Último surto de febre amarela no Brasil se originou em macacos, diz estudo
Pesquisadores também sequenciaram 62 genomas de febre amarela em humanos infectados e primatas dos estados brasileiros mais afetados
EFE
Publicado em 26 de agosto de 2018 às 10h00.
Última atualização em 26 de agosto de 2018 às 10h00.
O maior surto de febre amarela no Brasil nas últimas décadas, com mais de 2 mil casos confirmados e 676 mortes entre dezembro de 2016 e março de 2018, se originou em primatas não humanos em áreas de floresta e depois foi transmitido às pessoas, segundo um estudo publicado na última quinta-feira (23) na revista científica "Science".
Para compreender como o surto começou, a equipe liderada por Nuno Faria, da Universidade de Oxford, analisou dados epidemiológicos, espaciais e genômicos da região, e os comparou com uma série de casos confirmados em pessoas e primatas não humanos em um período específico de tempo.
Os pesquisadores descobriram que havia uma diferença de quatro dias nos casos de infecção em humanos em comparação com os primatas e que o risco de febre amarela era maior para as pessoas que residiam ou trabalhavam em áreas de floresta, onde os mosquitos que geralmente picam os macacos podem morder e transmitir o vírus para os humanos.
Os resultados foram "surpreendentes", apontou Faria, que explicou que, em áreas próximas à origem do surto, 85% dos casos foram em homens, que estão mais suscetíveis a entrar em áreas remotas de floresta que as mulheres.
Os pesquisadores também sequenciaram 62 genomas de febre amarela em humanos infectados e primatas dos estados brasileiros mais afetados pelo surto, comparando estes genomas com os divulgados anteriormente.
Os dados sugerem que o surto de 2017 foi provavelmente causado por uma cepa introduzida a partir de uma área endêmica, possivelmente na região do norte ou centro-leste do Brasil, mais do que pelo ressurgimento de uma linhagem que tinha persistido no estado de Minas Gerais, como outros relatórios tinham indicado.
Embora a epidemia tenha provavelmente começado em primatas não humanos, a propagação do vírus "parece ter sido ajudada pela atividade humana", por exemplo, pelo transporte de mosquitos infectados em veículos e pelo comércio ilegal de animais silvestres, especificamente macacos, de acordo com os autores.
Apesar de existir uma vacina efetiva contra a febre amarela, o vírus causa entre 29 mil e 60 mil mortes anualmente na América do Sul e na África, as duas regiões mais afetadas pela doença.