgados nas redes sociais. E, com ou sem debate, as redes continuam aí para quem souber usá-las.
Dois candidatos têm mostrado saber usar as redes sociais da maneira incisiva para se comunicar diretamente com o cidadão que os novos tempos pedem: Arthur do Val e Guilherme Boulos. Temos um filtro mental automático que já desconta todo discurso institucional e da política tradicional; é o que esperamos. Quando um candidato consegue furar isso e se comunica de maneira que parece espontânea (e parecer espontâneo num meme ou na frente de uma câmera exige treino) ele consegue uma vantagem. Não quer dizer que serão bem sucedidos, mas não me surpreenderei se crescerem nas pesquisas.
O objetivo de Arthur do Val é claro: conquistar o voto de centro-direita que agora está com Russomanno e Covas. Com memes - imagens humorísticas com mensagens simples e diretas - e com seu canal de Youtube, ele vem tentando se mostrar como diferente da política tradicional: não usa fundo partidário, economizou verba em seu gabinete, como deputado estadual combateu privilégios da classe política e de sindicatos. A dificuldade é fazer isso sem ter o apoio de Bolsonaro, ao qual Russomanno tenta se colar de todas as maneiras possíveis.
Já Boulos precisa do voto da esquerda para ir ao segundo turno. Por meio de vídeos de perguntas e respostas (ora rebatendo acusações contra si, ora falando de temas leves e pessoais) e visitas às casas de pessoas que entram em contato, Boulos fala diretamente ao eleitor. Na jogada até agora mais ousada de mistura entre o mundo informal das redes e a corrida política, fez uma live em que jogou a febre do momento, Among Us, com outros influenciadores de esquerda.
O maior obstáculo à independência do PSOL costuma ser o PT. Neste ponto, Boulos tem sorte: já escanteou o candidato inexpressivo do PT e agora mira os que ainda não foram para ele. O alvo é Márcio França. Em 2018, como candidato ao governo de SP, França foi o candidato da esquerda contra João Dória. Muitos dos que hoje pensam em votar nele talvez sejam guiados por essa lembrança. Ocorre que ele recentemente tentou até uma aproximação com Bolsonaro, fato que Boulos tenta utilizar para desqualificá-lo perante o eleitor.
Contra qualquer um desses, Covas deve levar vantagem num segundo turno. Ele precisa apenas manter a segunda colocação que sua vitória está quase garantida. Como ocorre em nossos tempos de polarização, os opostos são melhores amigos: a chance de Russomanno ou Arthur do Val é contra Boulos e vice-versa. Com o bolsonarismo em baixa e o PT inexpressivo, pode ser que o centro encontre sua chance. Seja como for, a cada nova eleição as redes sociais terão mais força. Quem não souber usá-las é carta fora do baralho.