Alexei Navalny: Alemanha diz que opositor de Putin foi envenenado por substância tóxica desenvolvida na URSS (Shamil Zhumatov/Reuters)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 18h10.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 18h24.
Em 2018, o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha foram descobertos inconscientes em um banco de um parque na Inglaterra. A polícia confirmou que eles haviam sido envenenados por uma substância chamada novichok, que é uma neurotoxina. Nesta quarta-feira, 2, o governo da Alemanha informou que Alexei Navalny, opositor russo, também sofreu envenenamento pela mesma substância.
Por meio de amostras de sangue e testes toxicológicos, foi comprovado que Navalny havia sido envenenado pela neurotoxina. A evidência foi confirmada por Steffen Seibert, porta-voz do governo alemão, para a imprensa. “O governo federal vai notificar os resultados da investigação a seus parceiros na União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte e discutir uma resposta em conjunto”, afirmou Seibert.
Um porta-voz da Rússia informou, no entanto, que a Alemanha não divulgou os resultados do exame de toxicologia de Navalny. O opositor de Vladimir Putin, atual presidente russo, ficou inconsciente enquanto estava em um avião que o levaria para Moscou no final de agosto. O piloto realizou, então, um pouso emergencial e levou Navalny para um hospital na Sibéria, onde foi internado.
Embora médicos locais não tenham identificado algum veneno no corpo de Navalny, ele acabou sendo transferido para o hospital de Charité, na Alemanha, onde foram realizados os testes que evidenciam a presença de substâncias químicas na vítima.
A substância neurotóxica novichok, que significa "novato" em russo, nasceu como uma arma química criada pela União Soviética entre as décadas de 1960 e 1970. Descoberta pelo químico Vil Mirzayanov apenas em 1990, a droga é considerada mais tóxica do que substâncias de natureza similar e podem existir diversas variantes.
Enquanto alguns agentes novichoks podem ser líquidos - que é o que acreditam ser o caso de Navalny, que teria ingerido a substância por meio de um chá -, outros podem ser sólidos e transformados em pó solúvel.
Por terem mais potencial tóxico do que uma substância neurotóxica comum, os agentes surtem efeito em um período de meia hora a duas horas. O agente causa mais danos se for por inalação como por contato com a pele, mas também pode ser ingerido de forma líquida.
Entre os sintomas da substância, estão a dilatação das pupilas, convulsões e vômitos - que, se mais frequentes, podem causar a morte. Para a imprensa, Mirzayanov comentou que o procedimento imediato é retirar as roupas do infectado e lavar a pele com água e sabão, para depois lhe dar oxigênio.
Embora os russos não confirmem envolvimento nos casos de Skripal e Navalny, Mirzayanov acredita que o país esteja por trás dos casos. O porta-voz da Rússia na Organização das Nações Unidas alega, porém, que o desenvolvimento de agentes nervosos foi descontinuado em 1992 e todo o estoque foi destruído.