Ciência

O fenômeno "hipóxia feliz" está atrasando o diagnóstico de covid-19

Médicos relatam que número de pacientes com baixos níveis de oxigênio e sem sintomas aparentes de coronavírus cresce

Hipóxia feliz: condição faz com que indivíduos infectados não apresentem sintomas de coronavírus (dowell/Getty Images)

Hipóxia feliz: condição faz com que indivíduos infectados não apresentem sintomas de coronavírus (dowell/Getty Images)

ME

Maria Eduarda Cury

Publicado em 5 de maio de 2020 às 05h55.

Última atualização em 5 de maio de 2020 às 08h55.

Durante o tratamento de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, cientistas identificaram um fenômeno em indivíduos com níveis de oxigênio muito baixos. Enquanto hospitalizados, os infectados pareciam estar confortáveis em sua condição, e também não apresentaram problemas para falar normalmente. A condição recebeu o nome de "hipóxia feliz" ou "hipóxia silenciosa".

Publicado no British Journal of Anaesthesia, o artigo explica que, embora a condição possa ser subjetiva, ela está sendo identificada com um possível padrão clínico comum - diversos profissionais da saúde estão relatando a experiência com seus pacientes.

Na grande maioria dos casos, os médicos acreditavam que o nível de oxigênio dos pacientes estava normal - afinal, apresentavam sinais de pessoas saudáveis, o que acabou causando confusão e atraso nos diagnósticos.

Quando testados, porém, os pacientes registraram um nível de oxigênio geralmente igual ou inferior a 50%, o que é entendido como um cenário extremamente baixo.

Em alguns pacientes, os testes indicaram um nível de 80% a 70% e, nesses casos, o esperado seria um sofrimento notável - o que não acontecia, visto que os infectados andavam e falavam como indivíduos que não estavam com o vírus. 

Jonathan Bannard-Smith, médico da Enfermaria Real de M anchester, no Reino Unido, disse ao jornal britânico The Guardian que a condição é mais profunda do que aparenta. “É intrigante ver tantas pessoas entrando, quão hipóxicas elas são. Estamos vendo saturações de oxigênio muito baixas e elas não sabem disso. Normalmente, não vemos esse fenômeno na gripe ou na pneumonia adquirida na comunidade. É muito mais profundo e um exemplo de fisiologia muito anormal acontecendo diante de nossos olhos.", disse o consultor e anestesista. 

Embora o mecanismo que cause isso ainda não tenha sido identificado, cientistas acreditam que a doença possa estar bloqueando a capacidade do organismo de detectar níveis crescentes de dióxido de carbono. Isso significa que o corpo do indivíduo não entende que seus níveis de oxigênio estão baixos e, portanto, não age como tal.

Esse fenômeno, ainda pouco investigado, representa um perigo para os pacientes. Em caso de não tratamento ou não identificação do problema, o paciente pode vir a entrar em um estado de choque, o que piora seu caso de saúde. Mais pesquisas sobre o tratamento da "hipóxia feliz" são necessários, para que indivíduos com o vírus mas sem aparentes sintomas também recebam os cuidados necessários. 

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusMédicosPesquisas científicas

Mais de Ciência

Beber água em excesso pode ser perigoso, dizem pesquisadores

Fóssil de braço revela detalhes sobre evolução dos 'Hobbits' da Indonésia

NAD+: o suplemento que conquista celebridades e desperta dúvidas

Lesma de 500 milhões de anos pode explicar origem dos moluscos

Mais na Exame