‘Oumuamua: pintura do cientista William Hartmann mostra o objeto como um disco em forma de panqueca (William Hartmann/Reprodução)
Laura Pancini
Publicado em 17 de março de 2021 às 10h09.
Última atualização em 17 de março de 2021 às 16h47.
Em 2017, um observatório astronômico no Havaí encontrou o primeiro objeto interestelar a visitar nosso sistema solar. Apesar de parecer um cometa, ele tinha características peculiares que deixaram os cientistas sem saber como definir este mistério, futuramente nomeado de "'Oumuamua", que significa "batedor" ou "mensageiro" em havaiano.
Dois astrofísicos da Universidade do Estado do Arizona, Steven Desch e Alan Jackson, decidiram tentar resolver esta incógnita, que já foi até considerada por alguns como uma peça de tecnologia alienígena e uma prova de que existe vida fora da Terra.
Os pesquisadores publicaram seu artigo no AGU Journal of Geophysical Research: Planets e determinaram que o 'Oumuamua é provavelmente um pedaço de um planeta semelhante a Plutão, mas inúmeros fatores foram analisados antes desta conclusão.
Para determinar suas características, Desch e Jackson primeiramente analisaram a velocidade do objeto misterioso. Ele apareceu no nosso sistema solar em uma velocidade menor do que esperada, o que significa que não viajou por mais de um bilhão de anos.
Seu tamanho e formato de panqueca também intrigaram os pesquisadores, porque nada parecido havia sido visto antes. Ele também não tinha nenhum gás visivelmente escapando, comum na cauda de cometas.
Outro fator misterioso foi que o objeto fez o "efeito de foguete", também comum em cometas, que é um empurrão natural para longe do Sol quando a luz solar vaporiza os gelos que o compõe. Porém, o impulso foi mais forte do que deveria ser. Ao todo, ele era semelhante a um cometa, mas diferente do que qualquer um já observado.
Com todas essas características intrigantes, os pesquisadores levantaram a hipótese de que o 'Oumuamua era feito de gelos diferentes. Eles começaram a calcular a velocidade que os gelos passariam de sólido para gás perto do Sol para tentar resolver o mistério do "efeito foguete" e descobrir a massa e forma do objeto.
"Foi um momento emocionante para nós", disse Desch. "Percebemos que um pedaço de gelo seria muito mais reflexivo do que as pessoas estavam presumindo, o que significava que poderia ser menor. O mesmo efeito de foguete daria a 'Oumuamua um empurrão maior, maior do que os cometas geralmente experimentam."
Logo depois, Desch e Jackson descobriram que o nitrogênio sólido correspondia a todas as características do objeto. Eles também lembraram que esse tipo de gelo é comum na superfície de Plutão, então o objeto poderia ser do mesmo material.
"Provavelmente foi arrancado da superfície por um impacto há cerca de meio bilhão de anos e expulso de seu sistema original", disse Jackson. "Ser feito de nitrogênio congelado também explica a forma incomum de 'Oumuamua. À medida que as camadas externas de gelo de nitrogênio evaporavam, a forma do corpo teria se tornado progressivamente mais achatada, assim como uma barra de sabão faz quando as camadas externas são removidas por meio do uso. "
Com o mistério solucionado, os cientistas tiveram a oportunidade de aprender um pouco mais sobre planetas fora do nosso sistema solar.
"Esta pesquisa é empolgante porque provavelmente resolvemos o mistério do que é 'Oumuamua e podemos identificá-lo razoavelmente como um pedaço de um "exo-Plutão", um planeta semelhante a Plutão em outro sistema solar", disse Desch. "Até agora, não tínhamos como saber se outros sistemas solares tinham planetas semelhantes a Plutão, mas agora vimos um pedaço de um passar pela Terra."