Ciência

Vírus ameaça botos no Rio e 148 já morreram

Só na quinta-feira (4) foram achados quatro animais mortos e o fenômeno intriga especialistas, que se preocupam com a preservação da espécie

Botos-cinza: 60 botos foram encontrados mortos em menos de 30 dias em Ilha Grande (Instituto Boto Cinza/Divulgação)

Botos-cinza: 60 botos foram encontrados mortos em menos de 30 dias em Ilha Grande (Instituto Boto Cinza/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 09h08.

Rio - Um vírus pode ser o causador da mortandade fora do comum de botos-cinza (Sotalia guianensis) nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba, no litoral do Rio. Só nesta quinta-feira, 4, foram achados quatro animais mortos. Desde novembro, 148 desses cetáceos morreram na região - o número equivale a quase 10% dessa população. O fenômeno intriga especialistas, que se preocupam com a preservação da espécie, classificada como vulnerável.

O problema começou a ser detectado na Baía da Ilha Grande. Ali, cerca de 60 botos foram encontrados mortos em menos de 30 dias, entre novembro e dezembro. A média de mortes da espécie na região para o mesmo período em anos anteriores era de apenas um indivíduo.

Em seguida, o problema começou a ser detectado na Baía de Sepetiba, onde 88 mortes foram relatadas nos últimos 20 dias. As carcaças estão sendo levadas para o Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Maqua/Uerj), onde passam por necropsia.

"Chama a atenção a presença de um agente infeccioso, um vírus da família dos paramixovírus, que, embora só tenha sido detectado uma vez no Brasil, é relacionado à mortalidade em massa de cetáceos em vários lugares do mundo", explicou o veterinário Elitieri Santos Neto, do Maqua/Uerj. O vírus não põe em risco a saúde humana.

Amostras biológicas foram enviadas para o Laboratório de Patologia Comparada de Animais Selvagens da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). Ali, o sequenciamento genético do vírus está sendo feito e especialistas esperam determinar qual microrganismo está atacando os animais e sua procedência.

A fragilidade dos animais, no entanto, não é recente. "Nos últimos dez anos, temos notado muitas lesões na pele dos golfinhos, um problema geralmente relacionado à baixa imunidade", explicou o biólogo Leonardo Flach, do Instituto Boto-Cinza, que monitora há 20 anos os golfinhos da Baía de Sepetiba.

"Os animais estão cada vez mais magros. Nos últimos dois anos, registramos aumento do número de portos na região, de ruídos sonoros, de derrame de produtos químicos - são mais de 400 indústrias. Isso provoca estresse no animal, reduzindo sua imunidade", explicou Flach. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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